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Harter, do Gallup: Emprego x felicidade

Camila Almeida Na última sexta-feira, a divulgação do relatório mensal de emprego nos Estados Unidos foi motivo para o presidente Donald Trump dar pulinhos de alegria. A taxa de desemprego caiu e chegou a 4,7% em fevereiro. Houve uma onda de novas contratações: em apenas um mês, 235.000 novas vagas foram criadas. A previsão do […]

JIM HARTER: Especialista fala sobre a insatisfação crônica dos americanos com seus trabalhos / Divulgação
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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2017 às 14h11.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h21.

Camila Almeida

Na última sexta-feira, a divulgação do relatório mensal de emprego nos Estados Unidos foi motivo para o presidente Donald Trump dar pulinhos de alegria. A taxa de desemprego caiu e chegou a 4,7% em fevereiro. Houve uma onda de novas contratações: em apenas um mês, 235.000 novas vagas foram criadas. A previsão do banco central americano é de que, nesse ritmo, o PIB do país cresça 2,1% este ano – acima do avanço de 1,8% que é considerado sustentável.

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O problema é que, lá, emprego não traz felicidade. Os trabalhadores estão infelizes, desmotivados e sem engajamento com o serviço que prestam. Uma nova pesquisa do instituto Gallup revelou que 51% da força de trabalho americana está em busca de novas oportunidades. Em entrevista a EXAME Hoje, PhD em economia e pesquisador chefe de ambiente de trabalho e bem-estar do Gallup, falou sobre o que buscam os americanos e a necessidade de uma mudança urgente na gestão de talentos dentro das empresas, para evitar pedidos de demissão em massa.

Por que as pessoas estão tão preocupadas com emprego nos Estados Unidos se o desemprego é tão baixo?

Principalmente porque as pessoas estão procurando novas oportunidades. Com a tecnologia, as pessoas têm muito mais conhecimento das oportunidades disponíveis do que no passado. Mais de 30% da população mudou de emprego nos últimos três anos. O desemprego continua caindo, mas as pessoas continuam procurando e mudando de emprego. Nós vimos uma grande mudança em termos de expectativas, em relação ao que as pessoas querem do trabalho que elas fazem. Essa nova geração de trabalhadores quer um trabalho com propósito. Eles não querem só um emprego, eles querem uma carreira. A busca por crescimento profissional é a principal razão pela qual as pessoas estão mudando.

A pesquisa mostra que 51% dos trabalhadores está em busca de uma nova oportunidade. Por que falta engajamento e motivação? As pessoas não estão se sentindo valorizadas como deveriam?

A forma como o gerenciamento tem performado nas empresas é muito crítica. Muitas empresas não são boas em recepcionar os funcionários que chegam. Eles ficam ser saber como o trabalho deles pode ser valioso, como eles vão poder construir uma carreira dentro da organização. Não veem onde estarão no futuro. Quando as pessoas mudam em busca de desenvolvimento de carreira, isso significa que elas estão atrás de realizar aquilo que elas fazem melhor. Os empregadores precisam reestruturar o ambiente de trabalho para manter essas pessoas. Elas querem um trabalho onde eles possam usar suas forças, eles querem um trabalho que se conecte com suas vidas. Dois terços dos profissionais com ensino superior acreditam que são super-qualificados para o trabalho que exercem. Uma das soluções para isso é criar espaço para que as tarefas do profissional tenham a ver com suas habilidades naturais e talentos. Há um desalinhamento entre a formação e as exigências.

Pesquisas mostram que os millenials – nascidos entre as décadas de 1980 e 1990 – estão recebendo menos dinheiro que as gerações passadas. Salário também pesa nessa insatisfação?
O motivo número dois pelo qual as pessoas estão mudando de emprego é salário. É um fato. Com o advento da tecnologia oferecendo um catálogo de oportunidades, as empresas estão sendo forçadas a serem mais competitivas, se quiserem manter as pessoas mais talentosas. O salário só é usado como pretexto se as pessoas não se sentem plenas no trabalho que realizam. Um dos desafios do mundo dos negócios agora é treinar os gerentes para que eles estejam aptos a engajar os funcionários, e saber identificar os pontos altos de cada um deles. Hoje, 38% da força de trabalho americana é composta por millenials, e deve subir para a metade nos próximos anos. É uma força de trabalho muito mais diversa, inclusive em termos raciais – os millenials dobraram a diversidade em relação à geração dos baby boomers. É uma força de trabalho mais jovem, e com distribuição étnica diferente. São novas demandas.

Donald Trump tem defendido que vai criar trabalhos para baixa renda, especialmente com seu plano para a infraestrutura. Como ele pode promover esses trabalhos se as pessoas já estão se sentindo qualificadas demais?

Eu não posso falar pelo presidente, mas eu acho que a teoria é de que ainda há pessoas para preencher essas vagas, especialmente dentre aquelas que não têm formação superior. Além disso, muitos desses trabalhos vão exigir a criação de vagas mais especializadas, como para engenheiros, por exemplo. Mas essa é uma questão difícil, para a qual não temos a resposta ainda.

Essas oportunidades melhores que os trabalhadores qualificados estão buscando de fato existem? O mercado americano tem estrutura para receber todos esses profissionais especializados, que não se sentem contemplados no trabalho?

A questão deve ser se essas oportunidades vão existir no futuro. Os negócios estão mudando. Mas a solução mais imediata para o problema do sentimento de super-qualificação tem a ver com gestão. O ponto não é sobre a educação combinar exatamente com as tarefas. Os gerentes têm que se tornar treinadores, ajudar seus funcionários a fazer o que eles fazem de melhor. Muita gente saiu da faculdade sem saber direito o que quer fazer, ou até mesmo está em busca de um trabalho que tem relação direta com sua formação. O importante é que o trabalho foque as habilidades naturais: o funcionário é bom em lidar com pessoas, é analítico ou tem habilidade para coordenação de equipes? Quando as expectativas desses trabalhadores modernos são atendidas, e isso verificamos na nossa pesquisa, uma porcentagem muito menor se diz super-qualificada.

A superação da crise de 2008 tem a ver com esse sentimento? Agora que a crise passou, as pessoas acreditam que podem arranjar um emprego melhor?

Acho que a crise mudou muitas coisas. Houve um período de insegurança, com as organizações tendo que repensar as estruturas. Olhando para os dados de engajamento, não houve grandes mudanças de 2007 para cá. Porque não tem a ver com a economia. Tem a ver com os líderes sabendo ou não definir prioridades, identificando as expectativas dos funcionários e reconhecendo seu valor. Isso pode acontecer independentemente do tempo econômico. Mas certamente tem um crescimento da confiança no mercado de trabalho. As pessoas se sentem muito cientes das oportunidades que existem lá fora e vão ser muito mais seletivas em relação aos trabalhos que vão escolher.

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