Mundo

Há 30 anos, a cortina de ferro da União Soviética começava a cair

Em 19 de agosto de 1989, mais de 600 moradores da Alemanha Oriental fugiram em direção ao ocidente; era o começo do fim para o bloco socialista

Cortina de ferro: cercas sendo desmontadas na fronteira da Áustria com a República Tcheca, em 1989 (Chip HIRES/Getty Images)

Cortina de ferro: cercas sendo desmontadas na fronteira da Áustria com a República Tcheca, em 1989 (Chip HIRES/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 19 de agosto de 2019 às 11h51.

Última atualização em 19 de agosto de 2019 às 12h04.

A Cortina de Ferro designa a separação, primeiro ideológica e depois física, estabelecida na Europa após a Segunda Guerra Mundial entre a zona de influência soviética no leste e os países do Oeste. A barreira caiu em 1989 com o Muro de Berlim.

A metáfora foi popularizada pelo britânico Winston Churchill. "De Stettin, no Báltico, a Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente", declarou em 5 de março de 1946 em um discurso nos Estados Unidos.

A autoria é atribuída ao escritor russo Vasili Rozanov, que a utilizou em 1918 a propósito da revolução bolchevique em seu livro "O apocalipse de nosso tempo": "Com um ruído, um clique e um grunhido, uma cortina de ferro desceu sobre a história da Rússia".

A cortina de ferro entre a Europa comunista e o Ocidente, concebida pelos dirigentes soviéticos para bloquear a ideologia ocidental, se materializou de forma gradual para conter a fuga de cidadãos para o Oeste.

A barreira, construída a partir de 1949 pela Hungria, e depois pelos demais países comunistas, era formada por cercas de arame farpado, valas, construções de cimento, alarmes elétricos, instalações automáticas de tiro ou minas, que seguiam por milhares de quilômetros.

Em 19 de agosto de 1989, há 30 anos, mais de 600 alemães do leste, de férias na Hungria, aproveitaram a abertura de um posto de fronteira com a Áustria por ocasião de um piquenique pan-europeu para fugir em direção ao Ocidente, o primeiro êxodo em massa do tipo desde 1961.

O Muro de Berlim

Na Alemanha Oriental, os dirigentes comunistas decretaram em 1952 uma zona de proibição de 10 metros de largura ao longo da fronteira com a Alemanha Ocidental, com cercas de arame farpado e postos de vigilância.

Mas o dispositivo tinha uma falha: Berlim ficou dividida em duas partes - uma sob controle soviético e outra ocidental - entre as quais era possível circular sem grande dificuldade. Quase três milhões de pessoas encontraram refúgio na República Federal da Alemanha (RFA, Ocidental) através de Berlim Oeste entre 1952 e 1961, após a fuga da República Democrática de Alemanha (RDA, Oriental).

O regime alemão obteve a aprovação de Moscou para construir o Muro de Berlim em 1961, apresentado como uma "muralha antifascista".

O muro, limitado ao leste por uma terra de ninguém, media 155 quilômetros (43 km dividiam Berlim em duas partes, de norte a sul, e 112 isolavam Berlim Ocidental do território da RDA). Era composto essencialmente de concreto armado e em algumas partes por cercas de metal.

Passagem arriscada para o Ocidente

As estadias na parte Ocidental de cidadãos do leste europeu eram autorizadas sob condições rígidas.

Os candidatos ao exílio corriam muitos riscos. Entre 600 e 700 pessoas, de acordo com os historiadores, morreram em tentativas de fuga do regime da Alemanha Oriental.

Apenas o Muro de Berlim provocou ao menos 136 mortes. Quase 5.000 pessoas conseguiram superar a barreira, em alguns casos usando estratégias criativas.

Uma família escapou do telhado de um prédio, graças a uma tirolesa conectada a parentes que esperavam por eles do outro lado do muro. Outros fugiram a nado pelo Spree, o rio que atravessa Berlim, ou por túneis ou escondidos em veículos.

 1989, o desmantelamento

Em maio de 1989, a Hungria decidiu abrir sua fronteira com a Áustria, o que significou a primeira brecha na Cortina de Ferro.

Em 19 de agosto, mais de 600 alemães do leste, de férias na Hungria, aproveitaram a abertura de um posto de fronteira com a Áustria por ocasião de um piquenique pan-europeu para fugir em direção ao Ocidente, o primeiro êxodo em massa do tipo desde 1961.

Os regimes comunistas do leste da Europa começaram a cair e a URSS, então governada por Mikhail Gorbachov, decidiu não intervir. A RDA registrou manifestações sem precedentes.

Em 9 de novembro, um alto funcionário do governo da Alemanha Oriental foi surpreendido ao ser questionado sobre a data de entrada em vigor dos novos direitos de circulação para os alemães do Leste. "Que eu saiba, imediatamente", balbuciou diante da imprensa.

A resposta provocou o deslocamento de milhares de berlineses do Leste em direção aos postos de controle, onde os guardas, confusos, terminaram por levantar as barreiras.

Durante a noite, os moradores da cidade, eufóricos, celebraram o acontecimento em cima do muro, que começou a ser destruído. Nos dois anos seguintes, a URSS entrou em colapso.

Acompanhe tudo sobre:CapitalismoComunismoEuropaRússia

Mais de Mundo

Chanceler diz que mandado de prisão de Netanyahu é “ataque” e ministro chama ação de "antissemita"

Acordo UE-Mercosul: Alemanha faz novos gestos para defender acordo, e França tenta barrar

Rússia afirma que base antimísseis dos EUA na Polônia já é um de seus alvos

Bilionário indiano é acusado de esquema de suborno envolvendo mais de R$ 1 bi nos EUA