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Guerras acabam, mas deixam 'fantasma' tóxico — e ele é cruel

Poluição química não diferencia entre aliados e inimigos, afetando principalmente inocentes: as crianças. Seus efeitos são bárbaros


	Ameaça: explosão de bombas, munições e outros artefatos bélicos libera uma carga indigesta de contaminantes em zonas de guerra.
 (Getty Images)

Ameaça: explosão de bombas, munições e outros artefatos bélicos libera uma carga indigesta de contaminantes em zonas de guerra. (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 28 de agosto de 2016 às 08h16.

São Paulo - Dentre as inúmeras consequências nefastas de uma guerra, que vão da perda de milhares de vidas aos imensos danos materiais e econômicos, existe uma bem silenciosa e com efeitos cruéis: a contaminação do meio ambiente. Seu legado? Recém-nascidos com graves defeitos congênitos e crianças e jovens com câncer e níveis perigosos de metais pesados e neurotóxicos no corpo, como chumbo, mercúrio e titânio.

A explosão de bombas, munições e outros artefatos bélicos em zonas de guerra libera uma carga indigesta de múltiplos compostos tóxicos no meio ambiente, que afetam não apenas aqueles diretamente visados ​​pelos bombardeios, mas também as pessoas que vivem perto de bases militares.

Em meio à escalada dos conflitos na Síria, que já se estendem por cinco anos, ainda é cedo para avaliar o escopo completo de seus efeitos sobre a saúde humana e ambiental. Seu legado tóxico, porém, já está sendo escrito.

Estudo recente publicado na revista científica Monitoramento e Avaliação Ambiental observa uma relação entre a ocorrência de conflitos bélicos e o aumento dos níveis de metais pesados nos decíduos, mais conhecidos como dentes de leite, das crianças.

No Iraque, que foi palco de uma grande guerra entre 2003 e 2011, as crianças com defeitos de nascimento apresentam níveis extremamente elevados de chumbo nos dentes: de quatro a 50 vezes mais que os níveis observados nas amostras de crianças do Líbano e Irã, de acordo com a pesquisa.

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O resultado acende um alerta vermelho para os efeitos das guerras sobre as populações civis, especialmente no Oriente Médio, tão maltratado por conflitos e bombardeios massivos. Só em 2015, os EUA lançaram mais de 23.000 bombas na região, a maior parte na Síria.

Apesar da intensificação desses eventos pelo mundo, são poucas as pesquisas sobre os efeitos das guerras e das diversas armas utilizadas, o que torna de grande valia a pesquisa em questão.

Fogueiras tóxicas

A pesquisa também chama atenção para os riscos de uma prática comum em zonas de guerra: a queima irregular a céu aberto de resíduos militares, pneus, solventes químicos, carcaças de animais, dejetos humanos e o que mais for considerado "lixo", misturados com combustível de jatos.

Essas fogueiras chegam a queimar 24 horas por dia, sete dias por semana, sem parar, deixando um rastro tóxico de poluição no ar, que não encontra fronteiras, o que implica uma exposição pública generalizada.

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Em reportagem sobre o assunto, o jornal britânico The Guardian observa que a pesquisa sobre os níveis de contaminação no Iraque corroboram os milhares de relatos sobre problemas de saúde de ex-soldados americanos que lutaram naquele país.

O jornal destaca que mais de 85.000 veteranos de guerra dos EUA assinaram um documento enviado ao governo dizendo que foram diagnosticados com problemas respiratórios, câncer, doenças neurológicas e enfisema desde que voltaram do Iraque. Cerca de metade deles afirmam que foram expostos às tais fogueiras de resíduos.

A mensagem é clara, guerras podem acabar, mas seu passivo dificilmente desaparece, e ainda cobra um preço alto. 

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