Guerra Israel-Hamas: bombardeio israelense à cidade de Gaza em 9 de outubro de 2023 (Mahmud HAMS/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 18 de fevereiro de 2024 às 13h37.
As perspectivas de uma trégua entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza enfraqueceram neste domingo, 18, após a ameaça dos Estados Unidos de bloquear uma nova resolução da ONU e o pessimismo de um mediador sobre as possibilidades de um cessar-fogo.
Os esforços para pôr fim aos combates coincidem com a determinação do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de realizar uma incursão em Rafah. Cerca de 1,4 milhão de palestinos estão aglomerados nesta localidade na fronteira com o Egito, a maioria deslocados de outras regiões do pequeno território.
A campanha israelense para "aniquilar" o movimento islamista palestino se aproxima cada vez mais da localidade, o último núcleo urbano ainda não invadido por suas tropas.
Não entrar em Rafah, insistiu Netanyahu no sábado, 17, equivaleria a "perder a guerra" contra o Hamas, considerado organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia. O Ministério da Saúde do Hamas informou neste domingo que 127 pessoas morreram nas últimas 24 horas em Gaza.
Apesar dos apelos internacionais, Netanyahu insistiu que a operação avançará com ou sem acordo com o Hamas para a libertação de reféns.
As últimas negociações não foram "muito promissoras", admitiu no sábado o Catar, mediador do conflito ao lado de Estados Unidos e Egito.
A guerra eclodiu após os ataques de militantes do Hamas, em 7 de outubro, que deixaram 1.160 mortos, em sua maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Os militantes islamistas também sequestraram naquele dia 250 pessoas, das quais 130 permanecem retidas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido, segundo o governo israelense.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já deixou 28.985 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007.
Segundo o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, as negociações se complicaram com a insistência de "muitos países" por uma nova trégua que inclua libertações de reféns.
O Hamas ameaçou suspender sua participação no diálogo se não houver envio de ajuda para o norte de Gaza, onde ONGs advertem para uma crise de fome iminente.
O Conselho de Segurança da ONU pode votar na próxima semana uma resolução para um "cessar-fogo humanitário" em Gaza, embora os Estados Unidos anteciparam que devem bloquear a iniciativa.
"Caso ocorra a votação, da forma como está redigida, não será aprovada", advertiu a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield.
O projeto, apresentado pela Argélia, busca um cessar-fogo imediato. Os Estados Unidos apoiam uma trégua para libertar os reféns e que interrompam os combates durante seis semanas.
A Argélia iniciou os debates sobre esta nova resolução após a Corte Internacional de Justiça determinar, no final de janeiro, que Israel deveria impedir qualquer ato de "genocídio" em Gaza.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Israel não faz o suficiente. O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é "uma guerra, mas um genocídio", declarou Lula à imprensa em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou da cúpula da União Africana.
Em um necrotério em Rafah, um grupo se despedia de um ente querido. "É meu primo, foi morto em Mawasi, na 'zona de segurança'", declarou Ahmad Muhammad Aburizq.
O Egito teme que uma ofensiva em Rafah desencadeie um êxodo de palestinos a seu território. Por telefone, o presidente egípcio Abdel Fattah al Sissi e seu homólogo francês Emmanuel Macron concordaram que obrigar os habitantes de Gaza a cruzarem para o Egito seria "uma violação do direito internacional humanitário" e aumentaria os riscos "de uma escalada regional".
O Exército israelense informou neste domingo que bombardeou "infraestruturas terroristas" do movimento islamista Hezbollah, apoiado pelo Irã, no sul do Líbano.
O Ministério de Saúde da Autoridade Palestina informou que, também neste domingo, as forças israelenses mataram dois homens de 19 e 36 anos no campo de Tulkarem, na Cisjordânia ocupada, onde vivem mais de 27.000 refugiados palestinos. Ao menos outras cinco pessoas ficaram feridas nessa operação, informou o Crescente Vermelho Palestino.
O Exército israelense indicou que a operação buscava um homem suspeito de ter "participado em ataques contra suas forças e de assassinar possíveis colaboradores em Tulkarem".
O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que a situação na região representa um obstáculo para a paz.
"A Cisjordânia é o verdadeiro obstáculo para a solução de dois Estados", declarou Borrell na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, insistindo que a UE deve "apoiar a iniciativa árabe" de criar um Estado palestino, tanto na Cisjordânia como em Gaza.
A operação do Exército israelense continuou neste domingo no hospital Nasser, em Khan Yunis, informaram os militares. Seis pacientes, entre eles uma criança, morreram devido a cortes de eletricidade no hospital, segundo o Hamas.
O movimento islamista também indicou que "70 profissionais de saúde foram presos" junto com "dezenas de pacientes acamados" e levados para um "local desconhecido".