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Guerra na Síria está criando uma geração com problemas mentais

Relatório aponta que uma em cada quatro crianças sírias corre risco de desenvolver distúrbios psicológicos

Síria: o constante estado de medo vivido pelos pequenos pode ser maléfico para o desenvolvimento do cérebro deles - uma a cada quatro crianças corre o risco de desenvolver distúrbios psicológicos (Baraa al-Halabi/AFP/AFP)
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Da Redação

Publicado em 22 de março de 2017 às 18h01.

Há 6 anos, crianças sírias convivem com uma guerra intermitente.

Viram bombas, tiros e a morte diante dos próprios olhos.

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Perderam familiares, amigos, casa e escola.

Assistiram suas cidades serem destruídas e a vida como conheciam imergir em escombros.

A brutalidade do conflito não respeita classificação indicativa e, não à toa, já é possível notar os reflexos da violência na saúde das crianças sírias: uma geração traumatizada vive uma crise de saúde mental.

A organização inglesa Save the Children realizou desde o início da guerra, em 2011, uma grande pesquisa com 450 crianças, pais, professores e psicólogos em sete regiões sírias e alerta que milhões de crianças estão vivendo em estado de “estresse tóxico”.
O relatório Invisible Wounds (Feridas Invisíveis, em tradução livre), divulgado no início do mês, estima que três milhões de crianças sírias com menos de seis anos tenham vivido toda a sua vida em zona de guerra, e que mais de dois milhões de crianças tenham sido obrigados a deixar o país como refugiados.

A pesquisa também frisa que o constante estado de medo vivido pelos pequenos pode ser maléfico para o desenvolvimento do cérebro deles – e irreversível: uma a cada quatro crianças corre o risco de desenvolver distúrbios psicológicos.

A especialista em saúde mental Marcia Brophy afirma no relatório que esse estado de estresse traumático poderia resultar em uma geração inteira de crianças com distúrbios mentais e propensas a vícios na vida adulta.

Se o estresse tóxico não for tratado corretamente, pode aumentar o risco de suicídio, depressão, doenças cardíacas e diabetes a longo prazo.

Ao longo do estudo, muitos entrevistados de até 12 anos demonstraram aumento nas autoagressões e nas tentativas de suicídio.

Metade dos adultos contam ter visto crianças perderem habilidades de comunicação, como a capacidade de falar, e 59% conhecem crianças ou adolescentes que entraram em grupos armados.

Outras crianças reportaram estar passando por problemas para dormir, com medo de nunca mais acordarem ou tendo pesadelos violentos – 71% estão fazendo xixi na cama, sintoma comum em pacientes com estresse traumático.

A pesquisa também revelou que dois terços das crianças ouvidas pela organização perderam alguém querido no conflito, sofreram ferimentos ou tiveram suas casas bombardeadas.

Metade dos entrevistados contam sentir tristeza e angústia extrema sempre ou durante a maior parte do tempo – sendo que 51% está usando algum tipo de droga para aplacar os efeitos do estresse.

Outro fator que corrobora na preocupação com a saúde mental dos jovens é a falta de escolas: diariamente, em média duas escolas são atacadas na Síria. Levando em consideração que a guerra persiste no país há anos, sobram poucas instituições de ensino.

No ano passado, a Unicef divulgou um relatório em que afirmava que apenas metade das crianças tinham acesso à educação e que 80% dos refugiados não frequentavam a escola.

A Save The Children estima que uma em cada três escolas tenham sido desocupadas no país.

Sendo assim, o acesso a acompanhamento da saúde mental das crianças é inexistente ou muito limitado.

“O risco de uma geração ferida, perdida para o trauma e o estresse extremo nunca foi tão grande”, alerta Marcia Brophy.

Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante .

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