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Governo turco ameaça usar Exército contra manifestantes

Guardião autoproclamado da Turquia laica, o Exército turco interveio por muito tempo na política, principalmente nos golpes de Estado

Simpatizantes do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdoga: de acordo com o último registro do sindicato dos médicos turcos, quatro pessoas morreram e cerca de 7.500 ficaram feridas desde o início da contestação, em 31 de maio. (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2013 às 16h38.

Istambul - O governo turco ameaçou nesta segunda-feira recorrer ao Exército para acabar com o movimento de contestação contra o governo que agita o país há mais de duas semanas, enquanto dois importantes sindicatos turcos iniciaram uma greve geral em apoio aos manifestantes.

Um dia após a demonstração de força do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que reuniu mais de 100 mil partidários, seu vice-primeiro-ministro Bülent Arinç endureceu o tom e ameaçou mobilizar as Forças Armadas para trazer a calma de volta às ruas.

"A polícia usará de todos os meios conferidos pela lei", declarou Arinç, acrescentando: "Se isso não for o suficiente, as Forças Armadas turcas poderão ser utilizadas nas cidades sob a autoridade dos governos" regionais.

Guardião autoproclamado da Turquia laica, o Exército turco interveio por muito tempo na política, principalmente nos golpes de Estado. Ao chegar ao poder, Erdogan minou a hierarquia militar.

Essa advertência foi lançada no momento em que um coletivo de sindicatos, incluindo as duas maiores federações de trabalhadores e funcionários (DISK e KESK), com cerca de 700 mil membros, realizavam uma greve nesta segunda para denunciar a brutalidade das forças de segurança.

Contudo, as organizações mobilizaram apenas algumas milhares de pessoas em Istambul e Ancara.


"Sair às ruas já é um avanço", declarou à AFP um manifestante que se identificou como Kerem. "É a primeira vez que as pessoas saem às ruas sem organização política", acrescentou.

Em Istambul, os manifestantes evitaram entrar em conflito com a polícia, que bloqueia os acessos à Praça Taksim.

Ainda sim, no momento em que os manifestantes começavam a se dispersar, a polícia os atacou com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, ao que os sindicalistas responderam como pedras.

--- Onda de detenções ---

A greve geral foi considerada ilegal pelo ministro turco do Interior, Muammer Güler, que prometeu reprimir as manifestações, depois de um fim de semana marcado por confrontos em várias cidades e que ainda prosseguem de forma esporádica em Istambul.

"Há tentativas de levar pessoas às ruas para ações ilegais, como uma greve", mas as forças de segurança "não vão permitir", afirmou Güler, em declarações à imprensa.

A Polícia evacuou sábado à noite o Parque Gezi e a Praça Taksim de Istambul, epicentro dos protestos que começaram há mais de duas semanas, em meio a violentos confrontos.


Os confrontos continuaram no domingo, com cerca de 600 detidos em Istambul e Ancara, segundo as associações de advogados dessas duas cidades.

Erdogan, no poder desde 2002, justificou a ação policial aos cerca de 100 mil simpatizantes de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) no domingo à noite em Istambul.

"Eu disse que nós tínhamos chegado ao fim. Tinha ficado insuportável. Ontem, a operação foi realizada e (a Praça Taksim e o Parque Gezi) foram limpas (...) Era meu dever de primeiro-ministro", afirmou.

"Não deixaremos essa praça com terroristas", insistiu, referindo-se aos movimentos políticos clandestinos envolvidos nas manifestações na Praça Taksim.

Durante mais de duas horas de um discurso, um exaltado Erdogan criticou a imprensa internacional, acusando-a de ser cúmplice dos "terroristas", além de ter afirmado que o Parlamento Europeu havia passado dos "limites".

De acordo com o último registro do sindicato dos médicos turcos, quatro pessoas morreram e cerca de 7.500 ficaram feridas desde o início da contestação, em 31 de maio.


Neste contexto, a pressão sobre Erdogan tem aumentado por parte de seus vizinhos

europeus. Segundo a chanceler alemã Angela Merkel, "a repressão às manifestações contra o governo turco é muito dura".

"Imagens terríveis nas quais víamos uma reação de forma muito dura, segundo o meu ponto de vista", disse Merkel, que pediu mais uma vez à Turquia que respeite a liberdade de expressão em uma entrevista que o canal RTL exibirá nesta segunda-feira.

Já no domingo, o Conselho Europeu alertou o governo turco para que evitasse "toda escalada da violência".

O secretário-geral do organismo, Thorbjorn Jagland, lançou "um apelo a todas as partes para que mantenham o diálogo", e acrescentou que "qualquer escalada da violência deve ser evitada".

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Istambul - O governo turco ameaçou nesta segunda-feira recorrer ao Exército para acabar com o movimento de contestação contra o governo que agita o país há mais de duas semanas, enquanto dois importantes sindicatos turcos iniciaram uma greve geral em apoio aos manifestantes.

Um dia após a demonstração de força do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que reuniu mais de 100 mil partidários, seu vice-primeiro-ministro Bülent Arinç endureceu o tom e ameaçou mobilizar as Forças Armadas para trazer a calma de volta às ruas.

"A polícia usará de todos os meios conferidos pela lei", declarou Arinç, acrescentando: "Se isso não for o suficiente, as Forças Armadas turcas poderão ser utilizadas nas cidades sob a autoridade dos governos" regionais.

Guardião autoproclamado da Turquia laica, o Exército turco interveio por muito tempo na política, principalmente nos golpes de Estado. Ao chegar ao poder, Erdogan minou a hierarquia militar.

Essa advertência foi lançada no momento em que um coletivo de sindicatos, incluindo as duas maiores federações de trabalhadores e funcionários (DISK e KESK), com cerca de 700 mil membros, realizavam uma greve nesta segunda para denunciar a brutalidade das forças de segurança.

Contudo, as organizações mobilizaram apenas algumas milhares de pessoas em Istambul e Ancara.


"Sair às ruas já é um avanço", declarou à AFP um manifestante que se identificou como Kerem. "É a primeira vez que as pessoas saem às ruas sem organização política", acrescentou.

Em Istambul, os manifestantes evitaram entrar em conflito com a polícia, que bloqueia os acessos à Praça Taksim.

Ainda sim, no momento em que os manifestantes começavam a se dispersar, a polícia os atacou com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, ao que os sindicalistas responderam como pedras.

--- Onda de detenções ---

A greve geral foi considerada ilegal pelo ministro turco do Interior, Muammer Güler, que prometeu reprimir as manifestações, depois de um fim de semana marcado por confrontos em várias cidades e que ainda prosseguem de forma esporádica em Istambul.

"Há tentativas de levar pessoas às ruas para ações ilegais, como uma greve", mas as forças de segurança "não vão permitir", afirmou Güler, em declarações à imprensa.

A Polícia evacuou sábado à noite o Parque Gezi e a Praça Taksim de Istambul, epicentro dos protestos que começaram há mais de duas semanas, em meio a violentos confrontos.


Os confrontos continuaram no domingo, com cerca de 600 detidos em Istambul e Ancara, segundo as associações de advogados dessas duas cidades.

Erdogan, no poder desde 2002, justificou a ação policial aos cerca de 100 mil simpatizantes de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) no domingo à noite em Istambul.

"Eu disse que nós tínhamos chegado ao fim. Tinha ficado insuportável. Ontem, a operação foi realizada e (a Praça Taksim e o Parque Gezi) foram limpas (...) Era meu dever de primeiro-ministro", afirmou.

"Não deixaremos essa praça com terroristas", insistiu, referindo-se aos movimentos políticos clandestinos envolvidos nas manifestações na Praça Taksim.

Durante mais de duas horas de um discurso, um exaltado Erdogan criticou a imprensa internacional, acusando-a de ser cúmplice dos "terroristas", além de ter afirmado que o Parlamento Europeu havia passado dos "limites".

De acordo com o último registro do sindicato dos médicos turcos, quatro pessoas morreram e cerca de 7.500 ficaram feridas desde o início da contestação, em 31 de maio.


Neste contexto, a pressão sobre Erdogan tem aumentado por parte de seus vizinhos

europeus. Segundo a chanceler alemã Angela Merkel, "a repressão às manifestações contra o governo turco é muito dura".

"Imagens terríveis nas quais víamos uma reação de forma muito dura, segundo o meu ponto de vista", disse Merkel, que pediu mais uma vez à Turquia que respeite a liberdade de expressão em uma entrevista que o canal RTL exibirá nesta segunda-feira.

Já no domingo, o Conselho Europeu alertou o governo turco para que evitasse "toda escalada da violência".

O secretário-geral do organismo, Thorbjorn Jagland, lançou "um apelo a todas as partes para que mantenham o diálogo", e acrescentou que "qualquer escalada da violência deve ser evitada".

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