Espanha reage a decreto sobre independência da Catalunha
decreto de convocação de um referendo foi assinado no sábado (27) pelo presidente regional da Catalunha
Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2014 às 14h17.
Copenhague - O Conselho de Ministros da Espanha se reúne hoje (29) em Madri para definir os recursos a serem adotados contra o decreto de convocação de um referendo para decidir sobre a independência da Catalunha , região autônoma a Nordeste do país. O decreto foi assinado no sábado (27) pelo presidente regional da Catalunha, Artur Mas, convocando os catalães para a votação no dia 9 de novembro.
Quanto à lei aprovada pelo Parlamento da Catalunha dando poderes ao presidente regional para convocar um referendo, o Conselho alegou que ela invade competências exclusivas de Estado e que, portanto, é inconstitucional. O decreto especifica que o objetivo da consulta é “conhecer a opinião popular sobre o futuro político da Catalunha”. Em discurso proferido logo após assinar o documento, Artur Mas afirmou que “a Catalunha quer falar, quer ser escutada e quer votar”.
Ontem, a Comissão Permanente do Conselho de Estado da Espanha, que tem caráter consultivo, fez reunião extraordinária e produziu um documento rebatendo todos os argumentos jurídicos apresentados pelo governo catalão para justificar a consulta sobre a separação. O órgão reforça a incapacidade da Catalunha de convocar um referendo em que apenas uma parte da população votará. O Artigo 92 da Constituição Espanhola prevê a realização de referendos consultivos, mas requer a participação de todos os cidadãos espanhóis na consulta.
Em entrevista à Agência Brasil, a professora e pesquisadora da Universidade de Glasgow, na Escócia, Kathryn Crameri, disse que será difícil para a Catalunha prosseguir com o referendo. Ela é autora do livro Até Logo Espanha? A Questão da Independência da Catalunha, publicado no ano passado. “No momento, os partidos pró-independência e as associações civis estão insistindo que a consulta deve seguir adiante, mas será difícil se o Tribunal Constitucional da Espanha decidir pelo contrário”, enfatizou.
Crameri acredita que se o referendo for bloqueado pelo governo espanhol, vão ocorrer tentativas de fazer a votação de alguma forma, talvez sob o comando das associações civis. “Ou também há possibilidade de que o presidente Mas antecipe as eleições regionais, o que funcionaria como uma forma de testar o nível de aprovação dos catalães à independência”, disse. Ela acha que é grande a possibilidade de que um bloqueio da consulta gere protestos populares nas ruas.
Para a pesquisadora, o referendo da Escócia, ocorrido no dia 18 de setembro, foi um exemplo de democracia para a Catalunha. “A independência da Catalunha é um movimento que, mesmo antes da questão escocesa, já tinha impulso próprio. Mas o processo na Escócia foi totalmente democrático e isso é o que os catalães querem ver em sua região”.
Crameri explicou que a Catalunha é uma das regiões mais ricas da Espanha e que o país sofreria graves consequências com a independência. “Mas o imperativo econômico não é o que predomina. Há uma ideia fixa entre alguns espanhóis – especialmente os mais conservadores – de que a Espanha é uma nação e deve permanecer unida a todo custo”, finalizou.