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Governo e Farc voltam a negociar após seis dias de recesso

Ao contrário dos ciclos anteriores, o diálogo reinicia em meio aos novos sequestros na Colômbia, pelos quais o governo responsabiliza a guerrilha


	Comandantes das Farc chegam ao Palácio de Convenções: polícia atribui às Farc desaparecimento de dois policiais na sexta-feira passada no estado de Cauca
 (©afp.com / Yamil Lage)

Comandantes das Farc chegam ao Palácio de Convenções: polícia atribui às Farc desaparecimento de dois policiais na sexta-feira passada no estado de Cauca (©afp.com / Yamil Lage)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2013 às 17h47.

Havana - O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) retomaram nesta quinta-feira em Cuba, após seis dias de recesso, os diálogos de paz em meio a uma polêmica e ataques mútuos causados pelo recente sequestro de dois policiais, ação atribuída pelo Executivo à guerrilha.

As delegações chegaram hoje ao Palácio de Convenções de Havana, sede da mesa de negociações, após uma semana de recesso e depois de anunciarem na primeira rodada de diálogo "aproximações" em relação à questão agrária, primeiro ponto da agenda das conversas iniciadas em 19 de novembro na ilha.

Ao contrário dos ciclos anteriores, marcados pelo cessar-fogo unilateral decretado pelas Farc entre 20 de novembro e 20 de janeiro, o diálogo reinicia em meio aos novos sequestros na Colômbia, pelos quais o governo responsabiliza a guerrilha.

A polícia atribui a uma unidade móvel das Farc o desaparecimento de dois policiais na sexta-feira passada no estado de Cauca, onde no mesmo local foram sequestrados três engenheiros de uma companhia petrolífera, que foram libertados nesta quinta-feira.

Hoje em Havana, o número dois da guerrilha e líder negociador, Luciano Marín Arango, conhecido como "Ivan Márquez", não confirmou a responsabilidade das Farc no sequestro dos policiais e enviou uma mensagem contraditória sobre o caso.


"É preciso esperar qual é a colocação da força ou do bloco guerrilheiro que executou tal ação. Nós não temos até agora nenhum informe oficial sobre o fato, se é ou não das Farc", disse Márquez aos jornalistas após ser perguntado se o grupo rebelde libertará os reféns.

Márquez reiterou que os reféns capturados como parte do conflito "não podem ser chamados de sequestrados, mas sim prisioneiros de guerra", e qualificou de exageradas as declarações do governo colombiano após o desaparecimento dos policiais.

O chefe da equipe negociadora do Executivo de Juan Manuel Santos, o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, foi uma das vozes que criticou na quarta-feira as Farc, que ontem defenderam a captura de reféns.

Da la Calle esteve hoje no Palácio de Convenções de Havana para retomar o diálogo mas não deu declarações aos jornalistas, como está sendo habitual em sua delegação desde o início das conversas.

Posteriormente, a equipe de imprensa dos negociadores do governo colombiano em Havana divulgou um áudio com declarações realizadas hoje por De la Calle, nas quais ele ratifica a rejeição ao sequestro dos policiais e afirma que essas ações das Farc não serão aceitas.


"Não só as rejeitamos mas queremos advertir que o propósito delas é obrigar ao governo a adotar um cessa-fogo bilateral. Isso não vai ocorrer. Só haverá cessar-fogo bilateral o dia em que assinarmos um acordo para terminar o processo", disse o ex-vice-presidente.

Além da polêmica dos sequestros, hoje foi divulgado que quatro soldados colombianos morreram em combates entre o Exército e as Farc no departamento de Nariño, sem que por enquanto se saiba de baixas entre os guerrilheiros.

"Humberto de la Calle reiterou que a ordem presidencial à polícia é seguir perseguindo as Farc em todo o território nacional. Então é insensato que enquanto fazem declarações de incentivar a guerra aumentam as queixas pelas consequências que esta suscita", afirmou a guerrilha em comunicado lido hoje por Márquez no Palácio de Convenções.

Na nota, os rebeldes voltaram a destacar a necessidade de buscar "um cessar-fogo bilateral das hostilidades, ou chegar a um tratado de regularização da guerra", iniciativa sugerida pelas Farc diversas vezes ao governo desde que começou o processo.

A guerrilha lembrou, além disso, que ambas as partes concordaram em não discutir na mesa de negociações a questão do confronto armado, por isso as Farc estão em silêncio "frente aos bombardeios e ao uso desmesurado da força" por parte da aviação contra seus acampamentos durante sua trégua unilateral.

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