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Governo argentino denuncia "golpismo" em morte de promotor

Imprensa menciona reativação da acusação contra Kirchner, mas grupo de procuradores e juízes da Justiça Legítima rejeita denúncia por constatar falta de provas

Alberto Nisman: setores judiciais que convocaram a mobilização estão vinculados à Associação de Magistrados, que enfrenta o governo. (AFP)

Alberto Nisman: setores judiciais que convocaram a mobilização estão vinculados à Associação de Magistrados, que enfrenta o governo. (AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2015 às 18h15.

Buenos Aires - O governo da Argentina denunciou nesta sexta-feira um "golpismo judicial" montado na acusação do falecido promotor Alberto Nisman contra a presidente Cristina Kirchner, a cinco dias de um protesto da oposição por conta da morte misteriosa do funcionário.

A denúncia de Nisman contra Kirchner, por supostamente tentar desviar as investigações sobre um atentado antijudaico em 1994, e o protesto "são uma estratégia de golpismo judicial ativo, que busca estrépito social", disse o chefe de Gabinete, Jorge Capitanich.

A imprensa menciona uma iminente reativação da acusação contra Kirchner, nas mãos do promotor Gerardo Pollicita, às vésperas da passeata do silêncio da próxima quarta-feira para exigir justiça, liderada por um grupo de promotores e candidatos à presidência nas eleições de outubro.

"No mundo a disputa é entre a democracia e grupos obscuros vinculados a poderes econômicos. Barack Obama enfrenta uma investida da direita republicana mais recalcitrante. No Brasil, Dilma Rousseff sofre ataques com pedidos de julgamento político", disse Capitanich.

A origem do caso remonta há mais de 20 anos, quando uma explosão na mutual judaica-argentina AMIA matou 85 pessoas e deixou 300 feridos.

Em 2005, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) apoiou uma denúncia contra ex-governantes iranianos, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani, causa que ficou nas mãos de Nisman.

Mas em 2013 Nisman e líderes da numerosa comunidade judaica discordaram de um acordo de Kirchner com o Irã para interrogar os suspeitos e alegaram que Teerã não era confiável.

Em 14 de janeiro, Nisman retornou da Europa para acusar Kirchner de acobertar os iranianos. No dia 18 foi encontrado morto em seu apartamento com um tiro na cabeça e uma pistola, que pediu a um colaborador, na mão direita.

No dia seguinte ele deveria explicar em comissões do Congresso mo motivo da acusação contra a presidente.

Setores judiciais que convocaram a mobilização estão vinculados à Associação de Magistrados, que enfrenta o governo, enquanto o grupo de procuradores e juízes Justiça Legítima rejeita a denúncia contra a presidente por considerar que faltam provas.

A rejeição formal à denúncia de Nisman foi apresentada pela Procuradoria do Tesouro, que afirmou que "nenhuma atuação das autoridades do governo teve por objeto retirar as acusações dos cidadãos iranianos objetos das notificações vermelhas (capturas) da Interpol", reafirmadas por Kirchner.

Na véspera, a juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-esposa de Nisman, pediu o fortalecimento das instituições e que se evite politizar a misteriosa morte do promotor .

Salgado participou de uma audiência pública organizada por legisladores da oposição no Congresso e em sua intervenção revelou que tinha pedido à Defensoria Geral que a morte de Nisman seja denunciada na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

A juíza, que teve nas mãos casos de grande repercussão midiática, fez apelos reiterados à prudência neste caso que sacode o país e que qualificou de "grave" para o país e "trágico" para sua família.

"Os juízos de valor interferem e condicionam o trabalho da justiça", advertiu a mulher em alusão às declarações cruzadas de altos funcionários do governo e da justiça sobre o caso.

Suas críticas também se dirigiram à promotora e à juíza que investigam a morte do pai de suas duas filhas, a quem pediu para limitar a divulgação pública do caso para não antecipar o curso da investigação.

Desde a descoberta do corpo do promotor, a promotoria informa sobre o resultado de perícias já feitas e também antecipa os próximos passos.

"Deixemos a justiça agir", disse a juíza ao defender o dever que as instituições argentinas têm neste momento de "fortalecer a independência dos poderes".

A ex-esposa de Nisman, também informou que a justiça argentina realizará uma "autópsia psicológica" do promotor Alberto Nisman a pedido de sua família, que duvida da hipótese de suicídio.

O objetivo do estudo psiquiátrico é reconstruir o estado mental do falecido e traçar seu perfil psicológico por meio de entrevistas com pessoas do círculo íntimo e profissional de Nisman, assim como com os médicos que o atenderam nos últimos tempos, explicaram peritos forenses.

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