Governar a Espanha, uma missão quase impossível para Pedro Sánchez
Ao assumir a presidência da Espanha, Pedro Sánchez contará com o apoio da maior minoria na história democrática país
AFP
Publicado em 1 de junho de 2018 às 14h22.
Como presidente do Executivo com maior minoria na história da Espanha democrática, o socialista Pedro Sánchez terá a difícil tarefa de governar diante das reivindicações que serão feitas, previsivelmente, pela esquerda radical do Podemos, pelos separatistas catalães e pelos nacionalistas bascos.
Seguem abaixo os principais desafios políticos que Sánchez terá pela frente:
Aprovação de Bruxelas e do Podemos
Com seus 84 deputados, o Partido Socialista de Sánchez não apenas está muito longe da maioria absoluta (176 cadeiras), como será minoritário dentro da coalizão de oito forças políticas que o levou ao poder, integrada por um total de 180 legisladores.
"Governar (...) com um apoio tão exíguo sem dúvida vai gerar instabilidade", escreveu o jornal "El País" em editorial publicado nesta sexta-feira (1º).
A legislatura termina em meados de 2020, mas vários analistas prognosticam eleições antecipadas daqui a até um ano, aproximadamente.
Até lá, as iniciativas bem-sucedidas de Pedro Sánchez serão aquelas, "nas quais tem possibilidade de conseguir uma maioria fácil", afirma o cientista político Fernando Vallespín, na Universidade Autônoma de Madri.
O líder socialista já prometeu que terá "como principal prioridade cumprir os compromissos europeus", em particular a redução do déficit, e "executar os orçamentos gerais do Estado para 2018", costurados pelo governo conservador que está saindo, o de Mariano Rajoy.
Uma linha que pode se chocar com a do Podemos, cujo líder, Pablo Iglesias, insiste em uma "política social".
Iglesias também quer ver no governo de Sánchez membros de seu partido, nascido da denúncia da impopular política de austeridade de Rajoy e de seu governo em resposta à crise econômica.
Para tranquilizar seu aliado, aponta Vallespín, Sánchez pode desmontar a reforma trabalhista promovida em 2012 por Rajoy, que segundo a esquerda precarizou ainda mais o mercado de trabalho.
Nacionalistas bascos e catalães
A decisão de Sánchez de não tocar os orçamentos, à espera de tramitação no Senado e rejeitados inicialmente pelos socialistas, foi em grande medida um gesto dirigido a obter o apoio do Partido Nacionalista Basco (PNV).
Com isso, ficam a salvo 540 milhões de euros de investimento em infraestruturas no País Basco. Ainda assim, porém, o porta-voz do PNV na Câmara Baixa, Aitor Esteban, advertiu Sánchez que terá "um governo fraco e difícil" e que a Câmara vai ser "um pim pam pum contínuo".
O diálogo com os nacionalistas bascos pode ser difícil de administrar para o novo presidente do governo, acusado pela direita de ter feito um pacto com "os amigos do ETA", em alusão ao partido separatista basco EH Bildu, que apoiou a moção de censura.
Em relação à Catalunha, Sánchez se comprometeu a "estender pontes" com o novo governo regional separatista de Quim Torra, o qual há poucos dias chamou de "supremacista".
"Certamente, esta vai ser a linha de ataque da oposição de direitas (...), portanto, o governo de Sánchez tem de ser muito prudente", afirma Joan Botella, cientista político na Universidade Autônoma de Barcelona.
Joan avalia, porém, que a posição "muito dura" observada pelo socialista frente ao separatismo catalão irá protegê-lo das acusações de complacência.
Globalmente, os analistas consultados pela AFP anteveem uma redução da tensão na crise catalã. Principalmente, quando "quase todo o caso da Catalunha está nas mãos dos juízes, e não do governo", e os separatistas sofrem com suas "divisões internas", aposta Joan Botella.
Em campanha permanente
Outro risco que o governo de Pedro Sánchez corre é o de parecer que está sempre em campanha eleitoral, já que, depois de meses de escassa presença na mídia, "o que o Partido Socialista quer exatamente é abrir o telejornal todos os dias", afirma Fernando Vallespín.
Também deve ter cuidado para não perder muitos votos no centro do espectro político, destaca o analista, acrescentando que o sucesso de Sánchez dependerá de "sua capacidade de não se deixar cair no radicalismo que o Podemos vai lhe impor".
No período que se aproxima, os analistas acreditam que haverá poucas reformas substanciais. Federico Santi, do Eurasiagroup, prevê um impacto "ligeiramente negativo" na política econômica, se o ritmo de redução do déficit diminuir.