Mundo

GM enfrenta a maior greve dos Estados Unidos desde 1997

73.000 trabalhadores da montadora paralisam 59 plantas no país

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

Os funcionários da General Motors dos Estados Unidos iniciaram, nesta segunda-feira (24/9), uma greve que atinge 59 unidades no país. O movimento é liderado pela United Auto Workers (UAW) e conta com a adesão de 73.000 pessoas. De acordo com o site de notícias econômicas CNN.Money, esta é a maior greve organizada nos Estados Unidos desde 1997, quando 185.000 empregados da companhia de entregas UPS cruzaram os braços. Em agosto de 2000, 87.000 trabalhadores da operadora de telefonia Verizon também pararam, mas o movimento não chegou a interromper completamente suas operações, a exemplo da GM e da UPS.

Segundo o presidente da UAW, Ron Gettelfinger, o sindicato não teve alternativa. "Ninguém é beneficiado por uma greve, mas chega um ponto em que você é levado a tomar uma atitude", disse. Em nota à imprensa, a GM lamentou a medida. "Estamos desapontados com a decisão da UAW de convocar uma greve geral", afirma o comunicado.

A paralisação surpreendeu os analistas, pois a montadora e o sindicato davam sinais de que as negociações para renovar o contrato de trabalho dos funcionários - válido por quatro anos - vinham evoluindo positivamente.

Aparentemente, não havia problemas em torno do principal ponto da negociação: os pesados custos da GM com benefícios e planos de saúde para funcionários, aposentados e viúvas de ex-trabalhadores da companhia. Nos próximos anos, estima-se que a empresa deverá arcar com 51 bilhões de dólares em benefícios e planos de saúde de 340.000 aposentados e familiares. A proposta é que esses gastos sejam transferidos para um fundo privado administrado por gestores profissionais, conhecido como Veba e criado há três anos. A idéia conta com a simpatia da UAW.

De acordo com o CNN.Money, o que emperrou o acordo foram outras exigências do sindicato. A organização quer que a GM assegure um nível mínimo de investimentos nos Estados Unidos, a fim de garantir o emprego de seus associados. Ao se referir às conversas, a GM afirma que "a negociação envolveu questões difíceis e complexas, que afetam a segurança dos empregos da GM nos Estados Unidos, e a viabilidade da companhia no longo prazo".

Com a greve, 12.200 veículos deixarão de ser produzidos por dia. Apesar disso, os analistas afirmam que os efeitos na rede de distribuidores e revendedores só serão sentidos em duas ou três semanas, pois o estoque da montadora está alto, devido às vendas mais fracas após o estouro da crise das hipotecas de segunda linha nos Estados Unidos. A agência de classificação de risco Standard & Poor';s afirma que não pretende revisar a nota dos papéis da companhia, a menos que a greve se estenda por muito tempo. Há dois anos, a S&P rebaixou os títulos de dívida da GM para a categoria de "junk bonds", diante dos sinais de que a montadora patinava.

Atoleiro

Os primeiros sinais de que a companhia havia entrado em um atoleiro surgiram no primeiro trimestre de 2005. Nos Estados Unidos, seu maior mercado, a participação caiu 3% naquele período, o suficiente para pôr a empresa em alerta. Na Europa, uma parceria com a Fiat naufragou. E, na China, a economia que mais cresce no mundo, as vendas recuaram fortemente e o executivo responsável pelo país demitiu-se. Depois de ver seus papéis despencarem na Bolsa de Nova York, o presidente mundial da GM, Richard Wagoner, assumiu pessoalmente o comando das operações da América do Norte.

Todo o esforço não foi suficiente para conter o avanço das rivais, sobretudo da japonesa Toyota. No primeiro trimestre de 2007, a companhia ultrapassou os americanos e tornou-se a maior montadora do mundo - posto ocupado pela GM por 75 anos.

Desde 2005, os diagnósticos sobre a GM coincidem em um ponto: os pesados custos com planos de saúde e benefícios. Há 340.000 aposentados e familiares que dependem do sistema - ante 285.000 funcionários na ativa em 33 países. Com os recursos drenados para tapar o rombo do sistema, a montadora perdeu capacidade de investir em novos modelos. Por ano, o fundo de previdência da GM apresentava um rombo de 5 bilhões de dólares. A sangria contribuiu para que a GM acumulasse um prejuízo de 9 bilhões de dólares entre 2005 e 2006.

Em entrevista exclusiva a EXAME, em junho deste ano, Wagoner garante que o problema com as aposentadorias já está resolvido. A primeira medida foi a criação do fundo Veba, há três anos, para o qual os benefícios foram transferidos. A GM fez um aporte inicial de 18 bilhões de dólares. Com a venda de seu braço financeiro, a GMCA, outros recursos foram aplicados. Assim, em três anos, o fundo deixou de ser deficitário para ter lucro.

Mas os problemas com a previdência privada dos funcionários não são a única razão de a GM estar em dificuldades. Seus veículos consomem muito combustível e a alta do petróleo fez com que os americanos preferissem modelos mais econômicos. Suas vendas ainda dependem muito dos Estados Unidos - o mercado mais competitivo do mundo. E a estrutura organizacional é muito mais complexa que a de suas concorrentes - há 50 classificações de funcionários na GM, ante três na Toyota.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Mundo

Legisladores democratas aumentam pressão para que Biden desista da reeleição

Entenda como seria o processo para substituir Joe Biden como candidato democrata

Chefe de campanha admite que Biden perdeu apoio, mas que continuará na disputa eleitoral

Biden anuncia que retomará seus eventos de campanha na próxima semana

Mais na Exame