Pessoas entram em um bar passando por uma placa da COP26 no centro da cidade de Glasgow, Escócia, em 29 de outubro de 2021 (Agence France-Presse/AFP)
AFP
Publicado em 30 de outubro de 2021 às 10h29.
Sob uma chuva fina, um grupo de ativistas climáticos americanos lança bombas de fumaça em Glasgow, cidade escocesa palco de uma COP26 crucial para o futuro do planeta que se prepara para receber líderes e manifestantes de todo o mundo.
A crescente nuvem de fumaça é direcionada aos chefes de Estado e de Governo que são esperados na cúpula da ONU, que começa no domingo (31).
Os manifestantes vão aumentar à medida que os delegados desembarquem em Glasgow, uma cidade que ainda tenta recuperar a normalidade após o confinamento imposto pela pandemia do coronavírus.
"Estou muito orgulhosa que a COP esteja sendo realizada em Glasgow", diz Isabelle Barkley, uma moradora que caminha calmamente em direção aos manifestantes na George Square, no centro.
Nesta praça, Barkley viu Nelson Mandela passar ao longo dos anos, bem como inúmeros comícios pela independência escocesa e protestos do movimento Black lives Matters.
Nas próximas duas semanas, a praça será o ponto de encontro de ativistas do clima. De acordo com os organizadores, espera-se que até 100.000 pessoas participem de uma grande manifestação a ser organizada em 5 de novembro.
"Temos que ser positivos, lembrar que todos podemos fazer alguma coisa. Comer menos carne, comprar menos plástico", ressalta Barkley.
A chuva esvaziou a cidade, onde mais de 100 líderes são esperados, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden.
Como um lembrete de que a ameaça já existe, muitas ruas do centro estão inundadas.
Quanto às medidas de segurança, a polícia bloqueou um grande perímetro ao redor do Scottish Campus Event, que sediará o evento, próximo às margens do rio Clyde, dificultando o dia a dia dos moradores.
Muitos estão preocupados que o evento levará a um aumento nos casos de covid-19, num momento em que o Reino Unido enfrenta uma das taxas de infecção mais altas do mundo.
Segundo Devi Sridhar, professora de Saúde Pública da Universidade de Edimburgo, integrante do grupo encarregado de assessorar o governo escocês sobre o coronavírus, a cúpula, que deve receber 25 mil delegados de 200 países, ocorre no pior momento.
Sridhar acredita que pode levar a um novo pico e o retorno das restrições.
"Posso estar errado, e espero que sim", mas "um grande evento com pessoas indo e vindo com um vírus contagioso levará a um aumento de casos", tuitou a professora.
O agravamento da epidemia "pesará sobre o serviço de saúde" e "exigirá mais restrições", disse Sridhar.
Shaun Clerkin, um residente de Glasgow, que observa os manifestantes americanos lançando bombas de fumaça, espera o pior.
"Para ser sincero, acredito que a COP26 será um fracasso e uma mentira", opina o cidadão, de 60 anos, que acredita que os organizadores estão invadindo a vida dos habitantes, isolando os visitantes dos problemas sociais muito reais da cidade.
"Temos pessoas sem-teto em nossas ruas", diz, "que vivem em alojamentos temporários e hotéis, em instalações precárias", acrescenta.
"Mas, no final das contas, o município quer esconder os sem-teto e os pobres dos delegados da conferência", lamenta Clerkin.
Mas para os ativistas na George Square, há apenas uma luta que importa.
"O resultado da COP26 em Glasgow é nada menos do que vida ou morte para as pessoas ao redor do mundo", disse Andrew Nazdin, o organizador do protesto.
"Precisamos que os líderes de todo o mundo se mobilizem", comenta o homem de 33 anos.
De acordo com Nazdin, os chefes de Estado e de Governo têm uma oportunidade de ouro para agir e os manifestantes estarão lá para lembrá-los.