Boric: presidente de esquerda é o mais jovem da história do Chile (Marcelo Hernandez/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 11 de março de 2022 às 12h47.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 16h12.
Gabriel Boric Font, de 36 anos, é oficialmente o novo presidente do Chile. Após ser eleito em disputadas eleições em dezembro passado, Boric tomou posse nesta sexta-feira, 11, se tornando assim o presidente mais jovem da história do país.
O novo presidente, eleito pela coalizão de esquerda Apruebo Dignidad, recebeu hoje a faixa presidencial e o cargo que era do então presidente rival político, Sebastian Piñera, de direita.
A cerimônia começou por volta do meio-dia e foi breve, com poucos convidados, no salão de honra do Congresso do Chile em Valparaíso, a pouco mais de 100 quilômetros de Santiago (veja a transmissão abaixo).
A eleição de Boric é símbolo de uma geração de jovens que foram às ruas do Chile ao longo dos últimos anos, culminando nos protestos massivos que varreram o país em 2019, o chamado "Estallido social".
Ex-líder estudantil e deputado, Boric ganhou projeção durante manifestações nacionais de estudantes em 2011, assim como outros líderes do movimento, como os também deputados Camila Vallejo e Giorgio Jackson - ambos agora ministros do governo.
No pleito de dezembro, Boric foi eleito em uma votação que teve a participação popular da história do Chile, país onde o voto é facultativo. Foram às urnas oito milhões de pessoas, mais de 55% de comparecimento.
Boric venceu o segundo turno em 19 de dezembro contra o ultradireitista José António Kast, com 55,9% dos votos. Com seis milhões de votos, se tornou também o presidente mais votado da história da democracia chilena.
No primeiro turno, houve alta abstenção entre jovens, o que impactou Boric, que terminou dois pontos atrás de Kast. No segundo, a história se inverteu, mostrando um claro conflito geracional na preferência do eleitorado chileno.
Quando foi eleito no ano passado, Boric tinha ainda 35 anos, e acaba de completar 36, em 11 de fevereiro.
Boric nasceu na cidade de Punta Arenas, no sul do Chile e a 3.000 quilômetros de Santiago, de uma família de ascendência croata (daí vem o sobrenome).
Antes de se tornar presidente, Boric exercia o cargo de deputado desde 2014, eleito por sua região, Magallanes y de la Antártica Chilena.
Sua origem longe da capital foi considerada também um dos pontos fortes da candidatura, à medida em que os políticos progressistas de Santiago têm dificuldades históricas para chegar aos "rincões" do Chile.
Uma vez eleito, Boric também nomeou um gabinete diverso, com maioria de mulheres e nomes representantes de minorias chilenas.
"Estou profundamente orgulho deste gabinete. Profundamente orgulho de que sejam mais mulheres do que homens, graças ao movimento feminista", disse hoje, em uma de suas poucas falas durante a cerimônia de posse.
A pasta do Tesouro, uma das mais importantes diante da transição econômica que o país precisará fazer pós-pandemia, ficará nas mãos do até agora presidente do Banco Central, Mario Marcel, o que foi visto como uma escolha moderado no novo gabinete.
Dentre as promessas do novo governo está implementar um modelo de bem-estar social no Chile. O plano do governo Boric de maior presença do Estado, se concretizado, marcará uma mudança profunda em um país que, nas últimas décadas, foi um dos grandes modelos neoliberais no mundo.
Após os protestos de 2019, os chilenos também votaram em 2020 em um referendo para substituir a atual Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet.
Agora, caberá a Boric supervisionar o restante da Constituinte e a implementação da nova Carta Magna. A Convenção foi eleita com maioria progressista, e deverá trazer mudanças profundas, dos costumes, como apoio ao aborto, ao papel do Estado, como em saúde, educação e Previdência.
O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, viajou a Santiago para representar o Brasil na posse. O presidente Jair Bolsonaro, que já criticou Boric publicamente no passado, não esteve na cerimônia.
Mourão se encontrou com Boric um dia antes, na quinta-feira, 10, e também com o agora ex-presidente Piñera. Segundo a Vice-Presidência, no encontro com Boric, Mourão "ressaltou a importância dos laços econômicos e comerciais" entre os dois países e disse estar disposto a "aprofundar a cooperação e o diálogo".
Participam da cerimônia de posse nesta sexta-feira mais de 20 convidados internacionais, como o presidente argentino, Alberto Fernández, o peruano Pedro Castillo, o paraguaio Mario Abdo, o equatoriano Guillermo Lasso e o rei Felipe VI da Espanha.
A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff também esteve presente, assim como o senador colombiano de esquerda, Gustavo Petro, que lidera as pesquisas de intenção de voto para Presidência.