Trabalhadores da ONG internacional Médicos Sem Fronteiras contrataram prostitutas locais enquanto trabalhavam na África, disseram ex-funcionárias (Stringer/Reuters)
EFE
Publicado em 21 de junho de 2018 às 09h15.
Última atualização em 21 de junho de 2018 às 09h29.
Londres - Trabalhadores da ONG internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) contrataram prostitutas locais enquanto trabalhavam na África, segundo denunciaram nesta quinta-feira várias ex-funcionárias desta organização no programa Victoria Derbyshire da emissora britânica BBC.
As mulheres, que deram o testemunho de forma anônima por temor de represálias, afirmaram que os envolvidos faziam parte do pessoal encarregado de logística, o que exclui médicos e enfermeiros da organização.
As funcionárias descreveram esta prática como um comportamento generalizado e inclusive uma delas destacou que um dos envolvidos afirmou que era possível trocar remédios por sexo.
A MSF, cujo código de conduta proíbe qualquer ação ligada à prostituição, é uma das maiores entidades beneficentes internacionais que emprega milhares de profissionais da saúde e pessoal de logística, a maioria contratada localmente.
Uma das antigas trabalhadoras da sede em Londres contou que presenciou como um membro de alta categoria da organização levou várias meninas aos alojamentos da MSF durante uma estadia no Quênia.
"As meninas eram muito jovens e havia rumores de que eram prostitutas", disse esta ex-funcionária, que acrescentou que supostamente estavam no local para manter relações sexuais.
A mesma ex-funcionária acrescentou que uma das suas companheiras, que se alojou na mesma residência durante algum tempo, viu que esta prática era "algo normal".
Então, afirmou que as testemunhas sentiam-se incapazes de fazer frente ao que ocorria já que o envolvido gozava de certa autoridade dentro da MSF.
"Senti que alguns destes homens estavam exercendo definitivamente um abuso de poder. Estavam há um bom tempo ali e aproveitavam-se de seu status como voluntários ocidentais", disse, os qualificando como "homens predadores".
Outra funcionária, que tratou de pacientes com HIV na África Central, afirmou que o uso de prostitutas locais era "generalizado" e que ela mesma se sentiu acossada sexualmente por parte de um companheiro.
Relatou um episódio no qual um dos homens levou uma mulher ao complexo da MSF, uma prática que pouco depois se tornou habitual. "Era bastante óbvio que ela era uma prostituta, mas ele a chamava de sua namorada e ela passava noite após noite com ele", contou.
Em outra ocasião, presenciou como outro de seus companheiros entrou no banheiro com uma prostituta local. "Ela me disse depois que tinham tido relações sexuais e que ele tinha pagado", assegurou.
Esta denunciante informou à MSF o assédio ao qual estava sendo submetida por parte de seu companheiro, e seu responsável lhe ofereceu uma mediação, embora também lhe comunicou que a demitiria se a situação não fosse solucionada.
Uma terceira mulher, também ex-funcionária da MSF, declarou que um dos seus companheiros de alta categoria dentro da ONG assegurou que era possível trocar remédios por sexo.
"Ele disse: 'É muito simples trocar remédios com estas raparigas fáceis na Libéria'", afirmou a denunciante, que acrescentou que o envolvido sugeriu que muitas destas jovens, que tinham perdido os pais pela crise do ébola, "fariam qualquer coisa sexual em troca de remédios".
A MSF manifestou que precisa de mais informação para iniciar uma investigação.
Vickie Hawkins, diretora-executiva da MSF no Reino Unido, afirmou que existem "mecanismos de denúncia" para apresentar queixas, mas reconheceu que devem trabalhar para "garantir que são conhecidos, confiáveis e utilizados pelas pessoas que necessitam".
Após as denúncias reveladas em fevereiro sobre a organização beneficente Oxfam ter contratado prostitutas enquanto trabalhava no exterior, a MSF admitiu que tinha demitido 19 trabalhadores por assédio sexual no ano anterior.