França rejeita ultimato de criminosos e mantém bombardeios
Presidente François Hollande assegurou que seu país não cederá a qualquer chantagem ou pressão dos jihadistas que ameaçam matar um refém francês
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2014 às 15h15.
Paris - A França rejeitou nesta terça-feira o ultimato dos sequestradores de um francês na Argélia e afirmou que seguirá bombardeando no Iraque os jihadistas do grupo Estado Islâmico ( EI ), sem dizer se atacará na Síria.
O presidente François Hollande assegurou que seu país não cederá a qualquer chantagem ou pressão dos jihadistas que ameaçam matar um refém francês.
"Por mais grave que seja esta situação, nós não cederemos a nenhuma chantagem, a nenhuma pressão, a nenhum ultimato", afirmou o presidente, assegurando ainda que continuará dando apoio às autoridades do Iraque em sua luta contra os jihadistas.
A França já havia anunciado que não manterá nenhuma discussão, nenhuma negociação com os autores do sequestro do francês Hervé Gourdel, conforme afirmou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.
Os sequestradores do francês, membros do grupo jihadista Jund al-Khilafa, que obedece ao EI, ameaçaram na segunda-feira matar o refém se a França não renunciar aos bombardeios no Iraque em um prazo de 24 horas.
Guia de montanhas, Gourdel, de 55 anos, foi sequestrado em Tizi Uzu, 110 km a leste de Argel.
O exército argelino prosseguia nesta segunda-feira junto às tropas de elite especializadas na luta antiterrorista com uma operação de busca nesta zona montanhosa para tentar localizá-lo, segundo fontes dos serviços de segurança.
"A perfídia do terrorismo reside em recorrer à chantagem, à morte", e "se cedermos um centímetro damos a eles essa vitória", disse Valls.
A França só realizou oficialmente bombardeios aéreos uma vez no Iraque desde a autorização de entrada em guerra dada na quinta-feira ao exército francês pelo presidente François Hollande.
Aviões Rafale baseados nos Emirados Árabes Unidos bombardearam e destruíram na sexta-feira uma intalação logística do grupo Estado Islâmico no norte do Iraque.
França ante o parâmetro sírio
Diferentemente dos Estados Unidos, a França se recusou a atacar o EI também na Síria. As autoridades francesas, que há um ano estavam dispostas a bombardear alvos militares governamentais sírios alegando a defesa dos civis, argumentavam até agora a falta de legitimidade internacional para atacar também na Síria.
Mas esta atitude pareceu ter evoluído desde o início da semana. O pedido de socorro feito pela Coalizão Nacional Síria (oposição) - ao qual responderam nesta terça-feira Estados Unidos e vários países árabes com bombardeios - pode ser considerado uma base legal, afirmam fontes diplomáticas francesas.
O chanceler francês, Laurent Fabius, estimou na segunda-feira que não há um impedimento jurídico para uma reação aos ataques do Daesh (acrônimo árabe do EI) no Iraque e na Síria. "Acreditamos que isso forma parte (...) da possibilidade de legítima defesa segundo o artigo 51 da Carta das Nações Unidas", disse.
O refém Hervé Gourdel é fã de fotografia e das viagens. Há 20 anos organiza estadias na região marroquina de Atlas, no Nepal e na Jordânia.
"Sempre quis fixar estas paisagens extraordinárias, trazer imagens das pessoas que vivem ali", escreveu em seu site.
A mãe de Gourdel, que tem 82 anos, afirmou à imprensa francesa que seu filho chegou no sábado a Cabilia para uma estadia de dez dias.
Durante a guerra civil dos anos 1990, uma centena de estrangeiros, entre eles trinta franceses, foram assassinados na Argélia por grupos armados islamitas.
Nos últimos anos, cidadãos franceses foram com frequência vítimas de sequestradores, em particular no Sahel e na Síria.
Além de Hervé Gourdel, outro francês é refem na região, Serge Lazarevic, sequestrado no Sahel desde novembro de 2011 pelo grupo Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).