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Crise na Ucrânia: França deixa EUA de lado para liderar novas negociações

A França sedia nova rodada de negociações diante da crise entre Rússia e Ucrânia. País diz estar "determinado a usar todos os recursos da diplomacia"

Macron, da França, e Scholz, da Alemanha, após reunião nesta terça-feira, 25: europeus liderarão rodada de negociações com a Rússia nesta semana (Kay Nietfeld - Pool/Getty Images)

Macron, da França, e Scholz, da Alemanha, após reunião nesta terça-feira, 25: europeus liderarão rodada de negociações com a Rússia nesta semana (Kay Nietfeld - Pool/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 06h00.

Última atualização em 26 de janeiro de 2022 às 08h30.

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Mais esforços diplomáticos para tentar conter a crise na Ucrânia começam nesta quarta-feira, 26. A França sedia hoje nova rodada de negociações que envolverá Rússia e Ucrânia, os dois principais atores envolvidos, além dos próprios franceses e da Alemanha.

As conversas do grupo — em um formato que foi batizado de "Normandia", por ter sido compactuado nesta cidade francesa há sete anos — acontecem em alguma medida desde a anexação da então ucraniana Crimeia pela Rússia em 2014, sempre com os mesmos quatro membros. Mas, nesta semana, ganham especial importância com a escalada dos conflitos, dois dias após a Otan, aliança ocidental, anunciar que tropas estão em alerta contra os milhares de soldados russos na fronteira ucraniana.

Em comunicado, o gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o país “continua determinado a usar todos os recursos da diplomacia para preservar a estabilidade da Europa". Uma conversa também está marcada na sexta-feira, 28, entre Macron e o presidente russo, Vladimir Putin, e o francês disse que é preciso "eliminar qualquer mal entendido".

Até agora, uma série de rodadas diplomáticas falharam em desacelerar a crise, que piorou nos últimos dois meses. Mas as movimentações do presidente francês reforçam a leitura de que os líderes da União Europeia tentam tomar a liderança das negociações - agindo de forma relativamente independente em relação a Estados Unidos e Reino Unido, que têm subido o tom da retórica.

A conversa com a Rússia acontece ainda após líderes europeus, incluindo Macron e o novo chanceler alemão Olaf Scholz, se reunirem por videoconferência com o presidente americano, Joe Biden, na segunda-feira, 24. Biden saiu da reunião afirmando que há "unanimidade" entre os aliados, mas, dias antes, europeus haviam pedido que se evitasse declarações "alarmistas" sobre o conflito, em clara alfinetada aos americanos.

Sobretudo a Alemanha se mostra mais reticentes em escalar as ameaças contra a Rússia - com a proximidade geográfica, riscos à estabilidade na Europa e a parcial dependência do gás russo.

O foco dos diplomatas no encontro desta quarta-feira será novamente convencer Moscou a cumprir os acordos de Minsk 2, de 2015, em que os russos se comprometiam a retirar apoio a grupos separatistas na Ucrânia. A raiz do conflito atual data de 2014, quando a Rússia apoiou separatistas na Crimeia e terminou anexando o território que era até então ucraniano.

Volodymyr Zelensky, Emmanuel Macron, Vladimir Putin e Angela Merkel em rodada anterior no Formato Normandia, em 2019 (CHRISTOPHE PETIT TESSON - Pool)

Um resquício da guerra que começou nessa época é a região de Donbas, onde estão as províncias de Donetsk e Luhansk. Ambas são repúblicas autoproclamadas e também em embate com o governo central ucraniano há sete anos, com apoio russo. A estimativa é que 14.000 pessoas já tenham morrido nos conflitos no leste da Ucrânia desde 2014.

Nessa fatia leste ucraniana, boa parte da população fala russo e há uma divisão profunda em relação à parcela oeste e mais pró-Europa, como a capital Kiev. O apoio financeiro e estratégico da Rússia aos grupos separatistas na região, como já ocorreu na Crimeia, é um dos principais frutos de embate e motivo de sanções de Estados Unidos e União Europeia contra Moscou nos últimos anos.

O que trava as negociações

A Ucrânia acusa a Rússia de ameaçar sua independência e teme que russos avancem sobre mais territórios. O Ocidente estima que mais de 100.000 soldados russos estejam posicionados há meses nas fronteiras ucranianas.

Um avanço russo contra a Ucrânia poderia significar uma ameaça também para outros membros da Otan na região. Tropas da aliança ocidental responderam nos últimos dias afirmando estarem "sob alerta" e EUA e europeus ameaçam mais sanções contra a Rússia.

Putin nega ter a intenção de invadir a Ucrânia. Também exige que a Otan pare de se expandir para os países da Europa Central, onde estão muitas ex-repúblicas soviéticas e que a Rússia avalia serem suas áreas de influência.

Analistas apontam que um dos objetivos do presidente russo com as movimentações na Ucrânia tende a ser a demonstração de força perante o Ocidente. 

A Ucrânia têm treinado até mesmo civis nas últimas semanas para o caso de um ataque. O exército ucraniano deve receber algum apoio financeiro de aliados da Otan, mas tropas ocidentais não tendem, na teoria, a se envolver diretamente, uma vez que a Ucrânia não é parte da aliança. O objetivo da movimentação das tropas seria apenas defensivo, para proteger os membros da Otan na região. Mas com as medidas de ambos os lados, a tensão segue em alta e o conflito tende a perdurar por meses.

As negociações no Formato Normandia nasceram com grandes expectativas em 2014, mas pouco atingiram na resolução da crise ucraniana até hoje. O melhor para o mundo é que a história comece a mudar nesta semana e que os conflitos na região caminhem para uma solução.

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