França mobiliza blindados e 45 mil policiais para conter distúrbios violentos
Macron pediu aos pais que façam os filhos ficarem em casa e disse que redes sociais e videogames contribuem para a promoção de violência
Agência de notícias
Publicado em 30 de junho de 2023 às 20h25.
Última atualização em 30 de junho de 2023 às 20h50.
A França anunciou, nesta sexta-feira, a mobilização de blindados e um contingente de 45 mil policiais para conter os distúrbios violentos que se espalharam para várias cidades do país, em resposta à morte de um jovem de 17 anos baleado à queima-roupa por um policial.
Após mais uma noite de protestos, que já deixaram pelo menos um manifestante morto, com prédios públicos atacados, lojas saqueadas e veículos incendiados, o presidente Emmanuel Macron reforçou as medidas de segurança e apelou diretamente aos pais dos menores que participam dos protestos, pedindo que os façam ficar em casa e dizendo ainda que as redes sociais desempenham um papel significativo nos eventos dos últimos dias.
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O líder francês afirmou que as mídias sociais estão contribuindo para a uma forma de "violência imitativa" na França e que as agências estatais solicitarão que plataformas populares entre os jovens, como o TikTok e Snapchat, cooperem e removam o conteúdo "mais sensível", pedindo às empresas que divulguem às autoridades as identidades daqueles que as usam "para pedir desordem e promover a violência".
"Um terço das prisões nas últimas noites diz respeito a jovens ou às vezes muito jovens", disse Macron em uma reunião de crise com os principais ministros nesta sexta-feira, a segunda na semana, interrompendo sua participação em uma cúpula em Bruxelas com líderes da União Europeia. "É responsabilidade dos pais mantê-los em casa."
Ele destacou ainda que a violência está sendo organizada online e comparou alguns jovens envolvidos a personagens de videogames que os influenciaram negativamente.
"Entre os mais jovens, isso leva a uma espécie de afastamento da realidade, e às vezes temos a impressão de que alguns deles estão vivendo nas ruas o que veem nos videogames que lhes causaram lavagem cerebral", disse Macron.
A violência explodiu na terça-feira nos subúrbios de Paris e se espalhou pelo país após a morte de Nahel, atingido por um tiro à queima-roupa disparado por um policial durante uma blitz em Nanterre, a oeste da capital francesa.
"Estas próximas horas serão cruciais", disse o ministro do Interior, Gérald Darmanin, dirigindo-se às forças de ordem e aos bombeiros nesta sexta-feira. "[ A França ] está enfrentando tumultos de violência incomum."
O balanço dos confrontos na última noite foi alto e culminou na morte de um jovem de 20 anos, que teria caído do teto de um estabelecimento comercial. Segundo a polícia, o rapaz teria caído "durante um saque" ao local, enquanto o Ministério Público de Rouen, no Noroeste da França, afirmou que o estabelecimento "não estava sendo atacado" na ocasião.
De acordo com o ministro, 917 pessoas foram presas — um balanço anterior do Ministério apontava 408 prisões somente em Paris e seus arredores —, a maioria com 17 anos. Ondas de violência também foram registradas — e reprimidas — em outras cidades do país, como Lille, Lyon e Marselha. Um balanço inicial divulgado pelo ministro Darmanin, indicava que 249 agentes de segurança ficaram feridos tentando impedir atos de vandalismo.
Ainda segundo os dados oficiais divulgados mais cedo pelo ministro, 492 prédios foram vandalizados, 2 mil veículos foram queimados e 3,88 mil focos de incêndio foram registrados nas ruas do país na noite passada, incluindo no shopping center Les Halles e na turística e comercial rua Rivoli, que leva ao museu do Louvre.
Na capital, a polícia realizou uma operação para evacuar a Praça da Concórdia (em francês, Place de la Concorde), ao pé da famosa avenida Champs-Élysées, em meio à agitação, de acordo com a Reuters.
Em duas cidades da região da Alsácia, no Nordeste da França, Colmar e Mulhouse, foi estabelecido toque de recolher para menores desacompanhados nos próximos dias, informou a AFP.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, disse que serão estudadas "todas as opções", entre elas o estado de emergência que a direita e a extrema direita pedem.
O governo já recorreu a medidas de outro tipo para evitar novos distúrbios. Por um lado, reforçou o número de agentes — na quinta-feira foram mobilizados 40 mil — e autorizou o envio de blindados da chamada "gendarmeria", corporação militar que tem competência de segurança pública, sobretudo em áreas rurais. Darmanin pediu, ainda, a suspensão de grandes eventos como shows, o serviço de bondes e ônibus a partir das 21h e a venda de foguetes, galões de combustíveis e produtos inflamáveis.
'Hordas selvagens'
O governo está sob pressão, entre a direita e a extrema direita, que pedem uma linha dura — e inclusive uma "repressão feroz", nas palavras do político extremista Éric Zemmour — e os que pedem medidas de apaziguamento.
Dois sindicatos da polícia, entre eles o majoritário Alliance, pediram, em um duro comunicado, o "combate" às "hordas selvagens" que protagonizam os distúrbios e alertaram o governo que "vão entrar em resistência" assim que a crise for superada.
A oposição de esquerda, por sua vez, condenou o comunicado, que qualificou de "ameaça de sedição" e de "chamado à guerra civil". O líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon conclamou o "poder político" a "retomar o controle da polícia".
Sem se referir ao comunicado, o ministro do Interior pediu aos agentes para "respeitar as leis" e destacou que a "minoria de delinquentes [ dos distúrbios ] não representa a imensa maioria dos moradores dos bairros pobres".
Os fatos relançaram o debate recorrente da violência policial na França, onde, em 2022, 13 pessoas morreram em circunstâncias similares às de Nahel, e sobre as forças de ordem, consideradas racistas por parte da população.
A ONU pediu às autoridades francesas que se ocupem seriamente dos "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" em suas forças de segurança, acusações que o Ministério das Relações Exteriores qualificou de "totalmente infundadas".
Sábado de enterro
Vários países europeus, como Reino Unido, Alemanha e Noruega, alertaram seus cidadãos na França a evitarem as áreas de distúrbios e que aumentem as precauções.
No sábado será celebrado o enterro de Nahel, cuja morte, quando resistiu às ordens dos policiais, desatou os distúrbios, anunciou o prefeito de Nanterre, Patrick Jarry.
Mounia, a mãe da vítima, disse à rede France 5 que não culpava a polícia, mas sim o agente que tirou a vida de seu filho, já que "viu um rosto árabe, um menino, e quis tirar-lhe a vida".
A Justiça decretou prisão preventiva por homicídio doloso para o policial de 38 anos autor do disparo, cujas "primeiras" e "últimas" palavras durante sua custódia policial foram "para pedir perdão à família" de Nahel, segundo seu advogado