Os líderes das principais economias mundiais fecharam o acordo no encontro do G20 (Divulgação/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2010 às 14h07.
Seul - A França assume neste sábado a Presidência rotativa do G20 com um ambicioso programa por parte do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o desafio de implantar complexas propostas estipuladas esta semana em Seul.
Além disso, o G20 terá que enfrentar uma possível expansão da crise de dívida pública suscitada na Irlanda e que poderia chegar a países como Espanha, Itália, Portugal e Grécia.
Sarkozy saiu vitorioso na sexta-feira quando seu colega sul-coreano, Lee Myung-bak lhe ofereceu o bastão ao afirmar que a "França já contribuiu para o consenso" do grupo que integra os países mais desenvolvidos e os emergentes após a assinatura de um documento de intenções, que não serão concretizadas até 2011.
Ao contrário da Presidência do G8, que a França assumirá em janeiro, a do G20 se obtém mediante um calendário negociado. Dessa forma, alguns analistas acham que o presidente francês pretende se apoiar em sua projeção internacional para distrair a atenção da oposição social, que sofre por seu plano de previdência, e conseguir a reeleição em 2012.
"Em uma escala de dificuldade, o G20 é mais difícil (que a Presidência da UE em plena crise de 2008), sem dúvida. As diferenças em cultura, vínculos, história e interesses são maiores comparadas com as europeias", disse em Seul no fechamento da cúpula que girou em torno das tensões entre China e Estados Unidos por seus problemas cambiais.
O presidente francês anunciou que durante sua Presidência não vai dizer aos países do grupo o que precisam fazer.
A agenda do G20 para a Presidência francesa inclui um compromisso para evitar as desvalorizações competitivas e trabalhar para reduzir os desequilíbrios mundiais uma vez identificadas, em 2011, as distorções que afetam cada país, além de uma série de normas para que os bancos paguem por seus resgates.
O documento também inclui os perigos de uma escalada de desvalorizações competitivas e de fluxos de capital volátil, além de um dos 12 objetivos mais ambiciosos apresentados por Sarkozy em agosto para sua agenda presidencial do G20: acabar com o predomínio do dólar como moeda de referência de reservas e buscar divisas alternativas.
A agenda de Sarkozy "é de uma ambição sem igual", disse à Agência Efe John Kirton, codiretor do grupo de pesquisa do G20 da Universidade de Toronto, e presente na cúpula de Seul.
Esta ambição "é gaullista", acrescentou Kirton em referência ao líder Charles de Gaulle, que transformou o ouro, maior parte das reservas francesas, em dólares, uma medida que acelerou em 1971 o abandono do uso do metal para definir taxas de câmbio em favor da moeda americana.
A substituição do bilhete verde como divisa de referência é uma das duas propostas mais atrevidas do presidente francês para o G20; a outra é a reforma do Conselho de Segurança da ONU, segundo Kirton.
Sarkozy disse, em agosto, que afrontará os objetivos com os quais o grupo se comprometeu em Pittsburg (EUA), em 2009, já que, embora o trabalho fosse "importante e a credibilidade do G20 dependesse dele", não parecia suficiente.
"Paradoxalmente, vai ser mais fácil ser atrevido", assegurou, e esboçou uma dúzia de propostas, como as duas mencionadas, e outras entre as quais estão incluídos o reforço de mecanismos de gestão de crise com diretrizes multilaterais e a criação de um novo mecanismo de consulta de divisas além do grupo de ministros de finanças e governadores de bancos centrais do G7.
Outras propostas são regular os preços das matérias-primas para evitar a especulação, criar ferramentas para que os países importadores se protejam contra a volatilidade das divisas, uma reforma de gestão do G20 que inclua um secretariado, o desenvolvimento global, normas de boa conduta e melhores práticas para a ajuda pública.
E também um imposto para transações financeiras, enfrentar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o problema da mudança climática abordado na cúpula de Copenhague.
Caso consiga avanços em algum destes objetivos, Sarkozy pode renovar o apoio popular quando terminar sua Presidência do G20, justo antes das eleições na França.
A proposta do presidente francês de uma aliança de segurança com a Rússia é vista por Washington como uma desestabilização contra sua suposta hegemonia, que lembra a Guerra Fria.
A Presidência francesa do G20 acaba com a cúpula que será realizada em Nice, no final de 2011