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Para Greenwald, governo dos EUA é conivente com crimes

Crimes financeiros, de tortura, espionagem e fraude cometidos nos EUA são praticados com a conivência do Estado, declararam os debatedores na Flip

Protesto contra espionagem dos EUA: para debatedores, crimes de governo têm a conivência do Estado (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2014 às 17h50.

Rio de Janeiro - Impunidade, poder e imprensa foram os motes da primeira mesa que abriu o quarto dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) neste sábado (2).

Os crimes financeiros, de tortura, de espionagem e de fraude cometidos nos Estados Unidos e pelo governo norte-americano são praticados com a conivência do Estado e da grande imprensa declararam os norte-americanos Charles Ferguson e Glenn Greenwald, convidados na mesa “Liberdade, liberdade”, primeira conversa do dia.

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Ferguson fez o documentário Trabalho Interno sobre crise financeira de 2008, ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 2011. Ele também escreveu um livro sobre o mesmo tema. O jornalista Greenwald ficou famoso mundialmente após revelar as denúncias feitas pelo ex-consultor da CIA Edward Snowden sobre a espionagem de cidadãos e países feitas pelos Estados Unidos por meio da internet.

Ferguson chamou a imprensa norte-americana de complacente e que contribui para as violações de direitos humanos pois está mais preocupada com dinheiro do que com a ética jornalística.

Greenwald defendeu que a declaração feita pelo presidente Barack Obama ontem (1º) de que algumas pessoas foram torturadas pelo governo evidencia a posição imperialista norte-americana de controlar nações e cidadãos a qualquer custo.

“A maneira tão casual da declaração parecia que essas pessoas que torturam são legais, mas estavam sob muita pressão e portanto não devem ser julgadas”, declarou. “Nenhum torturador foi processado, centenas de milhares de vítimas não têm a quem recorrer por esses crimes. Os Estados Unidos têm 5% da população mundial, porém 25% de todos os detentos do mundo estão nos Estados Unidos”.

Outro exemplo de abuso e impunidade foi citado pelo documentarista ao falar da crise financeira mundial, que para ele não foi um erro, mas um crime do mercado financeiro que secretamente apostou no próprio fracasso com fins de lucro e planejou esse fracasso. “Zero é o número dos processos criminais desses crimes. E o presidente Obama afirma que não houve crime e que não há nada a fazer. Mas ele estudou direito em Harvard e não é nenhum tolinho,” disse. “Em uma década, as pessoas vão esquecer e talvez enfrentaremos uma nova crise no futuro”.

O jornalismo que está sendo feito nos EUA, segundo Greenwald, em vez de denunciar as injustiças, endossa as violações cometidas pelas autoridades e pelo setor privado, o que ajuda a mascarar e ocultar ilegalidades que ocorrem no país. Para ele, a imprensa adotou uma falsa neutralidade que, na verdade, é uma forma de ativismo, de respaldar as ações do Estado.

“Quando há técnicas de investigação por meio de tortura, a mídia americana usa a palavra tortura apenas quando é feita por outros países. Quando é feita pelos Estados Unidos chamam de técnicas de investigação rigorosas,” avaliou. “Os que mataram civis inocentes palestinos são chamados pela imprensa de democracia lutando contra o terrorismo e os que mataram soldados israelenses são terroristas”.

Para o jornalista, atitudes mais radicais de denúncia como a de Edward Snowden são resultado de um sistema fundamentalmente corrupto, pois as instituições que existem para combatê-lo, como o Congresso, a Justiça e a mídia, são controladas por atores envolvidos nesse sistema.

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