Flexibilização do câmbio mostra boa vontade da China
Secretário Geral da Câmara de Comércio Brasil-China diz que decisão evita conflitos e vai beneficiar o país asiático apenas no longo prazo
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2010 às 16h20.
São Paulo - Na visão dos especialistas da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), a decisão do governo chinês de flexibilizar o câmbio é principalmente uma demonstração de "boa vontade" para evitar possíveis conflitos internacionais.
"O benefício de uma moeda valorizada virá no longo prazo. Por enquanto, o anúncio do governo reflete o fato de que a China assumiu o papel de país responsável, para melhorar seu relacionamento com o mundo e internacionalizar o iuane", disse Tang Wei, secretário geral da CBCDE.
Wei participou de um evento realizado na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), nesta quarta-feira (23/06), que abordou a relação bilateral entre Brasil e China. Ele afirmou que a economia chinesa, embora cresça em ritmo acelerado, não vai expandir sua influência internacional a menos que o país ceda e considere a valorização da moeda.
Entretanto, o secretário geral da CBCDE acredita em uma apreciação gradual do iuane. Para ele, o ideal seria que o governo se esforçasse em ajustar para cima o câmbio em cerca de 0,5% a cada semestre, ou uma vez por ano. "Se a moeda valorizar bruscamente, é um risco para muitas empresas na China que dependem fundamentalmente de exportações. Se estas companhias tiverem problemas, a economia mundial também pode sofrer", alerta.
Comércio
Também esteve presente no evento da Fecomercio o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. Ele ressaltou o fato de a China ser atualmente o principal parceiro do Brasil no comércio internacional. Em 2009, o fluxo comercial entre os dois países chegou a 36,1 bilhões de dólares.
Entretanto, para Ramalho, mesmo diante deste cenário favorável a ambos os países, a pauta de exportações brasileiras para a China preocupa. Em 2009, 77% das exportações nacionais para o mercado chinês foram de commodities, como minério de ferro e soja. Já a parcela de produtos manufaturados foi bem menor - apenas 23%. Pelo lado das importações, a situação se inverte. Cerca de 98% dos produtos que o Brasil comprou da China eram manufaturados e as commodities representavam apenas 1,6% .
Na opinião de Ramalho, a valorização da moeda chinesa representa uma boa oportunidade para que o Brasil aumente o peso da participação dos manufaturados nas exportações. "Nossos produtos já são competitivos, mas com um câmbio favorável, vai melhorar ainda mais."
O pensamento da CBCDE é o oposto. Para Tang Wei, o lucro de exportações de produtos brutos do Brasil para a China é grande demais e deve absorver as pequenas flutuações que o câmbio terá inicialmente. "Diante do quanto o Brasil exporta em commodities, a flexibilização é insignificante. Não aconselho os empresários brasileiros a apostarem muito, pelo menos agora, na valorização do iuane para mudar a pauta de exportações."
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