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Fiocruz quer monitorar saúde de vizinhos de siderúrgica por 20 anos

Moradores do bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, foram expostas a fuligem metálica emitida pela CSA

Instalações da CSA: moradores da região reclamam (Germano Lüders/EXAME.com)

Instalações da CSA: moradores da região reclamam (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2011 às 16h55.

Rio de Janeiro – Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram hoje (24), durante audiência na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), um laudo apontando a necessidade de que a saúde dos moradores de Santa Cruz, na zona oeste da cidade, seja monitorada por pelo menos 20 anos após o fim da exposição à fuligem metálica emitida na atmosfera pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), instalada na região.

O documento aponta que o contato com essas partículas pode gerar diversos prejuízos à saúde, como alergias respiratórias, de pele, problemas cardiológicos e, a longo prazo, o surgimento de casos de câncer.

No ano passado, houve emissão irregular de fuligem em duas ocasiões por causa de problemas no sistema operacional da siderúrgica.

O relatório, desenvolvido com base em atendimentos prestados no ambulatório da instituição a sete pessoas que moram perto da CSA, aponta que, em todos os casos, houve piora no quadro de problemas respiratórios, como tosse, falta de ar e sinusite, após os acidentes com a emissão de poluentes. O laudo também sugere que haja uma busca ativa de casos na região pelas autoridades de saúde.

“É necessária uma abordagem epidemiológica através da busca ativa de casos. Esta população deveria ser colocada sob vigilância ambiental em saúde pelo tempo em que ficar exposta e por pelo menos 20 anos após a retirada da exposição”, diz o documento.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz, Alexandre Dias, embora a empresa negue que os particulados emitidos sejam tóxicos, afirmando serem compostos apenas por carbono e ferro, há evidências de que se tratam de um misto de metais. Ele também destacou que esses problemas são mais evidentes em grupos de maior vulnerabilidade como crianças, idosos e pessoas que já tenham problemas respiratórios.

“Nós temos clareza de que há um misto de metais, que, com as emissões, chegam às casas das pessoas, na agricultura e em várias regiões. Esses metais podem gerar resposta imediata ou crônica ao longo dos anos. O câncer também é um risco em potencial, já que a literatura especializada indica isso”, explicou.

Ainda durante a audiência, agricultores integrantes de uma colônia de japoneses em Santa Cruz protestaram contra as constantes inundações que seus terrenos vêm sofrendo a partir da instalação da CSA na região.

Segundo o engenheiro agrônomo Otávio Myiata, integrante da colônia, a produção de aipim, considerado nobre por suas qualidades gastronômicas, está ameaçada, causando prejuízos a 19 famílias que vivem da atividade.

“O Canal de São Fernando, que nos serve de drenagem, foi desviado pela CSA para desaguar no Rio Guandu. Quando o rio enche muito, há um refluxo no canal e alaga nossa área de produção, colocando em risco toda a atividade das nossas famílias”, afirmou.

O representante do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), responsável pelo licenciamento ambiental da companhia, Luiz Firmino, lembrou que a empresa opera, ainda, com permissão provisória e garantiu que o órgão vem acompanhando e exigindo os ajustes necessários no processo de produção para evitar danos ambientais e à saúde da população.

Já o diretor de Sustentabilidade da CSA, Luiz Claudio Castro, afirmou que, como em todo grande empreendimento tecnológico, somente o funcionamento é capaz de apontar as mudanças necessárias para que os padrões desejados sejam atingidos.

“A empresa está em fase de ajustes de processos e de projetos. Estamos sendo licenciados de acordo com os trâmites legais. Nós queremos atuar em conjunto com a comunidade e ser agentes promotores de desenvolvimento econômico e social da região”, disse.

Castro também negou que a empresa tenha mudado o curso do Canal de São Fernando, alegando que essa alteração é anterior à instalação da siderúrgica.

O diretor da companhia evitou estabelecer um prazo para a solução definitiva das emissões de fuligem na atmosfera, que garantiu não ser tóxica, mas disse que a empresa está trabalhando para que essa redução seja contínua.

Por causa das emissões em 2010, a CSA foi multada em R$ 1,2 milhão, em agosto, e em R$ 2,4 milhões, em dezembro do ano passado, e foi obrigada a investir R$ 14 milhões em obras de saúde e infraestrutura da região. A empresa também terá que construir um Centro de Tratamento da Diabetes e Hipertensão e uma Clínica da Família no bairro.

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