Fiesp teme protecionismo camuflado por tema ambiental
Entidade mostra suas preocupações antes da reunião da ONU no México que vai debater as mudanças climáticas
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2010 às 15h45.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) alertou para prováveis interesses comerciais camuflados pela temática ambiental na 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16), que será realizada entre 29 de novembro e 10 de dezembro, em Cancún, no México.
"Temos que nos defender para que o (tema do) clima não seja uma maneira de camuflar interesses comerciais, como barreiras tarifárias e protecionismo", afirmou hoje João Sabino Ometto, vice-presidente da Fiesp e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas, durante seminário na capital paulista.
A Fiesp publicou hoje um informe com seu posicionamento sobre as medidas que estão em discussão em âmbito global contra as mudanças climáticas. No documento, a instituição defende que sejam criadas normas que "impeçam o estabelecimento de medidas unilaterais protecionistas justificadas como ações de mitigação aos gases causadores do efeito estufa".
No informe, a instituição se posicionou contra subsídios governamentais a ações de mitigação que prejudiquem o comércio entre países, conforme regulamenta a Organização Mundial do Comércio (OMC).
A Fiesp também alertou para os riscos, no Brasil, decorrentes da criação de diferentes legislações estaduais sobre mudanças climáticas. "O risco é de as legislações estaduais entraram na mesma dinâmica da guerra fiscal entre os Estados, com medidas para atrair ou espantar empresas", afirmou Carlos Cavalcanti, diretor do Departamento de Infraestrutura e Energia. "O ideal seria uma legislação nacional coordenada", disse.
No informe, a Fiesp chama a Política Nacional de Mudanças Climáticas (Lei 12.187, de 2009) de "ambígua" por não definir a obrigatoriedade para se cumprirem as metas de redução das emissões de gás carbônico, e espera que a regulamentação da lei solucione esta questão. Além disso, também aponta problemas na política do Estado de São Paulo sobre o tema (Lei 13.798, de 2009) e o "risco de um efeito prejudicial à atividade econômica no Estado e no País".
Entre os problemas citados, está o curto prazo e a falta de tecnologia para o setor industrial se adaptar ao cumprimento das metas.
Expectativas
Apesar dos alertas, Carlos Cavalcanti avalia que a COP-16 pode obter avanços e não representa uma grande preocupação para a economia brasileira. "Cancún não preocupa nem prejudica a indústria brasileira, porque temos uma matriz energética limpa", disse.
Na opinião de Cavalcanti, a COP-16 pode avançar em acordos pontuais, como o caso do Fundo Limpo ("Green Climate Fund"). O fundo, anunciado durante a COP-15, em Copenhague, na Dinamarca, tem previsão de direcionar US$ 30 bilhões para ações contra a emissão de gases causadores do efeito estufa. "É possível que ele avance para ser operacionalizado," disse.
Outro possível avanço citado por Cavalcanti está na exploração e aperfeiçoamento dos mecanismos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDDs), que pode gerar créditos de carbono para o Brasil. No informe publicado hoje, a Fiesp defende que esses mecanismos devem ser "uma das prioridades do Pacote de Cancún".