Fernández e Cristina: a morte de um procurador e a ligação com o Irã são até hoje temas não explicados na Argentina (steban Collazo/Frente de Todos/Handou/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2020 às 05h43.
Última atualização em 22 de janeiro de 2020 às 06h29.
São Paulo — Pouco mais de um mês após ter assumido a presidência da Argentina, o peronista Alberto Fernández escolheu Israel como destino de sua primeira viagem internacional à frente do governo.
Além de encontros bilaterais, na agenda do presidente, que chega ao país nesta quarta-feira e deve retornar a Buenos Aires no sábado, está a participação no Fórum Internacional sobre Antissemitismo, ocasião que deve desenterrar um controverso atentado contra uma comunidade judaica argentina que até hoje é visto como uma mancha obscura na história recente do país.
O primeiro compromisso de Fernández em solo israelense será ainda nesta quarta-feira, um jantar oferecido pela comunidade judaica a líderes de diversos países, entre eles Vladimir Putin, da Rússia, e Emmanuel Macron, da França. O presidente argentino também deve ter um encontro bilateral com seu par local, Reuven Rivlin, e, na quinta-feira, visitar o museu do holocausto de Jerusalém.
Além de desenterrar um labirinto de narrativas, o local escolhido para a primeira viagem internacional do novo presidente endossa a tentativa de afastar a imagem de Fernández de sua vice, Cristina Kirchner.
A visita a Israel ocorre poucos dias após o 5° aniversário da morte do procurador Alberto Nisman, encontrado em seu apartamento com um tiro na cabeça no dia 18 de janeiro de 2015, às vésperas de apresentar uma denúncia contra a então presidente Kirchner ao Congresso argentino.
Para a comunidade judaica da Argentina, Nisman é considerado a vítima número 86 do atentado à organização beneficente Amia, que teve sua sede destruída por um bomba em 1994, matando 85 judeus. O atentado atribuído a autoridades do Irã até hoje é um assunto não resolvido na Argentina.
Após assumir as investigações do caso, Nisman apontou que, em 2012, o governo de Kirchner teria negociado um acordo com Teerã para acobertar autoridades iranianas de alto escalão suspendendo alertas vermelhos da Interpol. Em troca, a Argentina seria favorecida com acordos comerciais e com petróleo iraniano.
Antes de apresentar o resultado de suas investigações ao Congresso, em 2015, Nisman foi encontrado morto. Até hoje, nem a morte do procurador nem o atentado à Amia foram de fato esclarecidos.
Ao participar do fórum sobre antissemitismo e visitar o museu do holocausto em Israel, Fernández inevitavelmente reavivará uma parte sombria e não explicada da história recente argentina. Em contrapartida, devolve ao poder, de forma interina, sua vice-presidente — fato que tem sido motivo de excitação entre os kirchneristas nos últimos dias.