Membros das FARC durante coletiva: após a instalação das negociações em Oslo, a mesa começará com o debate sobre o desenvolvimento agrário integral (©AFP / Adalberto Roque)
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2012 às 17h04.
Bogotá - O governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) abrirão em Oslo um processo de paz com uma agenda que ambas partes qualificaram de "realista" e que tem como eixos buscar uma solução ao problema das terras e o abandono das armas por parte do grupo guerrilheiro.
Uma agenda que se completa com outros três grandes temas: a entrada dos guerrilheiros desmobilizados na vida política, a solução ao problema do narcotráfico e a reparação às vítimas do longo conflito.
Estes pontos, somados a um sexto aspecto referente à implementação das decisões adotadas, compõem o "Acordo Geral para o Fim do conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura", negociado em segredo pelas partes entre os dias 23 de fevereiro e 26 de agosto deste ano em Havana.
O breve e concreto plano, em comparação às agendas intermináveis de anteriores tentativas frustradas de paz, alimentou o otimismo em um país que vive 50 anos de conflito armado, apesar dos negociadores advertirem que este é apenas o princípio de um longo e difícil caminho rumo à paz.
Um confronto no qual ninguém contou os mortos, mas que se calculam em milhões, e com outros aproximadamente cinco milhões de camponeses que abandonaram seus lares pela violência exercida pelas guerrilhas, pelos paramilitares, pelos grupos criminosos e pelo próprio Estado, segundo a Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento (Codhes).
Um dos aspectos que mais expectativas levantou é que "pela primeira vez se inclui na agenda, de maneira expressa, o abandono das armas e o fim do conflito", destacou à Agência Efe o especialista em segurança e doutor em Ciência Política, Alejo Vargas.
Após a instalação das negociações em Oslo, a mesa começará com o debate sobre o desenvolvimento agrário integral, que tem uma grande carga de complexidade por tratar-se da origem do histórico conflito.
O presidente Juan Manuel Santos aplanou o terreno com a sanção da Lei de Vítimas e Restituição de Terras, em vigor desde janeiro, e com uma proposta de Lei de Desenvolvimento Rural que se debate no Congresso e que compreende desde a assistência técnica a camponeses e a concessão de créditos até a adequação de terrenos.
O fato de que o governo trabalhe nessa direção pode favorecer "um acordo muito fácil", reconheceu à Efe o economista e analista de desenvolvimento agroindustrial Absalón Machado, pois embora não se conheça ainda a posição das Farc se presume que as propostas estaduais sejam bem recebidas.
Segundo o ministro de Agricultura colombiano, Juan Camilo Restrepo, das solicitações por terras despojadas apresentadas 37% dos reclamantes diz que os responsáveis são as Farc e desses prédios "se presume que até 70% podem estar minados ", ou seja, que abrigariam minas explosivas.
O propósito de Santos é chegar a um acordo sobre pelo menos um ponto antes de junho de 2013, e no caso de não alcançá-lo está disposto a suspender as negociações.
O tema das terras é fundamental para buscar soluções ao resto da agenda, pois, além disso, guarda relação com os planejamentos de substituição dos cultivos de folha de coca que as Farc reconheceram proteger em troca do pagamento de um "tributo" por volume de droga produzida.
Machado, também diretor acadêmico do Relatório de Desenvolvimento Humano Colômbia 2011, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), acredita que se for modificado o "modelo de desenvolvimento" surgiriam possibilidades de reinserção para alguns dos 8,5 mil combatentes das Farc que hipoteticamente deixariam as armas.
E o futuro que esperaria outros integrantes da guerrilha seria a vida política, mas para isso deve haver garantias.
Nesse sentido pesa ainda a sombra da União Patriótica, o partido criado após as conversas lideradas pelo presidente Belisario Betancour (1981-1986) e muitos de seus líderes foram assassinados por paramilitares e pelo próprio Estado.
O co-presidente da Comissão de Paz do Congresso e representante do Polo Democrático Alternativo (PDA), Ivan Cepeda, lembrou à Efe que esse movimento surgiu como "um porto de chegada da guerrilha à vida política", e por isso considerou que "será um enorme desafio garantir a vida" dos desmobilizados que optem por essa via.
Desafios que se somam à busca da reconciliação e o ressarcimento às vítimas. Como assegura Absalón Machado, "o fundamental é que há vontade de chegar a um acordo, mesmo que os temas sejam difíceis".