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Fantasmas das guerras continuam vivos para 1 milhão nos EUA

Mais de um milhão de americanos sofreram algum transtorno psicológico e bilhões foram gastos para curar ferimentos de guerras que estes trouxeram para casa


	Soldados americanos: anualmente, são gastos US$ 1 bilhão em prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças como o transtorno do estresse pós-traumático
 (Getty Images)

Soldados americanos: anualmente, são gastos US$ 1 bilhão em prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças como o transtorno do estresse pós-traumático (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de abril de 2014 às 10h27.

Washington - Em 13 anos de guerras, que estão a ponto de chegar ao fim, mais de um milhão de americanos sofreram algum tipo de transtorno psicológico e bilhões de dólares em dinheiro público foram gastos para curar ferimentos de conflitos que estes trouxeram para casa.

O tiroteio protagonizado na quarta-feira passada pelo soldado porto-riquenho Ivan López, que matou três pessoas e feriu 16 antes de se suicidar, é uma recordação da complexidade dos problemas psicológicos derivados da estrita vida militar e da imprevisibilidade das consequências.

Segundo disse à Agência Efe um porta-voz do Departamento de Assuntos de Veteranos, ajudar homens e mulheres que serviram o país no exército é uma das "mais importantes prioridades (para o governo) e um dos desafios mais urgentes".

As consequências das guerras no Afeganistão e no Iraque "serão sentidas muitos anos depois", devido ao impacto emocional nos soldados, explicou Craig Bryan, psicólogo e analista do Centro Nacional de Estudos sobre Veteranos.

O ataque de 11 de setembro de 2001 traumatizou todo os Estados Unidos, mas também predispôs o país a iniciar uma guerra global contra o terrorismo, primeiro no Afeganistão, e entre 2003 e 2011 no Iraque.

Os EUA preparam-se para pôr um fim em dezembro à guerra do Afeganistão e encerrar um período bélico de 13 anos, que levou 2,6 milhões de americanos a passarem pela experiência do combate.

"O maior perigo agora é que, ao sair do Afeganistão, a consciência social sobre essas questões desapareça e seja muito mais difícil para os soldados receber o apoio público necessário para seus problemas", opinou Bryan.

Anualmente, o Pentágono gasta cerca de US$ 1 bilhão em prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças como o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), cuja incidência aumentou na última década em 656% e incapacita muitos soldados para seguir em seus postos em tempos de paz ou retornar à vida civil.

Apesar do caso de Fort Hood trazer à tona os problemas mentais dos soldados, diariamente militares em atividade, veteranos e suas famílias lidam silenciosamente com a depressão, o alcoolismo e a violência doméstica.


São raros os casos em que a ansiedade e o TEPT acabam em tiroteios como os de Fort Hood. O problema mais grave do pós-guerra americano é o altíssimo índice de suicídios entre os militares reformados e em serviço e o grande número de famílias desestruturadas.

O índice de mortes autoinfligidas entre o pessoal militar duplicou entre 2004 e 2009 para 30 mortes a cada 100 mil pessoas, mais que o dobro da média para o conjunto da população.

Segundo um estudo da Kaiser Family Foundation, mais da metade dos veteranos do último período de guerras americano conhece pelo menos um militar que se suicidou ou tentou tirar a própria vida e mais de um milhão sofrem acessos repentinos de violência.

Um a cada cinco ex-combatentes sofre de depressão e, segundo uma recente pesquisa do Instituto de Medicina, o número de 936.283 militares e veteranos que foram diagnosticados com problemas mentais na última década é provavelmente muito maior, "porque muitos casos não são identificados adequadamente".

Segundo o relatório, a presença em zonas de combate "aumenta consideravelmente" a possibilidade de conflitos conjugais, violência doméstica, desemprego e exclusão social de pessoas que de alguma maneira acabaram dando a vida por seu país.

Na opinião de Bryan, as sombras da guerra são um problema que afeta toda a sociedade. "O que se passa com os soldados é algo que concerne a toda a comunidade, é um reflexo do que acontece em todo o país".

Segundo o estudo do Instituto de Medicina, o Pentágono ainda precisa identificar melhor quais medidas são mais eficientes para evitar os problemas psicológicos dos soldados.

O relatório ressalta que as Forças Armadas diminuem a importância de iniciativas que "empiricamente" têm um impacto positivo, como restringir o acesso a armas pessoais, álcool e remédios, como opiáceos, que em alguns casos não são usados adequadamente, geram dependência e pioram a situação.

Como disse nesta semana o secretário do exército, John Mchugh, perante o Congresso em referência ao tiroteio de Fort Hood, apesar de todos os recursos, os programas de ajuda criados a partir do zero, as tentativas de explicar e esquecer a guerra, "às vezes acontecem coisas que são impossíveis de entender".

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