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A Promon dissemina o conceito de "edifício verde" e exige que seus fornecedores também adotem práticas sustentáveis nos negócios

Gemignani (--- [])

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Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

Às 10 da manhã do dia 3 de outubro, os empresários Pedro Peres, Paulo Peres e Roberto Donato, sócios da prestadora de serviços de limpeza paulista InService, receberam os auditores de uma de suas maiores clientes, a empresa de engenharia Promon. Durante a visita, os fiscais verificaram que todos os funcionários da InService são registrados, trabalham uniformizados e com materiais adequados, que a empresa promove treinamentos periódicos e usa produtos de baixo impacto ambiental. A conclusão dos auditores: não há nada que impeça a InService de continuar a prestar serviços de limpeza nos escritórios da Promon em São Paulo e no Rio de Janeiro, como faz desde 2003. "Foi a primeira vez que um cliente veio ver de perto como trabalhamos na prática", diz Peres.

A iniciativa revela a preocupação da Promon em estreitar o relacionamento com seus fornecedores e alinhar estratégias de negócios sustentáveis. A idéia de realizar auditorias começou a ser implantada neste ano. O primeiro passo foi capacitar nove funcionários para avaliar os fornecedores já existentes e selecionar os novos. "Queremos que os princípios de sustentabilidade façam parte do dia-a-dia dos negócios dos nossos parceiros assim como faz parte dos nossos", diz Luiz Ernesto Gemignani, diretor-presidente da Promon. Trata-se de tarefa trabalhosa, sobretudo pela quantidade de fornecedores com os quais a Promon se relaciona: numa grande obra, o número de empresas envolvidas pode chegar a 2 000.

O cuidado com o aspecto socioambiental deve estar presente também na concepção de cada projeto. Um exemplo é a obra de modernização da Refinaria Henrique Lage (Revap), da Petrobras, no Vale do Paraíba, no norte de São Paulo. Iniciado em março deste ano e com término previsto para 2010, o empreendimento conta com um sistema de captação de água de chuva para uso nos sanitários e na limpeza externa. Telhas translúcidas na cobertura de algumas áreas, como refeitório, oficinas e almoxarifado, permitem aproveitar a iluminação natural e economizar energia elétrica. É a primeira vez que a Promon adotou soluções como essas no canteiro de obras, e não somente depois que o empreendimento estivesse pronto. Todas essas medidas foram sugeridas por um grupo de 15 engenheiros da Promon, treinados e certificados em Leadership in Energy and Environmental Design (Leed), o padrão americano utilizado para atestar edifícios ambientalmente sustentáveis. Toda semana, esse grupo se reúne para discutir maneiras de aplicar tecnologias que permitam a conservação de energia e o uso inteligente dos recursos nas construções. "Como gera economia, o uso racional dos recursos naturais recebe o aval de todos os clientes", afirma Álvaro Pureza, coordenador do comitê de sustentabilidade da Promon.

Redução de consumo
Antes de aceitar qualquer empreitada, o departamento de análise de riscos da Promon avalia os possíveis impactos socioambientais da obra e apresenta suas sugestões ao cliente. Se o contratante não aceitar as recomendações, a obra pode ser até recusada -- o que já aconteceu. Porém, apesar desse cuidado na seleção do projeto, a Promon ainda não encontrou uma forma ideal de mensurar o resultado dos impactos sociais e ambientais depois que seus empreendimentos estão prontos. "Estamos buscando, fora do país, alternativas para calcular esses impactos. Assim, saberemos como e onde precisamos melhorar para economizar ainda mais os recursos", diz Gemignani.

O uso racional de recursos naturais se estende à própria sede da Promon, no bairro paulistano da Vila Olímpia, onde trabalham 800 funcionários. Em 2005, a empresa implementou medidas como a troca de torneiras comuns pelas automáticas e o uso da água de poço artesiano em vez da fornecida pelo sistema de abastecimento. Desde então, o consumo de água caiu 40%. Além disso, 98% do papel e 100% das lâmpadas são reciclados. Coletores de pilhas e baterias estão espalhados por todos os ambientes -- e muitos funcionários costumam trazer material também de casa. "Todos ganham com isso", diz Gemignani.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- Aplica os conceitos de green building ("edifício verde") nos contratos com clientes.
- Todos os funcionários são acionistas da empresa.
- A soma dos salários nominais dos funcionários admitidos em 2006 é maior que a dos demitidos no mesmo período.
Pontos fracos
- O balanço social evita temas polêmicos ou negativos,como acidentes de trabalho ou mortes em serviço. Não aborda também assuntos como escolha por materiais recicláveis ou ações para evitar acidentes nas obras.
- Não tem uma política para incentivar a diversidade dos funcionários.
- Não mensura ainda o resultado dos impactos ambientais e sociais dos empreendimentos entregues - a avaliação é feita apenas antes do início do projeto.
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