Representantes de diversos países europeus: eles preferiram expressar seu descontentamento, mas sem chegar ao ponto de suspender as negociações e relações com os EUA (AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2013 às 11h11.
Bruxelas - Os dirigentes europeus, supostas vítimas da espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana, optaram por uma resposta branda a este escândalo de proporções planetárias, preocupados principalmente em não prejudicar as relações com seu sócio estratégico.
Eles preferiram expressar seu descontentamento, mas sem chegar ao ponto de suspender as negociações e relações com os Estados Unidos.
"Não se trata de aumentar a pressão desnecessariamente em relação aos Estados Unidos", declarou o primeiro-ministro belga Elio Di Rupo, resumindo o estado de espírito dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia.
Após o primeiro dia de cúpula, os 28 líderes tentam apresentar uma unidade de fachada para exigir explicações de Washington.
A ofensiva é liderada pela França e pela Alemanha, que irão "discutir bilateralmente com os Estados Unidos, a fim de encontrar até o final do ano um acordo sobre suas relações mútuas nesta questão", explicou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.
Esta "iniciativa conjunta visa encontrar uma solução para que este tipo de incidente não se repita", acrescentou, enquanto novas revelações surgem a cada dia.
O jornal britânico The Guardian afirmou na quinta-feira que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, já envolvida em casos de espionagem na França, Brasil e México, grampeou as comunicações de 35 líderes mundiais, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel.
As revelações, que surgiram a partir de junho, "criaram uma tensão considerável em nossas relações com alguns dos nossos mais próximos parceiros estrangeiros", admitiu Lisa Monaco, conselheira de Barack Obama para a segurança interna.
Washington justifica o fortalecimento de seu programa de espionagem nos últimos anos pelo aumento de ameaças terroristas desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
Tal preocupação é considerada bastante compreensível por muitos líderes europeus que apontam, no entanto, certos desvios.
"Todo mundo pode entender a adoção de medidas excepcionais quando há ameaças terroristas importantes (...), mas não estamos em uma situação onde é preciso espionar uns aos outros", declarou nesta sexta Di Rupo.
O presidente francês, François Hollande, disse por sua vez que "não podemos controlar os celulares das pessoas que encontramos em cúpulas internacionais".
O dilema dos europeus
O chefe de Governo finlandês, Jyrki Katainen, resumiu o dilema dos europeus: "devemos preservar a relação transatlântica e afirmar que isso (a espionagem) não é aceitável".
Para além dos protestos, os europeus rejeitam sanções, em particular uma eventual suspensão das negociações de livre comércio lançadas recentemente entre os dois blocos.
O líder do partido social-democrata alemão Sigmar Gabriel pediu tal medida, mas Merkel alertou para o risco de uma ruptura das discussões.
Uma frente comum dos 28 é muito difícil de se alcançar dado que a espionagem é praticada entre os próprios países europeus. A Grã-Bretanha, tradicionalmente muito próxima dos Estados Unidos, está envolvida em alguns casos revelados nos últimos meses.
Sinal de possíveis problemas, o primeiro-ministro britânico David Cameron não se exprimiu à imprensa desde o início da cúpula, ao contrário do que faz habitualmente.
O Washington Post informou nesta sexta-feira que os documentos obtidos pelo ex-consultor da inteligência Edward Snowden poderia comprometer os serviços de inteligência europeus, revelando detalhes sobre como eles operavam secretamente em conjunto com Washington.
Além disso, os europeus não conseguem se entender sobre um projeto de lei apresentado pela Comissão Europeia há meses para reforçar a proteção dos dados pessoais contra os gigantes da internet e dos serviços de inteligência.
Enquanto a comissária europeia da Justiça, Viviane Reding, cobra "medidas" e a adoção da reforma "até à primavera de 2014", os 28 decidiram "por uma margem de manobra" até 2015.
"Nós devemos avançar mais rápido, mas a tarefa é complexa. Não envolve somente a vida privada, mas também o mundo dos negócios", afirmou Van Rompuy.