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EUA querem aproveitar pressa do Irã para selar acordo

O governo americano quer se aproveitar de janela diplomática com o Irã para evitar uma nova guerra no Oriente Médio

Barack Obama: relações bilaterais entre os EUA e o Irã permanecem cercadas de uma grande desconfiança (Larry Downing/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2013 às 20h02.

Washington - Os Estados Unidos querem aproveitar em Genebra a pressa do Irã , sufocado pelas sanções econômicas, para selar um acordo sobre seu programa nuclear, mesmo colocando em risco seus vínculos com Israel e a Arábia Saudita, contrários ao pacto, enfatizam analistas.

Segundo os especialistas consultados pela AFP no dia seguinte ao fracasso da reunião em Genebra, onde se encontraram os chamados 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) e o Irã, Teerã tem mais pressa que Washington em alcançar um acordo provisório com as grandes potências.

O governo americano, por sua parte, quer se aproveitar dessa janela diplomática com o Irã para evitar uma nova guerra no Oriente Médio.

"Os Estados Unidos tentam ir mais longe e mais rápido contagiados pelo entusiasmo dos iranianos", afirma Hussein Ibish, do centro de reflexão American Task Force on Palestine.

Para este analista, "a convergência de aspirações iranianas e americanas de evitar um confronto é o que torna possível um acordo" depois de dez anos de disputas em relação ao quebra-cabeças do programa nuclear de Teerã, sob suspeitas de ter objetivos militares amparadas em atividades civis.

Alireza Nader, do centro de estudos RAND Corporation, questiona a ideia de uma atitude precipitada por parte dos Estados Unidos para chegar a um acordo a qualquer preço com o Irã, com quem as relações diplomáticas estão rompidas desde 1980.


Apesar da melhoria alcançada entre os dois países no final de setembro, depois da conversa por telefone entre os presidentes Barack Obama e Hassan Rohani, as relações bilaterais permanecem cercadas de uma grande desconfiança e os mais de 30 anos de confrontos e de rancores dificultam muito no momento a construção de um vínculo de confiança.

O governo Obama, recorda o analista, sempre privilegiou a via diplomática para resolver a crise nuclear. "Não foram os Estados Unidos que mudaram de posição nestes últimos meses, e sim o Irã que agora quer negociar", afirmou.

O Irã e a agência atômica da ONU acertaram nesta segunda-feira uma agenda de inspeção do programa nuclear iraniano, no que, sem dúvida, parece um gesto de Teerã em sua vontade de fazer avançar o assunto.

De fato, o Irã espera que aconteça uma redução "limitada e reversível" de algumas das grandes sanções que estão estrangulando sua economia, em especial daquelas que levaram a um congelamento dos bens em bancos de terceiros países, mas não dos Estados Unidos. Bilhões de dólares estão em jogo.

O secretário de estado americano, John Kerry, que na sexta-feira viajou a Genebra para participar nas reuniões com o Irã e seus pares do grupo 5+1, negou no domingo que tenha buscado acelerar um acordo com o Irã. "Os Estados Unidos não são cegos nem estúpidos nestas negociações", afirmou.

As angústias de Israel e da Arábia Saudita

O chefe da diplomacia americana enviou também uma nova mensagem a Israel e Arábia Saudita, preocupados com a aproximação entre Washington e Teerã, ao assegurar que estava "perfeitamente em condições de avaliar se está atuando a favor dos interesses nacionais e do resto do mundo, em particular de aliados como Israel e os países do Golfo".


Os analistas destacam, de fato, que nem Israel, nem a Arábia Saudita querem um acordo entre os Estados Unidos e o Irã.

"Israelenses e sauditas deixam claro que querem que os Estados Unidos entrasse em guerra com o Irã. Se houver um acordo, não haverá guerra, e é por isso que estão insatisfeitos", assinala Trita Parsi, presidente do grupo de pressão e de reflexão National Iranian American Council.

Segundo Nader, israelenses e sauditas estão angustiados ante a possibilidade de uma "melhoria nas relações entre Estados Unidos e Irã em detrimento de seus interesses", pois Teerã romperia, assim, seu isolamento e teria "um papel maior no cenário regional".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu que "fará todo o possível para convencer as grandes potências a evitar a assinatura de um acordo ruim" com o inimigo iraniano, jogando, inclusive, a carta de sua influência no Congresso americano, onde há muitos setores que querem reforçar as sanções contra os iranianos.

Quanto aos Estados do Golfo, "há uma perda de confiança nos Estados Unidos enquanto avalista da ordem regional", analisa Ibish. "Os sauditas começam a questionar por que os Estados Unidos recompensam seus inimigos e castigam seus amigos", enfatiza o especialista.

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Washington - Os Estados Unidos querem aproveitar em Genebra a pressa do Irã , sufocado pelas sanções econômicas, para selar um acordo sobre seu programa nuclear, mesmo colocando em risco seus vínculos com Israel e a Arábia Saudita, contrários ao pacto, enfatizam analistas.

Segundo os especialistas consultados pela AFP no dia seguinte ao fracasso da reunião em Genebra, onde se encontraram os chamados 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) e o Irã, Teerã tem mais pressa que Washington em alcançar um acordo provisório com as grandes potências.

O governo americano, por sua parte, quer se aproveitar dessa janela diplomática com o Irã para evitar uma nova guerra no Oriente Médio.

"Os Estados Unidos tentam ir mais longe e mais rápido contagiados pelo entusiasmo dos iranianos", afirma Hussein Ibish, do centro de reflexão American Task Force on Palestine.

Para este analista, "a convergência de aspirações iranianas e americanas de evitar um confronto é o que torna possível um acordo" depois de dez anos de disputas em relação ao quebra-cabeças do programa nuclear de Teerã, sob suspeitas de ter objetivos militares amparadas em atividades civis.

Alireza Nader, do centro de estudos RAND Corporation, questiona a ideia de uma atitude precipitada por parte dos Estados Unidos para chegar a um acordo a qualquer preço com o Irã, com quem as relações diplomáticas estão rompidas desde 1980.


Apesar da melhoria alcançada entre os dois países no final de setembro, depois da conversa por telefone entre os presidentes Barack Obama e Hassan Rohani, as relações bilaterais permanecem cercadas de uma grande desconfiança e os mais de 30 anos de confrontos e de rancores dificultam muito no momento a construção de um vínculo de confiança.

O governo Obama, recorda o analista, sempre privilegiou a via diplomática para resolver a crise nuclear. "Não foram os Estados Unidos que mudaram de posição nestes últimos meses, e sim o Irã que agora quer negociar", afirmou.

O Irã e a agência atômica da ONU acertaram nesta segunda-feira uma agenda de inspeção do programa nuclear iraniano, no que, sem dúvida, parece um gesto de Teerã em sua vontade de fazer avançar o assunto.

De fato, o Irã espera que aconteça uma redução "limitada e reversível" de algumas das grandes sanções que estão estrangulando sua economia, em especial daquelas que levaram a um congelamento dos bens em bancos de terceiros países, mas não dos Estados Unidos. Bilhões de dólares estão em jogo.

O secretário de estado americano, John Kerry, que na sexta-feira viajou a Genebra para participar nas reuniões com o Irã e seus pares do grupo 5+1, negou no domingo que tenha buscado acelerar um acordo com o Irã. "Os Estados Unidos não são cegos nem estúpidos nestas negociações", afirmou.

As angústias de Israel e da Arábia Saudita

O chefe da diplomacia americana enviou também uma nova mensagem a Israel e Arábia Saudita, preocupados com a aproximação entre Washington e Teerã, ao assegurar que estava "perfeitamente em condições de avaliar se está atuando a favor dos interesses nacionais e do resto do mundo, em particular de aliados como Israel e os países do Golfo".


Os analistas destacam, de fato, que nem Israel, nem a Arábia Saudita querem um acordo entre os Estados Unidos e o Irã.

"Israelenses e sauditas deixam claro que querem que os Estados Unidos entrasse em guerra com o Irã. Se houver um acordo, não haverá guerra, e é por isso que estão insatisfeitos", assinala Trita Parsi, presidente do grupo de pressão e de reflexão National Iranian American Council.

Segundo Nader, israelenses e sauditas estão angustiados ante a possibilidade de uma "melhoria nas relações entre Estados Unidos e Irã em detrimento de seus interesses", pois Teerã romperia, assim, seu isolamento e teria "um papel maior no cenário regional".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu que "fará todo o possível para convencer as grandes potências a evitar a assinatura de um acordo ruim" com o inimigo iraniano, jogando, inclusive, a carta de sua influência no Congresso americano, onde há muitos setores que querem reforçar as sanções contra os iranianos.

Quanto aos Estados do Golfo, "há uma perda de confiança nos Estados Unidos enquanto avalista da ordem regional", analisa Ibish. "Os sauditas começam a questionar por que os Estados Unidos recompensam seus inimigos e castigam seus amigos", enfatiza o especialista.

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