Trilhos: desde 1º de janeiro deste ano, o número de imigrantes que desembarcaram no país chega a 56.738 (Antonio Heredia/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2015 às 06h41.
Roma - O sistema de amparada a imigrantes da Itália está à beira do colapso e, devido a esta situação, centenas de refugiados vagam pelas estações de trem, transformadas em improvisados acampamentos, à espera de prosseguir sua viagem para outros lugares da Europa.
A Itália, zona de passagem entre a África e a Europa, enfrenta uma delicada situação devido ao incessante fluxo de imigrantes que chega a seu litoral, fugindo da miséria e dos conflitos armados sofridos em seus países de origem.
O Ministério do Interior italiano informou à Agência Efe que, desde 1º de janeiro deste ano, o número de imigrantes que desembarcaram no país chega a 56.738.
Um número elevadíssimo que transbordou a vasta rede de centros de amparada preparados pelo Estado italiano, que agora se vê incapacitado para dar cobertura a mais pessoas.
Uma situação que, além disso, conta atualmente com uma particularidade: o fechamento do espaço europeu de Schengen até 15 de junho devido à já finalizada cúpula do G7 realizada na cidade alemã de Elmau.
Por essa razão, vários imigrantes que, após serem resgatados em alto-mar, tentavam chegar aos países do norte da Europa através da Itália estão presos nas principais estações ferroviárias do país, explicou à Efe Laura Bastianetto, porta-voz da Cruz Vermelha italiana.
Estas pessoas se viram obrigadas a fazer uma inesperada parada em seu périplo e tentar seguir a vida nas proximidades das estações, já que os saturados centros de amparo não têm espaço disponível.
Bastianetto disse que, no caso de Roma, cerca de 500 imigrantes de nacionalidade etíope e eritreia perambulam pelos arredores da Estação Tiburtina, a segunda em importância da capital após Termini.
Sob um sol abrasador, permanecem à sombra das árvores, em penosas condições higiênicas, sem banheiros e deitados sobre papelões e objetos de uso que conseguiram arrastar até esta parte do Mediterrâneo.
Eles recebem ajuda de pessoas do bairro, que os levam caixas de pizza e garrafas de água, mas também de organizações humanitárias como a Cruz Vermelha, que transferiu à área uma unidade móvel e fixou um acampamento para proporcionar a estas pessoas assistência sanitária e comida.
A porta-voz desta organização explicou que por dia são registrados entre 50 e 60 pacientes afetados, especialmente por problemas dermatológicos e queimaduras contraídas durante sua viagem na embarcação na qual atravessaram o Mediterrâneo.
Além disso, dão seguimento aos tratamentos que foram aplicados uma vez desembarcados nos portos meridionais do país.
O que ocorre na capital italiana se assemelha à situação da cidade de Milão, onde outros 500 imigrantes vivem literalmente em sua Estação Central que já conta com um centro de saúde fixo e com uma ambulância para os casos mais graves.
Estas pessoas, da mesma forma que em Roma, são obrigadas a esperar na estação ferroviária já que os três centros de Milão estão saturados e os poucos postos que vagam são destinados prioritariamente a mulheres e crianças.
A questão da saúde dos imigrantes preocupa muito as autoridades italianas já que, segundo informaram os meios de comunicação, na estação milanesa já foram registrados cerca de 500 casos de sarna e alguns de malária.
Enquanto isso, os países da União Europeia (UE) mantêm um tenso debate sobre o número de imigrantes que estão dispostos a acolher, depois da iniciativa proposta pela Comissão Europeia no mês passado.
No caso da Itália, a questão da imigração é um coquetel explosivo no qual contrasta com a solidariedade de várias organizações humanitárias e as críticas lançadas por alguns atores sociais e partidos políticos.
Este tema se transformou em uma arma na vida política e um recurso eleitoral para partidos como o xenófobo Liga Norte (LN).