Trata-se de um dos capítulos mais graves nas relações bilaterais (Danny Lawson/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2014 às 12h30.
Berlim - Os serviços de espionagem alemães captaram pelo menos uma ligação do secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, informou neste sábado a revista Der Spiegel, depois que ontem outros meios de comunicação germânicos asseguraram que o mesmo aconteceu pelo menos em uma ocasião com sua antecessora, Hillary Clinton.
A ligação de Kerry foi realizada via satélite, em 2013, e foi captada pelos serviços de espionagem do BND - um dos departamentos da inteligência alemã -, nesse caso através de sua rede de escutas no Oriente Médio.
A revista relaciona esse caso com o anteriormente revelado referente a Hillary, de quem o BND captou uma conversa mantida com o ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan.
A 'Der Spiegel' destacou que ambas ligações foram captadas 'de modo fortuito', entre as que o BND realiza sobre áreas em conflito, mas que aparentemente depois não foram apagadas, sem que se tenha explicado até agora esse procedimento.
A publicação acrescentou, por outro lado, que o BND incluiu a Turquia entre seus países 'em observação', apesar de tratar-se de um aliado da Otan, o que por sua vez transgrede as declarações reiteradas da chanceler Angela Merkel que entre parceiros não deve haver espionagem.
As revelações ontem sobre a ligação interceptada de Hillary Clinton enfraqueceram essa frase da chefe do governo alemão, emoldurada na tensão produzida no eixo Berlim-Washington após a revelação que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA tinha grampeado um dos telefones celulares de Merkel.
Trata-se de um dos capítulos mais graves nas relações bilaterais, surgido dos documentos divulgados pelo ex-analista da CIA, Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.
A informação relativa à ligação de Clinton foi divulgada ontem de forma coincidente pela revista 'Süddeutsche Zeitung' e as emissoras públicas regionais 'NDR' e 'WDR'.
Nesse caso, a fonte eram as informações recolhidas por um agente do BND, que entregou aos EUA 218 documentos internos antes de ser detido em julho.
Apesar de tratar-se de casos aparentemente fortuitos, a revelação comprometeu a ação do BND e reforçou as opiniões da oposição que na realidade nem Merkel nem o resto do governo querem se aprofundar no assunto, já que seus serviços de espionagem também incorrem nessas práticas.