O governo diminui a quantidade de etanol usado na gasolina para tentar conter a alta do preço (Manoel Marques/VEJA)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2011 às 15h44.
Brasília - O diretor da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) Ricardo Viana afirmou que a decisão do governo de mudar a classificação do etanol (de produto agrícola para combustível estratégico) "atende à antiga reivindicação da categoria". Haverá, segundo ele, maior regulação do setor, porque o produto "só se tornava combustível, e não meramente um produto agrícola, quando era emitida nota fiscal na saída da usina para redirecionamento à distribuidora".
O controle que será feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), determinado por medida provisória assinada ontem (29) pela presidenta Dilma Rousseff, segundo ele, "pelo menos resolve a questão da definição".
Viana teme que o preço da gasolina seja muito afetado pela escassez que começa a se verificar no mercado revendedor e que seja necessário importar o derivado de petróleo, que custa 20% a mais no exterior. A escassez do etanol provocou aumento do consumo de gasolina, que já começa a faltar em algumas cidades do país, segundo ele.
O pesquisador da Embrapa e especialista em agroenergia José Manoel Cabral acredita que o governo passa a ter condições de "implementar um plano estratégico, através da ANP, para aumentar a produção de álcool. Com a mudança do status do combustível, que passa para a categoria de insumo estratégico, haverá melhor condição para planejar a produção e a distribuição, com regulação do percentual de mistura [de álcool na gasolina]".
Para o diretor técnico da União Nacional da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, "é de se esperar a instalação de novas unidades de processamento da cana-de-açúcar como aconteceu entre 2005 e 2008 e, também, o aumento da lavoura para aumentar a fabricação do etanol". Essa será, segundo ele, a solução para regularizar o abastecimento interno do álcool combustível. Em 2005, havia um cenário muito positivo de produção e o Brasil saiu de um estoque de 300 mil toneladas de cana para 600 mil toneladas anuais. Na época, o número de usinas cresceu na mesma proporção, segundo Pádua Rodrigues, mas, a partir de 2008, houve retração da oferta de etanol e não se viu mais a instalação de novas plantas. Por isso, o diretor da Unica alertou que o investidor precisa ter segurança de retorno financeiro do negócio, pois é preciso gastar dezenas de milhões de dólares em novas usinas.
A redução do percentual mínimo de mistura do álcool à gasolina de 20% para 18%, decidida ontem, é uma medida que pode ajudar apenas em momentos pontuais, segundo ele.
O economista e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial da Unicamp (SP) Fernando Sarti estima que a baixa produção atual de etanol "é bastante preocupante e mostra que há desorganização entre estoques e demanda. Para que o mercado do etanol seja estável, é preciso pensá-lo para [alcançar] uma estabilidade de fornecimento nos próximos vinte anos, levando em consideração não apenas o mercado doméstico, mas, também, o internacional. O fato de os mercados de energia estarem bastante concentrados em todo o mundo é um desafio maior para o planejamento de longo prazo", disse o pesquisador.
Os quatro especialistas participaram esta manhã do programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, que discutiu as medidas tomada ontem pelo governo para enfrentar a crise do etanol e a situação atual do mercado de combustíveis no país.