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Escola mexicana é conhecida pela formação crítica de alunos

A escola de Ayotzinapa, na qual estudavam os 43 desaparecidos após ação policial, é conhecida por oferecer consciência política aos seus alunos

Pinturas em muro da Escola Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, defendem o direito de protestar (Leandra Felipe/ABr)

Pinturas em muro da Escola Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, defendem o direito de protestar (Leandra Felipe/ABr)

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Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2014 às 12h50.

Iguala - Ivan Cisnero Flórez, 19 anos, aluno do 2º ano da Escola Normal Rural Raúl Isidro Buergos, em Ayotzinapa, estado de Guerrero, se orgulha de fazer parte do internato. “Aqui nós adquirimos uma consciência política que ultrapassa o conhecimento técnico sobre agricultura”, contou.

Enquanto concede entrevista à Agência Brasil, o rapaz aponta para os muros e as paredes da escola com pinturas e frases como “protestar é um direito” e “reprimir é um delito”.

No pátio com as bandeiras do México e da escola, desenhos com os rostos do líder da revolução cubana Che Guevara e de Lenin – líder da revolução comunista russa – estão pintados em tamanho gigante.

A Escola de Ayotzinapa é conhecida por ser um reduto socialista. No país, a escola tem a fama de “formar guerrilheiros”.

“Isso acontece porque nossos alunos protestam contra o modelo econômico do México e protestam pela falta de oportunidades dos camponeses, indígenas e comunidades pobres no país”, explicou à Agência Brasil um professor da escola que preferiu não ter o nome publicado.

“Nós somos marcados como rebeldes e um lugar que forma rebeldes. Mas, na verdade, nós só nadamos contra a corrente, e esta escola tem um pensamento diferente do dominante”, acrescentou.

As primeiras escolas normais no México foram criadas em 1926, época em que a unidade Raúl Isidro foi fundada.

A estrutura da escola é simples. Os alunos são internos e dividem quartos e o refeitório.

As escolas normais foram idealizadas para formar professores que atendessem às necessidades educacionais de áreas mais pobres do país e que pudessem atuar como líderes comunitários. Para concorrer a uma vaga, o pré-requisito é ser pobre.

Além disso, é necessário fazer um exame de admissão.

A escola é gratuita e tem dificuldades de se manter porque o governo mexicano mudou as regras para financiamento escolar.

Parte dos recursos com os quais a escola sobrevive vem de doações que são arrecadadas pelos próprios estudantes.

“Todos os nossos alunos são de famílias camponesas ou indígenas ou moradores de bairros pobres de grandes cidades”, detalha o professor.

Ex-aluno e agora um dos coordenadores da escola, ele diz que a principal característica do trabalho realizado no local é a formação crítica dos estudantes, que têm aulas sobre plantio e cultivo agrícolas, mas também recebem instruções sobre política.

“Nós lemos livros sobre teoria política e temos discussões em grupo. Eu já li Karl Marx e Engels”, diz, orgulhoso, o estudante Ivan Flórez que, no dia 26 de setembro, fazia parte do grupo que passava pelo município de Iguala para participar de uma marcha na Cidade do México.

Ele conta que os estudantes conversaram com os motoristas dos ônibus e pediram para serem transportados. “Eu e os colegas que estávamos nos dois ônibus da frente fomos cercados pelos policiais, que começaram a atirar no chão, perto da gente, quando nos pediram para descer”, relembra.

Na ação, seis pessoas morreram. O terceiro ônibus, que levava 43 estudantes, foi cercado e os jovens foram levados em camburões.

Sobrevivente, Cisnero diz que ainda se lembra da truculência com que foram repreendidos e acredita que parte dessa violência tenha sido motivada pelo fato de eles serem alunos de uma Escola Normal Rural. “Eu mostro meu rosto para você porque sei que já estou marcado, do mesmo modo que desapareceram meus amigos”, disse.

Esta não foi a primeira vez que alunos da escola desapareceram ou foram assassinados. Em 2011, dois estudantes da escola foram assassinados. E há outros casos de mortes e desaparecimentos não esclarecidos.

Em comum, os casos têm o fato de que os suspeitos têm vinculação com a polícia ou com grupos criminosos. As investigações, entretanto, não foram concluídas até o momento. “Nós sabemos que não querem investigar nada”, comenta o professor.

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