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Equador se prepara para novos protestos apesar de tentativa de diálogo

O governo se reuniu com líderes indígenas nesta terça, mas os protestos contra o corte de subsídios dos combustíveis continuam

Equador: os subsídios foram retirados por conta de acordo feito com o FMI (Ricardo Landeta/Getty Images)

Equador: os subsídios foram retirados por conta de acordo feito com o FMI (Ricardo Landeta/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 10h50.

Quito se prepara nesta quarta-feira para uma grande mobilização depois que o governo do Equador e líderes indígenas fizeram uma primeira aproximação no dia anterior, em meio à crise social que afeta o Equador devido ao aumento dos preços dos combustíveis.

Apesar dessa aproximação, o movimento de protesto não cede e, nesta quarta-feira, espera-se a inclusão de sindicatos e outros grupos de desacordos enquanto milhares de indígenas e camponeses estiverem em Quito.

Os indígenas exigem que o presidente Lenín Moreno volte atrás no desmonte dos subsídios acertado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de empréstimos no valor de 4,209 bilhões de dólares

"Já tivemos as respectivas abordagens; conversamos com alguns de seus líderes", disse Lenín Moreno a repórteres na noite de terça-feira, quando cumprimentou soldados que protegiam uma ponte em Guayaquil (sudoeste), para onde ele transferiu a sede do governo por precaução.

Apesar do contato inicial, com a mediação da ONU e da Igreja Católica, Moreno admitiu que há alguma dificuldade devido ao fato de mais de 60 organizações demonstrarem rejeição pelo aumento dos preços dos combustíveis.

Na quarta-feira passada, Moreno eliminou subsídios da ordem de 1,3 bilhão de dólares ao ano sobre os combustíveis mais utilizados no país petroleiro, provocando altas como a do diesel, que subiu 123%, e uma comoção social em repúdio aos reajustes econômicos.

Moreno decretou na véspera um toque de recolher para proteger os prédios públicos dos protestos, após tentativas de invasão do Congresso e da Casa de Governo.

Policiais e militares desalojaram na terça manifestantes que invadiram a sede do Congresso, em Quito, onde ao menos 100 indígenas e camponeses conseguiram romper o cordão de isolamento feito em torno do prédio.

Ameaças

Atingido pelo alto endividamento e pela falta de liquidez, o Equador está envolvido na pior espiral de protestos desde 2007.

Apesar do estado de exceção que vigora desde a quinta-feira e das ofertas de diálogo do governo, os protestos não cedem, e os indígenas que chegaram a Quito mantêm os jornalistas à distância com paus e ameaças.

"O déspota (presidente venezuelano, Nicolás Maduro ativou, junto com (o ex-presidente equatoriano Rafael) Correa seu plano de desestabilização", denunciou Moreno cercado do alto comando militar, que até o momento se mantém junto ao governo.

Em pronunciamento na televisão, o chefe de Estado de 66 anos culpou diretamente Correa de tentar derrubá-lo.

Apesar de negar envolvimento na crise, Correa, disse nesta quarta que, "se necessário", disputará possíveis eleições antecipadas em seu país, mas que o governo Moreno tentará evitar que isso aconteça.

"Se eu precisar ser candidato, serei", disse Correa aos jornalistas em Bruxelas, afirmando que, como havia sido "desabilitado 'entre aspas' para ser presidente, a opção será concorrer a 'vice-presidente' para baixo".

O ex-líder da esquerda entre 2007 e 2017 se referia à consulta promovida em 2018 por seu sucessor, Lenín Moreno, sobre uma reforma dos mandatos presidenciais, o que impede Correa de disputar o que seria seu quarto.

Apoio a Moreno

Sete países latino-americanos, entre eles o Brasil, rejeitaram na terça "toda ação" do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e seus aliados para "desestabilizar" o Equador.

"Os governos de Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Peru e Paraguai manifestam seu repúdio categórico a qualquer tentativa desestabilizadora dos regimes democráticos legitimamente constituídos e expressam seu firme apoio às ações empreendidas pelo presidente Lenín Moreno", indicou a chancelaria colombiana em um comunicado difundido em Bogotá.

Os sete países condenaram, ainda, qualquer influência de Maduro, a quem se opõem, e seus aliados para "desestabilizar" o presidente equatoriano.

Mais cedo, a secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos, chefiada por Luis Almagro, condenou os "atos de violência" registrados durante os protestos no Equador e pediu em um comunicado, que "os atores políticos e sociais resolvam suas diferenças pela via pacífica".

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também pediu "moderação" e "diálogo" no país.

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