Entenda a importância das eleições parlamentares da Argentina
Governabilidade do segundo semestre do mandato do presidente Alberto Fernández está em jogo. Entenda
AFP
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 13h22.
Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 13h22.
Embora a renovação seja parcial no Congresso da Argentina , as eleições de 14 de novembro terão um impacto crucial na presidência de Alberto Fernández porque definirão a governabilidade para o segundo semestre de seu mandato, segundo analistas.
- Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME
O governo sofreu um revés nas primárias obrigatórias (PASO) de setembro, quando a coalizão governista Frente de Todos (peronista de centro-esquerda) obteve 33% dos votos em nível nacional. A coalizão de centro-direita Juntos, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), obteve 37%.
O partido no poder agora busca evitar que um resultado adverso o impeça de obter a maioria na Câmara dos Deputados ou coloque em risco a que tem no Senado.
Quais as consequências?
As legislaturas vão renovar um terço do Senado e metade da Câmara de Deputados. Fernández não arrisca seu governo nesta votação, mas sim a possibilidade de governar com um maior apoio parlamentar.
Na Câmara dos Deputados, o partido no poder tem 120 das 257 cadeiras e no Senado a maioria absoluta com 41 dos 72 legisladores.
"Se os resultados da PASO se repetirem, o partido no poder pode perder a maioria que tem no Senado e não só não alcançaria a maioria dos deputados, mas também perderia cadeiras", diz Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria.
O analista político Gabriel Puricelli considera que "a composição do Congresso determinará as condições de governança" até 2023, quando termina o mandato de Fernández.
Mas também são "um testa da viabilidade das duas principais coalizões como veículo para as próximas eleições presidenciais", diz, referindo-se à Frente de Todos e Juntos.
Outro fator a ser levado em consideração "será quanto poder a oposição terá no Congresso. Se conseguir o poder de bloqueio, é mais provável que o use", alerta Puricelli.
O cientista político Carlos Fara considera que uma derrota "travará o kirchnerismo nas duas Câmaras e pode dificultar questões institucionais no Senado, como a nomeação de juízes".
O governo pode recuperar o voto perdido?
As primárias abriram uma crise na coalizão governista. Após críticas públicas da vice-presidente Cristina Kirchner, Fernández renovou parte de seu gabinete. Mas mesmo que ganhe na estratégica província de Buenos Aires, a mais populosa com quase 40% do eleitorado, não será suficiente para reparar o estrago político, ressaltaram os analistas.
Na opinião do analista Fraga "o problema político central será, seja qual for o resultado, a divisão do partido no poder entre o presidente e a vice-presidente. Essa disputa vai continuar e pode até piorar. Será um problema de governança".
Mario Riorda, cientista político e acadêmico da Universidade Austral, diz que "a Frente de Todos caiu 19 pontos em todo o país desde as eleições presidenciais de 2019 e não tem mais núcleos imbatíveis", enquanto a oposição Juntos "praticamente não mudou".
Qual o peso da economia?
A Argentina vai votar abalada por uma inflação de 40% até agora este ano, uma das mais altas do mundo. O governo lançou um congelamento de preços por três meses para 1.500 itens da cesta básica, além de auxílio social para enfrentar a pobreza que atinge 40% dos 45 milhões de habitantes.
A derrota nas primárias foi "um castigo para a gestão de Alberto Fernández", opina Fara, consequência "do impacto econômico que se gerou entre o que herdou (do governo anterior) e o que foi produzido pela pandemia".
O país busca um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional que substitua o stand-by por 44 bilhões de dólares em 2018 e cujos vencimentos de capital de mais de 19 bilhões começam no próximo ano.