(Ricardo Ceppi / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 13h22.
Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 13h22.
Embora a renovação seja parcial no Congresso da Argentina, as eleições de 14 de novembro terão um impacto crucial na presidência de Alberto Fernández porque definirão a governabilidade para o segundo semestre de seu mandato, segundo analistas.
O governo sofreu um revés nas primárias obrigatórias (PASO) de setembro, quando a coalizão governista Frente de Todos (peronista de centro-esquerda) obteve 33% dos votos em nível nacional. A coalizão de centro-direita Juntos, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), obteve 37%.
O partido no poder agora busca evitar que um resultado adverso o impeça de obter a maioria na Câmara dos Deputados ou coloque em risco a que tem no Senado.
As legislaturas vão renovar um terço do Senado e metade da Câmara de Deputados. Fernández não arrisca seu governo nesta votação, mas sim a possibilidade de governar com um maior apoio parlamentar.
Na Câmara dos Deputados, o partido no poder tem 120 das 257 cadeiras e no Senado a maioria absoluta com 41 dos 72 legisladores.
"Se os resultados da PASO se repetirem, o partido no poder pode perder a maioria que tem no Senado e não só não alcançaria a maioria dos deputados, mas também perderia cadeiras", diz Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria.
O analista político Gabriel Puricelli considera que "a composição do Congresso determinará as condições de governança" até 2023, quando termina o mandato de Fernández.
Mas também são "um testa da viabilidade das duas principais coalizões como veículo para as próximas eleições presidenciais", diz, referindo-se à Frente de Todos e Juntos.
Outro fator a ser levado em consideração "será quanto poder a oposição terá no Congresso. Se conseguir o poder de bloqueio, é mais provável que o use", alerta Puricelli.
O cientista político Carlos Fara considera que uma derrota "travará o kirchnerismo nas duas Câmaras e pode dificultar questões institucionais no Senado, como a nomeação de juízes".
As primárias abriram uma crise na coalizão governista. Após críticas públicas da vice-presidente Cristina Kirchner, Fernández renovou parte de seu gabinete. Mas mesmo que ganhe na estratégica província de Buenos Aires, a mais populosa com quase 40% do eleitorado, não será suficiente para reparar o estrago político, ressaltaram os analistas.
Na opinião do analista Fraga "o problema político central será, seja qual for o resultado, a divisão do partido no poder entre o presidente e a vice-presidente. Essa disputa vai continuar e pode até piorar. Será um problema de governança".
Mario Riorda, cientista político e acadêmico da Universidade Austral, diz que "a Frente de Todos caiu 19 pontos em todo o país desde as eleições presidenciais de 2019 e não tem mais núcleos imbatíveis", enquanto a oposição Juntos "praticamente não mudou".
A Argentina vai votar abalada por uma inflação de 40% até agora este ano, uma das mais altas do mundo. O governo lançou um congelamento de preços por três meses para 1.500 itens da cesta básica, além de auxílio social para enfrentar a pobreza que atinge 40% dos 45 milhões de habitantes.
A derrota nas primárias foi "um castigo para a gestão de Alberto Fernández", opina Fara, consequência "do impacto econômico que se gerou entre o que herdou (do governo anterior) e o que foi produzido pela pandemia".
O país busca um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional que substitua o stand-by por 44 bilhões de dólares em 2018 e cujos vencimentos de capital de mais de 19 bilhões começam no próximo ano.