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Em meio à guerra, museu de Pelé resiste na Ucrânia

Não é raro escutar o som de tiros na cidade, uma das 'capitais' dos rebeldes pró-Rússia, mas o museu parece tirado de um sonho


	Pelé: não é raro escutar o som de tiros na cidade, uma das 'capitais' dos rebeldes pró-Rússia, mas o museu, seus muros verdes e amarelos, nas cores da bandeira do Brasil, a estátua em bronze de Pelé e a imensa bola que decora a entrada parecem tirados de um sonho
 (Aleksey Filippov / AFP)

Pelé: não é raro escutar o som de tiros na cidade, uma das 'capitais' dos rebeldes pró-Rússia, mas o museu, seus muros verdes e amarelos, nas cores da bandeira do Brasil, a estátua em bronze de Pelé e a imensa bola que decora a entrada parecem tirados de um sonho (Aleksey Filippov / AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2016 às 17h16.

Lugansk - As portas do museu estão fechadas, mas o curador comparece todos os dias.

Apesar dos dois anos de conflitos sangrentos no leste separatista da Ucrânia, o primeiro museu do mundo dedicado a Pelé, o rei do futebol, segue em pé em Lugansk.

Não é raro escutar o som de tiros na cidade, uma das 'capitais' dos rebeldes pró-Rússia, mas o museu, seus muros verdes e amarelos, nas cores da bandeira do Brasil, a estátua em bronze de Pelé e a imensa bola que decora a entrada parecem tirados de um sonho.

"O museu não abre há dois anos, desde o início da guerra. Havia bombas explodindo constantemente e tinha medo que uma caísse no museu", lembra o fundador e curador do museu, Nikolai Judobin, que define sua paixão por Pelé como "uma religião pessoal".

"Acredito que Pelé é um Deus do futebol e este lugar é sagrado, é um templo do futebol", completa, sentado na sala principal.

Atrás estão expostos, entre outros objetos, um relógio de ouro dado de presente por Pelé ao jogador soviético Valentin Afonin, uma fotografia do ex-craque brasileiro quando visitou a estação espacial russa Mir e dezenas de bandeiras que possuem alguma relação com algum momento da carreira do eterno camisa 10 da seleção.

Nikolai abriu este museu para a Eurocopa-2012, que a Ucrânia sediou em conjunto com a Polônia, antes do início do conflito armado que assola o país. O 'templo' é apresentado como o primeiro museu do mundo dedicado exclusivamente a Pelé.

As lágrimas do embaixador

"Somente duas cidades no mundo podem presumir ter um museu assim: Lugansk, na Ucrânia, e Santos, no Brasil. Mas lá o museu abriu dois anos depois que o nosso", sorri Nikolai.

"No dia da abertura do museu, o embaixador do Brasil me deu um forte abraço e chorou. Não conseguiu acreditar que, tão longe, em Lugansk, podia-se gostar tanto de Pelé", completa orgulhosamente.

"Minha família, Pelé e o trabalho é tudo que tenho na vida", continua Nikolai, um homem tímido de 55 anos que recentemente perdeu a esposa.

Sua admiração por Pelé faz Judobin imitar os hábitos do 'Rei', sem álcool nem cigarro: "Nunca bebi cerveja, porque Pelé tem um modo de vida saudável. Isso me inspirou".

A 'Pelemania' começou quando era criança e viu pela televisão o ídolo marcar o gol de número 1.000 na carreira, em novembro de 1969.

"Decidi juntar notícias sobre ele. Troquei minha bicicleta por uma fotografia de jornal do Pelé e dei sequência a essa coleção durante mais de 40 anos", explica Nikolai, que teve a oportunidade de se encontrar com Pelé em Moscou e no Brasil, chegando até a cortar o cabelo com o cabeleireiro pessoal do ex-craque.

Graças ao museu, as cidades de Lugansk e Santos ganharam um ponto em comum e Nokolai esperava então que Pelé pudesse viagar para ver com os próprios olhos seus tesouros particulares, mas a guerra entre as forças governamentais e os rebeldes separatistas pró-Rússia chegou, deixando mais de 9.000 mortos em quase dois anos.

"Pelé me salvou"

Desde o início das hostilidades, Nokolai não escondeu seu apoio ao governo de Kiev, apesar da crescente influência das novas autoridades separatistas. Chegou a passar três dias preso no autoproclamada República Popular de Lugansk.

O que o salvou? a reputação de seu museu.

"Não sou pobre. Queriam tomar meus bens. Exigiram os documentos de meu apartamento e chegaram até a simular uma execução com um tiroteio, mas logo descobriram quem eu era, tiveram medo do barulho que isso poderia causar e me deixaram voltar para casa", lembra.

Nikolai repete que Pelé o "salvou", mas ainda não acredita ter chegado o momento de reabrir as portas do museu.

Seu sonho é poder transportar o conteúdo do museu ao Brasil e comprar em Santos uma casa onde possa viver com seu neto.

Nikolai espera também poder organizar uma exposição em Kiev, acredita que a imagem de Pelé pode contribuir para a reconciliação entre a capital e o leste rebelde. "Nunca peguei em armas e gostaria que estivéssemos novamente juntos e unidos", conclui, esperançoso.

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