Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos (JIM VONDRUSKA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 24 de julho de 2024 às 16h26.
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, pediu expressamente o apoio da Zeta Phi Beta Sorority Inc., uma das mais antigas irmandades negras do país, para que seus integrantes ajudem a mobilizar e registrar eleitores para votar nas eleições presidenciais deste ano.
Em seu segundo ato público de campanha, desde que virou o principal nome do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump em nas urnas, Kamala acenou para um dos públicos em que leva vantagem sobre Biden e Trump, e que pode ter um peso decisivo na disputa em diferentes Estados.
— Há muito em jogo neste momento. E novamente, neste momento, nossa nação, como sempre, conta com vocês: para energizar, para organizar e para mobilizar. Para registrar gente para votar, para levá-los às urnas e para continuar a lutar pelo futuro que nossa nação e seu povo merecem — disse Kamala em um discurso de pouco mais de 10 minutos, nesta quarta-feira.
O pedido de engajamento no processo eleitoral diante da importante instituição ligada ao movimento negro nos EUA mostra a preocupação dos democratas em contar com o bloco que tem sido eleitoralmente mais confiável para o partido, mas que recentemente deu sinais de insatisfação com o partido no governo devido à economia e ao alto custo de vida do país — um descontentamento que o Partido Republicano pretende capitalizar ao longo da disputa, tanto atraindo eleitores quanto afastando possíveis simpatizantes democratas das urnas.
Ao menos no discurso desta quarta, diante de uma fraternidade negra politicamente engajada, a fala de Kamala sobre a necessidade de participação política, que encerrou o seu discurso, foi a que causou maior reação do público presente em Indianápolis. Ela também enalteceu a entidade sede do evento.
— Nós sabemos que quando nós nos mobilizamos, montanhas mudam de lugar. Quando nós nos mobilizamos, países mudam. E quando nós votamos, nós fazemos história. Então deixe-nos continuar a lutar: com otimismo, com fé e com esperança, porque quando nós lutamos, nós vencemos — disse Kamala, sendo aplaudida pelo público enquanto se despedia.
Inicialmente, a troca de Biden por Kamala dá indícios de uma aproximação com o eleitorado negro. Poucas horas após o presidente desistir de tentar a reeleição no domingo, mais de 44 mil mulheres negras, incluindo estrategistas e celebridades, participaram de uma reunião on-line organizada pela Win With Black Women, uma rede interseccional de líderes negras. Juntas, arrecadaram mais de US$ 1,5 milhão para a campanha da democrata.
No dia seguinte, uma convocação semelhante organizada pela Win With Black Men teve cerca de 45 mil participantes e arrecadou US$ 1,3 milhão para a campanha, segundo os organizadores.
Aos apoiadores em Indianápolis, Kamala repetiu alguns pontos que vem discutindo abertamente em público desde antes da desistência de Biden. Voltou a afirmar que trataria como uma prioridade os direitos reprodutivos femininos, incluindo o restabelecimento do direito ao aborto cassado com a decisão da Suprema Corte de derrubar o precedente histórico Roe v. Wade, e pautas sociais e econômicas.
— Quando eu for presidente dos Estados Unidos, e o Congresso aprovar uma lei para restaurar essas liberdades [relacionadas ao aborto, eu vou assinar essa lei — disse, sob aplausos. Não estamos para brincadeira.
Ainda no início do discurso, Kamala fez menção ao presidente Joe Biden, a quem chamou de um excelente presidente, e enumerou medidas que teriam sido positivas para a população americana, como o perdão de dívidas estudantis aprovado em seu governo. Em um primeiro discurso, na terça-feira, ela já havia elogiado o presidente publicamente.
A presidenciável contrapôs o caminho tomado por Biden ao defendido por Donald Trump, classificando um como caminho do progresso e o outro como atraso — mencionando o Projeto 2025, uma iniciativa conservadora que defende a rejeição da ideia de aborto como uma pauta de saúde, desmantelamento do Departamento de Educação, eliminação de proteções climáticas e deportações em massa.
— Vocês acreditam que eles colocaram isso no papel? — disse Kamala.
Há sinais de que Trump tenta se distanciar do Projeto 2025, tendo afirmado inclusive não conhecer o texto, apesar de ter aliados próximos como grandes incentivadores.