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ElBaradei gera ceticismo entre potências ocidentais

Especialistas veem líder da oposição como "desconectado" da realidade de seu país

ElBaradei, líder da oposição egípcia e Nobel da Paz, não morava no Egito há 30 anos (Peter Macdiarmid/Getty Images)

ElBaradei, líder da oposição egípcia e Nobel da Paz, não morava no Egito há 30 anos (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 14h20.

Cairo - As potências ocidentais, longe de considerarem Mohamed ElBaradei a opção ideal para governar o Egito, demonstram ceticismo em relação ao Prêmio Nobel da Paz por considerá-lo desconectado demais da realidade de seu país, segundo especialistas.

"ElBaradei é um personagem respeitado, mas também um homem muito solitário, que não tem partido", estimou Denis Bauchard, ex-diplomata e especialista em Oriente Médio, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

"O falta a ele é apoio popular, um respaldo tanto do exército quanto da elite do regime", destacou outro diplomata ocidental, que pediu o anonimato.

O homem que se apresenta como prócer da rebelião contra o presidente Hosni Mubarak não vive no Egito, de onde partiu há 30 anos, e passa a maior parte de seu tempo em Viena.

Fica na capital austríaca a sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que dirigiu durante 12 anos até novembro de 2009. Graças a seu trabalho à frente da agência, foi premiado com o Nobel da Paz em 2005.

"ElBaradei me parece alguém crível (...), mas não sabemos se poderá mudar as coisas ou se será apenas uma marionete", ponderou por sua vez Thomas Hasel, especialista em norte da África da Universidade Livre de Berlim.


Até o momento, ElBaradei foi escolhido como porta-voz da oposição, muito fragmentada, e por ela encarregado de negociar com o governo - não foi, porém, apontado como líder, o que faz toda a diferença, segundo os analistas entrevistados pela AFP.

ElBaradei aproximou-se dos Irmãos Muçulmanos, principal força de oposição egípcia, legalmente banida, mas tacitamente tolerada pelo regime.

Embora não seja um islamita, esta conivência preocupa os ocidentais.

"É claro que a alternativa catastrófica seria a chegada da Irmandade Muçulmana ao poder no Egito", disse um diplomata europeu em Bruxelas.

Nesta terça, em entrevista concedida ao jornal britânico The Independent, ElBaradei, de 68 anos, afirmou que seu objetivo não é se tornar chefe de Estado e substituir Hosni Mubarak, de 82, presidente desde 1981.

Entretanto, não exclui a possibilidade de coordenar um governo interino, que apenas organizaria uma eleição livre.

O mais importante é que "seja aceitável para os Estados Unidos", ressaltou a especialista em Oriente Médio da Exclusive Analysis de Londres, Zaineb Al Assam.

Para as autoridades americanas, ElBaradei "é uma das vozes que devem ser ouvidas", declarou na segunda-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.

"Temos amplos contatos no Egito. Há, ao mesmo tempo, pessoas no governo e vários atores não-governamentais, incluindo membros da oposição", acrescentou.

No domingo, Mohamed ElBaradei acusou os Estados Unidos de fazerem um jogo duplo, sugerindo que, se por um lado Washington faz um apelo à democracia no Egito, por outro continua apoiando Mubarak.

Como chefe da AIEA, ElBaradei fez frente à política americana, primeiro em relação ao Iraque e depois na questão do Irã.

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