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Ed Lee, de São Francisco: a diversidade é nossa força

Eleito prefeito de São Francisco eleito em 2010 e reeleito no ano passado, o advogado tem o desafio de manter a cidade na frente da corrida da inovação

O prefeito de San Francisco, Edwin Lee (Zboralski/Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2016 às 16h50.

O advogado Edwin Lee é filho de imigrantes chineses que aportaram na cidade de Seattle, na costa oeste dos Estados Unidos , na década de 1930. Seu pai começou a trabalhar como cozinheiro num restaurante da cidade e morreu quando ele tinha 15 anos; sua mãe sustentava os seis filhos trabalhando como costureira e garçonete. Mais tarde, ele formou em Direito, na Universidade da Califórnia, e atuou como advogado de
imigrantes e refugiados.

Em 2011, foi eleito prefeito de São Francisco pelo Partido Democrata e, em 2015, reeleito.

Hoje, tem o desafio de manter a cidade na frente da corrida da inovação, mas precisa lidar com uma grave crise de moradia. A cidade tem milhares de pessoas vivendo nas ruas, entre algumas das empresas de tecnologia mais sedutoras do planeta. Como fazer os dois mundos coexistirem? Ed Lee falou a EXAME em uma visita a São Paulo em março.

São Francisco é o berço das startups e da economia compartilhada. O que isso diz sobre estilo de vida e as aspirações de seus moradores?

Nós temos mais de 2.000 empresas de tecnologia e somos a casa das empresas mais inovadoras do mundo, onde nasceram gigantes como Apple e Google. Há 25 anos, estávamos trabalhando com design e confecção de chips. Hoje, as pessoas trabalham em nuvem e com impressoras 3D. Nossas empresas criam negócios com base em dados concretos, o que as ajuda muito. E isso também aumenta a chance de a vida melhorar em São Francisco. Para ter sucesso, não é preciso ter riqueza, é preciso ter acesso. O sucesso está muito mais no uso compartilhado de veículos do que na pressão de possuir um carro. Esse é apenas um exemplo.

A economia compartilhada tem entrado em conflito empresas mais tradicionais. Como fazê-los conviver pacificamente?

A gente quer que a economia compartilhada complemente as empresas tradicionais. Por exemplo, na área de transporte público. As empresas de táxi, por muitos anos, tiveram a reputação de não servir os clientes muito bem. Agora, você tem aplicativos que permitem que motoristas descubram exatamente onde você está e para onde vai. Isso melhorou drasticamente o service inclusive das cooperativas de táxi. É uma pressão para fazer com que o foco seja o cliente, e isso é positivo para toda a discussão sobre transporte de qualidade. Isso explica por as pessoas precisam ter acesso à informação, para entender bem o consumidor . As empresas que ligam apenas para sua própria corporação não vão prosperar.

São Francisco virou uma das cidades com os imóveis mais caros do país, e o debate sobre a moradia está em alta. Como o senhor está lidando com essa questão?

Antes de tudo, é preciso entender porque enfrentamos uma crise de moradia. Por muitos anos, a cidade não deu atenção suficiente à construção de casas. E numa cidade atraente como São Francisco, se não construirmos mais casas, é claro que o preço vai subir. Nós não somos a única cidade que tem uma crise de moradia. Portland, Seattle, Los Angeles enfrentam os mesmos problemas. Estamos construindo casas em áreas da cidade que podem ser mais acessíveis, e ainda ter bom sistema de transporte. Criamos programas para garantir que os moradores de rua consigam empregos. E temos sido bem-sucedidos: o número de pessoas morando nas ruas não está aumentando. Mas o volume ainda é grande. Eu assumi um compromisso de desenvolver estratégias boas o bastante para que as 8.000 pessoas que estão nas ruas saiam dessa condição.

Essas crises são intrínsecas às cidades tecnológicas? Em que parte da população está no topo, ganhando bem, enquanto a maior parte não tem acesso a esse universo?

Eu olhei para isso historicamente. Sempre que um sucesso tremendo acomete em algum setor da indústria, é preciso um compromisso de fazer com que mais pessoas partilhem dessa prosperidade. A exclusão digital tem nos apresentado vários desafios. Nem todas as crianças nas escolas públicas tem um nível adequado de matemática e ciências. Nós temos que ter certeza de que nossas escolas estão educando crianças de todas as classes sociais. Porque nós não podemos viver numa cidade dividida. Para cada engenheiro de tecnologia que é contratado, há outras quatro vagas sendo criadas para dar suporte a essa tecnologia. O que a cidade deve fazer é assegurar que as pessoas estejam prontas para assumir esses postos.

O que uma cidade pode fazer para fomentar a inovação?

É preciso ter um campo aberto dentro das instituições de educação, que permitam que novas ideias surjam; tem que ter uma comunidade de negócios que receba novas ideias; precisa ter um governo aberto ao original e criativo. Isso abre caminho para a experimentação. Nós estamos passando por um grande experimento agora com carros sem motoristas. Vamos dar espaço para esses testes acontecerem. Tudo isso requer um tremendo apoio dos cidadãos, do governo, da rede de negócios, das instituições de educação.

Você veio para o Brasil com um grupo de empresários, interessados em fazer negócios por aqui. Quais são as expectativas?

Nossa expectativa é criar relacionamentos. Eu sou primeiro prefeito de São Francisco a vir para o Brasil. Eu quero convidar mais empresas brasileiras para ir a São Francisco e ver se nosso ambiente de inovação e de dados pode beneficiá-las. Se alguma empresa quiser ter uma base em São Francisco, nós daremos todo apoio e ajuda necessários com espaço, contato com bancos, empresas de investimento, busca por talentos. São Francisco foi construída com o trabalho dos imigrantes, e a diversidade é nossa maior força. Em reconhecimento a isso, nós acreditamos que a América Latina pode se beneficiar da imensa transformação tecnológica que está em curso na Bay Area. Brasileiros são os maiores usuários de redes sociais, atrás apenas dos Estados Unidos. Existe a forte possibilidade de que, juntos, nós possamos ajudar o Brasil a pensar em como sair dessa situação econômica difícil.

Sua família é de imigrantes e o senhor é prefeito de uma cidade repleta deles. Agora, um dos pré-candidatos à Presidência, Donald Trump, tem propostas bem conservadoras em relação a migração. O que acha disso?

Tem um candidato que parece ter o objetivo de nos dividir. Eu acredito que não sejam esses os valores da democracia e da sociedade americana. Nós precisamos de líderes que nos ajudem a lidar com o desafio de receber trabalhadores estrangeiros e também com a pobreza, e a solução sempre foi fazer com que todos trabalhem juntos. Quando nós não tínhamos unidade, a economia do país foi achatada de um jeito muito amargo. E essa segregação não traz solução nenhuma.

São Paulo - O que torna uma cidade global? Um dos elementos é o "soft power": a capacidade de influenciar baseada não na força, mas em valores e persuasão. Isso nunca foi tão importante quanto hoje, quando atrair talentos se tornou um dos maiores diferenciais na produção econômica. É o que diz o recente relatório "Cidades globais, talentos globais", da consultoria Deloitte , que parte de uma lista de cidades feita pela revista The Atlantic". Ele tem dois pilares centrais. Um deles é a rede do mundo dos negócios, analisada com base em dados da BoardEx que permitiram acompanhar o movimento de 50 mil executivos e líderes do setor público de 40 mil organizações em 160 países. O outro é a capacidade de criar e manter empregos intensivos em conhecimento, especialmente diante de uma Quarta Revolução Industrial marcada por automação massiva e necessidade de adaptação constante. Veja quais são as 7 principais cidades globais do planeta e por que:
  • 2. Londres, Reino Unido

    2 /9(Chris Jackson/Getty Images)

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    Londres é "a mais global das cidades globais", diz o relatório, considerando como critério a rede de executivos que estudam ou trabalham lá (ou já o fizeram no passado) com 95 nacionalidades e alcance de 134 países. Estas pessoas foram atraídas pela "força dos seus negócios financeiros, a qualidade das suas universidades e a vitalidade de sua cena criativa e de startups digitais" - que podem ser prejudicadas por uma possível saída da União Europeia. O lado obscuro desse sucesso, também presente em outras cidades globais, é a disparada no custo de vida que gera coisas como uma vaga de estacionamento à venda pela bagatela de R$ 1,8 milhão.
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto1,7 milhão
    Crescimento nos últimos 3 anos16%
    Em % do total30,6%
  • 3. Nova York, Estados Unidos

    3 /9(Wikimedia Commons/AngMoKio)

  • "Para terem um sucesso sustentável, as cidades precisam competir pelo grande prêmio: capital intelectual e talento". A frase de Michael Bloomberg , prefeito de Nova York entre 2002 e 2013, explica porque a cidade aparece tão alto neste tipo de ranking. A rede de executivos que estudam ou trabalham lá (ou já o fizeram no passado) atinge 87 nacionalidades e 120 países. Este rede foi criada e sustentada com crescimento econômico, inovação constante e diversidade em todos os sentidos.
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto1,1 milhão
    Crescimento nos últimos 3 anos-0,4%
    Em % do total27%
  • 4. Paris, França

    4 /9(Wikimedia Commons)

    Paris é 3º lugar no quesito de redes que vão mais longe: gente de 71 nacionalidades e 108 países já estudaram ou trabalharam no país (ou estão lá no momento). 10,5% são mulheres, mesma proporção de Londres. A cidade também é uma das líderes de consumo de luxo e está na vanguarda ecológica.
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto627 mil
    Crescimento nos últimos 3 anos4,6%
    Em % do total32,7%
  • 5. Hong Kong

    5 /9(Thinkstock)

    A rede de executivos com passagem ou residência em Hong Kong não é tão diversa (39 nacionalidades e 79 países), mas o país compensa com uma posição bem alta em vários outros rankings internacionais. O país é lider mundial em infraestrutura , com destaque para seu excelente aeroporto, além de ser um dos primeiros lugares em competitividade, desenvolvimento e segurança. Seu desafio agora é inovar mais.
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto769 mil
    Crescimento nos últimos 3 anos1,4%
    Em % do total19,8%
  • 6. Singapura

    6 /9(Thinkstock)

    A pequena Singapura é primeiro lugar mundial em facilidade de fazer negócios e preparação para o futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial.  É também a cidade mais cara do planeta, segundo a Economist Intelligence Unit, e um destino cobiçado entre os super-ricos, segundo a New World Wealth. O país não cansa de inovar, seja com o bairro adaptado para idosos ou criação de tecnologia 3D para construção. Sua rede envolve executivos de 32 nacionalidades que alcançam 70 países.
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto728 mil
    Crescimento nos últimos 3 anos0,2%
    Em % do total19,9%
  • 7. Tóquio, Japão

    7 /9(Thinckstock)

    Com base na lista de quem trabalha ou estuda em determinada cidade (ou já o fez no passado), a Deloitte analisou também os graus de separação entre eles. Das 7 cidades globais, Tóquio tem uma das redes menos cosmopolitas (31 nacionalidades e 55 países), mas ainda assim é possível chegar de qualquer executivo da lista até qualquer outro com apenas 3 pulos. Outro ponto negativo é o da inclusão feminina, grande problema da economia japonesa. Apenas 2,2% da lista executiva de Tóquio é de mulheres, enquanto todas as outras 6 cidades estão acima dos 10% neste quesito.   Tóquio não tem disponíveis os números relacionados a empregos intensivos em conhecimento.
  • 8. Sydney, Austrália

    8 /9(Ian Waldie/Getty Images)

    Sydney, na Austrália , tem a menor rede de executivos: 19 nacionalidades que se espalham por 57 países em 1,91 "graus de separação". Em outras palavras: todo mundo é "amigo de um amigo". Outro destaque em relação às outras cidades é a liderança na proporção de mulheres executivas, ainda que seja pequena (12,3%).
    Empregos intensivos em conhecimento
    Em número absoluto607 mil
    Crescimento nos últimos 3 anos6,6%
    Em % do total24,6%
  • 9 /9(Germano Lüders/EXAME)

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