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Disputa entre reformistas e conservadores marca eleição iraniana

Concorrência real nas eleições presidenciais é entre o atual presidente, Hassan Rohani, e os conservadores Mohammad Bagher Ghalibaf e Ebrahim Raisi

Hassan Rohani: eleitores de Rohani, com um perfil jovem e urbano, desejam maiores liberdades (Atta Kenare/AFP/AFP)

Hassan Rohani: eleitores de Rohani, com um perfil jovem e urbano, desejam maiores liberdades (Atta Kenare/AFP/AFP)

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EFE

Publicado em 15 de maio de 2017 às 14h39.

Teerã - A campanha eleitoral à presidência do Irã se desenvolve em debates na televisão e em comícios por todo o país, que protagonizam duros confrontos verbais entre os candidatos reformistas e conservadores sobre a economia e as liberdades pessoais.

Os frequentes discursos dos seis candidatos na imprensa e sua promoção em redes sociais contrasta com a escassa propaganda nas ruas, que a apenas uma semana das eleições estão quase vazias de cartazes.

A concorrência real nas eleições presidenciais do próximo dia 19 de maio é entre o atual presidente, Hassan Rohani, e os conservadores Mohammad Bagher Ghalibaf, prefeito de Teerã, e Ebrahim Raisi, custodio da fundação do mausoléu do imame Reza em Mashad.

Os eleitores de Rohani, com um perfil jovem e urbano, desejam maiores liberdades: "Que viva a reforma, perdure Khatami (líder dos reformistas e reconhecido como um opositor pelo sistema)" ou "Nem juiz, nem general, um governo que respeite a lei", em alusão aos dois principais rivais conservadores, são alguns de suas lemas.

Por sua vez, a campanha do atual prefeito de Teerã se apoia no tema da economia e, com uma mensagem populista, promete criar cinco milhões de empregos e aumentar os subsídios, porque diz representar 96% da população, frente ao governo "de 4% de ricos" de Rohani.

Já Raisi optou pela bandeira do Irã como símbolo e também critica o desempenho econômico do governo de Rohani com seu próprio slogan: "Trabalho e dignidade, mudanças a favor do povo".

O clérigo conta em sua campanha com alguns ministros do gabinete do ex-presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), como meio de atrair o voto dos setores mais rigoristas.

Além dos citados candidatos, concorrem às eleições, mas com chances muito reduzidas, o primeiro vice-presidente de Rohani, Eshaq Jahangiri, e os ex-ministros Mostafa Hashemitaba e Mostaba Mirsalim, de tendência reformista e conservadora, respectivamente.

Esta divisão entre conservadores e reformistas, as principais correntes políticas do Irã, foi evidente nos debates televisionados, onde em quase toda pergunta os três candidatos conservadores se apoiaram e criticaram em uníssono os programas de Rohani.

O duelo foi especialmente forte entre Rohani, com o apoio de Jahangiri, e Ghalibaf.

O presidente chegou a tachar Ghalibaf como "mentiroso", e o vice-presidente o acusou de contar entre os membros de sua campanha com alguns dos que atacaram no ano passado duas sedes diplomáticas da Arábia Saudita.

Se dirigindo a Rohani, Ghalibaf contra-atacou: "Todos viram que o senhor disse 'vou fazer uma evolução econômica em 100 dias', mas depois, quando lhe perguntaram a respeito, afirmou que 'quem diz coisa semelhante não tem cabeça".

Em seus comícios, Ghalibaf também apontou que "se Rohani estivesse entre as pessoas ao invés de falar da boa situação econômica com estatísticas em papel, ouviria que as pessoas perguntam: Pra que tanto lema? Pra que tanta promessa?".

O crescimento econômico do Irã foi de 8% no ano passado, e a inflação é uma cifra de um dígito em relação aos 40% que Rohani encontrou ao chegar à presidência, mas o desemprego subiu dois pontos percentuais, para 12%, e afeta um terço dos jovens.

Rohani defendeu com afinco o desempenho econômico de seu primeiro mandato, mas, sabedor do desencanto entre certos setores sociais, optou também na metade da campanha por infundir medo sobre o possível corte de liberdades no país no caso de vitória de seus rivais conservadores.

"O povo deve escolher entre um governo totalitário ou um que promova as liberdades e as pessoas voltarão a dizer 'não' àqueles que só sabem como executar ou encarcerar", foi uma das fortes frases pronunciadas pelo presidente em referência a Raisi e Ghalibaf, com uma ampla carreira na judicatura e nos órgãos de segurança.

A confrontação chegou a tal ponto que o ministro de Inteligência, Mahmoud Alavi, teve que instar os candidatos a "evitar métodos imorais" na campanha.

Segundo Alavi, foram confiscadas milhares de camisas com slogans contra Rohani que certas pessoas pretendiam usar em enfrentamentos fictícios com apoiadores do presidente para depois publicar os vídeos na internet. EFE

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