Sandra Lindsay, enfermeira em Long Island, na cidade de Nova York, foi uma das primeiras vacinadas nos EUA: vacinação no país começou nesta segunda-feira com vacinas da Pfizer/BioNTech (Mark Lennihan/Pool via REUTERS/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 12h30.
Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 12h32.
Desigualdades no acesso às vacinas contra a Covid-19 geram preocupação de que a transmissão contínua do coronavírus criará versões mais perigosas do patógeno, o que enfraqueceria o arsenal médico e prejudicaria ainda mais as economias.
Na corrida para acompanhar as novas variantes do coronavírus, países ricos já se beneficiam de vacinas potentes. Enquanto EUA, Reino Unido e União Europeia administraram cerca de 24 milhões de doses até agora - mais da metade das vacinas administradas globalmente -, um grande número de países ainda não começou suas campanhas.
Disparidades na imunidade representam uma ameaça tanto para estados ricos quanto pobres. Permitir que o coronavírus continue se propagando e gerando novas cepas teria consequências econômicas e de saúde pública significativas, quando o número de mortos ultrapassa 2 milhões.
“Não podemos deixar partes do mundo sem acesso às vacinas, porque isso simplesmente vai voltar para nós”, disse Charlie Weller, responsável por vacinas da fundação de pesquisa em saúde Wellcome. “Isso coloca todo mundo em risco.”
Os países contam com imunizações eficazes para salvar vidas e recuperar empresas. A projeção de crescimento do Banco Mundial de 4% neste ano depende da distribuição generalizada de vacinas. O aumento de casos de Covid e o atraso na entrega dos imunizantes, no entanto, podem limitar a expansão a apenas 1,6%.
Países de alta renda garantiram 85% da vacina da Pfizer e todas da Moderna, segundo a empresa de pesquisa Airfinity, com sede em Londres. Grande parte do mundo contará com a farmacêutica britânica AstraZeneca, cuja vacina é mais barata e mais fácil de distribuir, juntamente com outros fabricantes, como a chinesa Sinovac Biotech.
Pelo menos 49 países de renda mais alta estão administrando vacinas contra a Covid, em comparação com o registro das primeiras 25 doses de uma nação de renda mais baixa, de acordo com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Não são 25 milhões. Não são 25 mil. Apenas 25.”, disse em reunião na segunda-feira. Um número crescente de países tem acelerado seus próprios acordos de fornecimento, além de participar da iniciativa global Covax.
A urgência aumenta quando a pandemia entra no segundo ano. Novas variantes que apareceram no Reino Unido, África do Sul e Brasil parecem se espalhar muito mais rápido do que as versões anteriores. No último mês, uma “nova dimensão de risco se abriu para o mundo”, disse Rajeev Venkayya, presidente da unidade de vacinas da Takeda Pharmaceutical.
A redução de mortes e doenças tem sido vista como o principal fator da entrega rápida de vacinas, disse Venkayya, que trabalhou no governo de George W. Bush para desenvolver um plano de gripe pandêmica dos EUA e em entrega de vacinas para a Fundação Gates.
“Agora entendemos que também é muito, muito importante controlar a transmissão”, disse, “não apenas para proteger as populações mais vulneráveis, mas também para reduzir o risco evolutivo associado a este vírus.”
Embora não haja evidências indicando que a safra atual de vacinas seja ineficaz contra essas variantes, os mutantes futuros podem ser menos responsivos, disse Weller, da Wellcome.
Farmacêuticas dizem que podem ajustar suas vacinas para combater novas variantes em semanas, se necessário. A probabilidade de que tais adaptações sejam necessárias aumentou, disse Venkayya.
As vacinas da Covid foram testadas quanto à capacidade de prevenir sintomas, não a transmissão. Ainda assim, o desempenho em ensaios clínicos dá uma indicação de quão eficazes podem ser contra a propagação.
A Covax garantiu o acesso a quase 2 bilhões de doses, com entregas previstas para começar no primeiro trimestre, e estabeleceu uma meta de vacinação de até 20% da população dos países até o final do ano. A meta está muito aquém dos níveis de dois terços ou mais que muitas nações almejam. Alguns podem não receber as vacinas antes de 2024, estimam pesquisadores.