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Desigualdade de San Francisco rouba atenção de Wall Street

Preocupação com a crescente brecha entre os americanos mais ricos e os mais pobres está entrando em erupção na cidad

San Francisco: fluxo de novos milionários surgidos das empresas dot.com está encarecendo os aluguéis e as propriedades, deixando as moradias acessíveis fora de alcance (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2014 às 22h15.

San Francisco - O epicentro do debate sobre a desigualdade da renda deslocou-se 4.180 quilômetros para o oeste, de Wall Street para Market Street.

Sejam os manifestantes que almejam a nova sede da Twitter em San Francisco e os ônibus da Google, sejam as críticas contra esses agitadores feitas pelo ex-investidor de capital de riscos Tom Perkins, a indústria de tecnologia da Área da Baía está atraindo o tipo de atenção frequentemente reservado à elite endinheirada de Nova York.

A preocupação com a crescente brecha entre os americanos mais ricos e os mais pobres está entrando em erupção em San Francisco, onde um fluxo de novos milionários surgidos das empresas dot.com está encarecendo os aluguéis e as propriedades, deixando as moradias acessíveis fora de alcance. A fúria contra a desigualdade espalhou-se para as ruas, onde os manifestantes bloquearam os ônibus que transportam funcionários da Google, quebrando a janela de um em Oakland.

“Todos os booms têm seus vencedores e perdedores”, disse John Elberling, vice-presidente executivo da Todco, uma construtora de moradias acessíveis sediada em San Francisco. “Mesmo com um bom emprego, é muito provável que a pessoa não possa comprar um lugar na cidade”.

Em se falando de empregos, San Francisco sobressai. Enquanto a taxa de desemprego da cidade de Nova York está atolada em cerca de 8 por cento, contribuindo para o escrutínio sobre as opulentas bonificações de Wall Street dois anos depois do movimento Occupy, a taxa de desemprego na área de San Francisco caiu para o recorde de baixa de 4,6 por cento no mês passado, comparada a 6,1 por cento há um ano, segundo dados preliminares do Departamento de Desenvolvimento do Emprego da Califórnia.

Nem todos os empregos nascem iguais, e alguns residentes sentem que a tradição progressista da cidade está ameaçada, pois aqueles que não fazem parte da indústria da tecnologia não podem pagar os preços. Trulia, um site de listas de bens imóveis, disse que somente 14 por cento das casas à venda em San Francisco eram acessíveis para a classe média. Os preços subiram 13 por cento no mês passado, para uma mediana de US$ 813.000, disse a DataQuick em 15 de janeiro. Aproximadamente 6.400 habitantes são sem-teto, disse a Agência de Serviços Humanos da cidade em um relatório bienal publicado em junho.


Riqueza ressentida

O fato permitiu que as companhias de tecnologia virassem alvo de críticas.

A Google, a Apple e a Facebook são algumas das companhias atacadas por levarem seus funcionários de ônibus de San Francisco para suas sedes no Vale do Silício. Os moradores reclamam que os ônibus congestionam as ruas da cidade e utilizam pontos do transporte público. Em dezembro, um grupo de empresas de tecnologia concordou em pagar à cidade uma taxa diária pelo uso dos pontos existentes.

A rejeição causou a ira dos membros da comunidade da tecnologia, incluindo Bryan Goldberg, fundador do serviço de notícias esportivas Bleacher Report, que escreveu um artigo satírico no seu blog neste mês em defesa dos trabalhadores do setor, e Perkins, o ex-investidor de capital de risco, que escreveu uma carta no Wall Street Journal em 25 de janeiro onde comparava o tratamento dispensado aos americanos mais ricos com a perseguição dos judeus na Alemanha nazista.

Os comentários de Perkins

Os comentários de Perkins levaram sua antiga companhia de capital de riscos, a Kleiner Perkins Caufield Byers, a repudiar seu cofundador, e a investidores de capitais de riscos como Marc Andreessen a criticá-lo abertamente. Ontem, em uma entrevista à Bloomberg Television, o pioneiro do capital de risco se desculpou por usar na sua carta a palavra Kristallnacht, uma noite de 1938 em que os nazistas coordenaram ataques contra judeus.

Hans Johnson, pesquisador da organização sem fins de lucro Public Policy Institute of California, em San Francisco, disse que o sucesso da cidade no combate ao desemprego teve a consequência involuntária de aprofundar seus problemas de moradia.

“A demanda aumentou dramaticamente, pois a economia se recuperou fortemente, recuperação liderada pelos aumentos na tecnologia”, disse Johnson. “Quando as pessoas se frustram e procuram um bode expiatório a sua volta, elas veem os funcionários e a indústria da tecnologia”.

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Sejam os manifestantes que almejam a nova sede da Twitter em San Francisco e os ônibus da Google, sejam as críticas contra esses agitadores feitas pelo ex-investidor de capital de riscos Tom Perkins, a indústria de tecnologia da Área da Baía está atraindo o tipo de atenção frequentemente reservado à elite endinheirada de Nova York.

A preocupação com a crescente brecha entre os americanos mais ricos e os mais pobres está entrando em erupção em San Francisco, onde um fluxo de novos milionários surgidos das empresas dot.com está encarecendo os aluguéis e as propriedades, deixando as moradias acessíveis fora de alcance. A fúria contra a desigualdade espalhou-se para as ruas, onde os manifestantes bloquearam os ônibus que transportam funcionários da Google, quebrando a janela de um em Oakland.

“Todos os booms têm seus vencedores e perdedores”, disse John Elberling, vice-presidente executivo da Todco, uma construtora de moradias acessíveis sediada em San Francisco. “Mesmo com um bom emprego, é muito provável que a pessoa não possa comprar um lugar na cidade”.

Em se falando de empregos, San Francisco sobressai. Enquanto a taxa de desemprego da cidade de Nova York está atolada em cerca de 8 por cento, contribuindo para o escrutínio sobre as opulentas bonificações de Wall Street dois anos depois do movimento Occupy, a taxa de desemprego na área de San Francisco caiu para o recorde de baixa de 4,6 por cento no mês passado, comparada a 6,1 por cento há um ano, segundo dados preliminares do Departamento de Desenvolvimento do Emprego da Califórnia.

Nem todos os empregos nascem iguais, e alguns residentes sentem que a tradição progressista da cidade está ameaçada, pois aqueles que não fazem parte da indústria da tecnologia não podem pagar os preços. Trulia, um site de listas de bens imóveis, disse que somente 14 por cento das casas à venda em San Francisco eram acessíveis para a classe média. Os preços subiram 13 por cento no mês passado, para uma mediana de US$ 813.000, disse a DataQuick em 15 de janeiro. Aproximadamente 6.400 habitantes são sem-teto, disse a Agência de Serviços Humanos da cidade em um relatório bienal publicado em junho.


Riqueza ressentida

O fato permitiu que as companhias de tecnologia virassem alvo de críticas.

A Google, a Apple e a Facebook são algumas das companhias atacadas por levarem seus funcionários de ônibus de San Francisco para suas sedes no Vale do Silício. Os moradores reclamam que os ônibus congestionam as ruas da cidade e utilizam pontos do transporte público. Em dezembro, um grupo de empresas de tecnologia concordou em pagar à cidade uma taxa diária pelo uso dos pontos existentes.

A rejeição causou a ira dos membros da comunidade da tecnologia, incluindo Bryan Goldberg, fundador do serviço de notícias esportivas Bleacher Report, que escreveu um artigo satírico no seu blog neste mês em defesa dos trabalhadores do setor, e Perkins, o ex-investidor de capital de risco, que escreveu uma carta no Wall Street Journal em 25 de janeiro onde comparava o tratamento dispensado aos americanos mais ricos com a perseguição dos judeus na Alemanha nazista.

Os comentários de Perkins

Os comentários de Perkins levaram sua antiga companhia de capital de riscos, a Kleiner Perkins Caufield Byers, a repudiar seu cofundador, e a investidores de capitais de riscos como Marc Andreessen a criticá-lo abertamente. Ontem, em uma entrevista à Bloomberg Television, o pioneiro do capital de risco se desculpou por usar na sua carta a palavra Kristallnacht, uma noite de 1938 em que os nazistas coordenaram ataques contra judeus.

Hans Johnson, pesquisador da organização sem fins de lucro Public Policy Institute of California, em San Francisco, disse que o sucesso da cidade no combate ao desemprego teve a consequência involuntária de aprofundar seus problemas de moradia.

“A demanda aumentou dramaticamente, pois a economia se recuperou fortemente, recuperação liderada pelos aumentos na tecnologia”, disse Johnson. “Quando as pessoas se frustram e procuram um bode expiatório a sua volta, elas veem os funcionários e a indústria da tecnologia”.

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