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Denúncias envolvendo paraísos fiscais ampliam crise francesa

O clima esquentou com a a revelação de que uma pessoa ligada ao presidente François Hollande é acionista de empresas "offshore" nas Ilhas Cayman


	O presidente francês François Hollande: Hollande anunciou na quarta-feira projetos de lei para moralizar a vida política, o que foi considerado insuficiente pela oposição de direita.
 (AFP / Bertrand Langlois)

O presidente francês François Hollande: Hollande anunciou na quarta-feira projetos de lei para moralizar a vida política, o que foi considerado insuficiente pela oposição de direita. (AFP / Bertrand Langlois)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 16h46.

Paris - A crise política provocada na França pelo escândalo dos paraísos fiscais se intensificou nesta quinta-feira, com a revelação de que uma pessoa ligada ao presidente François Hollande é acionista de empresas "offshore" nas Ilhas Cayman, no momento em que aumentam as pressões da oposição por mudanças no governo.

Em uma visita de Estado de dois dias ao Marrocos, François Hollande mencionou nesta quinta-feira um "choque considerável" após a acusação por fraude fiscal de Jérôme Cahuzac, ex-ministro do Orçamento, e afirmou que as autoridades "precisam continuar a moralização da vida política".

"Irei até o fim, até o fim, nestas questões, porque não tenho nada a temer", ressaltou o presidente, afirmando que "é preciso pôr um fim" aos casos que humilham a França há anos.

Depois do indiciamento de Jérôme Cahuzac, por fraude fiscal, o jornal Le Monde afirmou que o tesoureiro da campanha eleitoral do presidente, Jean-Jacques Augier, é "acionista de duas empresas offshore nas Ilhas Cayman através de seu consórcio financeiro Eurane".

"Nada disto é ilegal", declarou Augier ao jornal, afirmando que não possui conta bancária pessoal em Cayman ou investimentos pessoais diretos neste território.

Ele indicou que o presidente Hollande não tinha conhecimento de seus negócios.


Essas novas revelações, no marco de uma grande investigação sobre os paraísos fiscais realizada por uma rede de 36 meios de comunicação, podem fragilizar ainda mais o presidente Hollande, que tenta encerrar o caso de Jérôme Cahuzac e a sua conta secreta no exterior.

Hollande anunciou na quarta-feira projetos de lei para moralizar a vida política, o que foi considerado insuficiente pela oposição de direita, pela extrema-direita e pela esquerda radical.

"São cataplasmas numa perna de pau", ironizou o líder do Partido de Esquerda (esquerda radical), Jean-Luc Mélenchon.

Seguindo os passos da Frente Nacional, de extrema-direita, o líder da União por um Movimento Popular (UMP), o principal partido da oposição de direita, Jean-Francois Cope, exortou o presidente a "mudar completamente seu governo."

"A única saída é uma remodelação governamental abrangente, incluindo o primeiro-ministro, para permitir que François Hollande dê alguma serenidade ao país", disse ele.

Clima envenenado

Grande parte da imprensa francesa considera que a situação é "insustentável" para Hollande. A imprensa europeia também estima que o "tsunami político" enfraquece ainda mais o presidente francês, cuja popularidade já estava em níveis muito baixos nas pesquisas de opinião.

Para o jornal espanhol El País, Hollande "está na linha de frente das crítica, acusado de ingenuidade na melhor das hipóteses e de cumplicidade na mentira do ministro na pior das hipóteses". Já o britânico The Daily Telegraph fala de "um dos piores escândalos da história da França moderna."

François Hollande, que realiza uma visita oficial de dois dias ao Marrocos, se recusou a comentar sobre esta crise na França após sua declaração, feita imediatamente antes da viagem.


Um de seus ministros, Bernard Cazeneuve, que substituiu Cahuzac no ministério do Orçamento, minimizou o impacto do caso envolvendo o seu antecessor. "Trata-se de uma falha pessoal muito grave", mas "não um sistema de corrupção que atinge um partido, um grupo ou um Estado", disse.

No entanto, o caso continua a pesar sobre o Executivo. Acusado de ter protegido Jérôme Cahuzac, que estava sob a sua autoridade, o ministro da Economia, Pierre Moscovici, tem contestado desde terça-feira as alegações contra ele a respeito de uma atitude de tolerância ou ocultação neste caso.

Ilustração do clima envenenado que prevalece no governo, o ministro do Interior Manuel Valls declarou que, se fosse primeiro-ministro, iria sem dúvida depor um ministro que o tivesse desrespeitado.

Valls evocou as palavras de seu colega do ministério da Indústria, Arnaud Montebourg, que disse que o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault estava administrando a "França como a prefeitura de Nantes", cidade da qual Ayrault foi prefeito.

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