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Davos vê problemas e poucas respostas para o pós-crise

O Fórum Econômico Mundial chega ao fim com a constatação de que a crise internacional causou estragos profundos, agravou problemas e deixou uma série de questões complicadas e ainda sem respostas para os próximos anos. Se o risco de uma depressão e colapso sistêmico ficou para trás, não se pode dizer que existe otimismo sobre […]

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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2011 às 12h13.

O Fórum Econômico Mundial chega ao fim com a constatação de que a crise internacional causou estragos profundos, agravou problemas e deixou uma série de questões complicadas e ainda sem respostas para os próximos anos. Se o risco de uma depressão e colapso sistêmico ficou para trás, não se pode dizer que existe otimismo sobre o futuro da economia global. Depois do profundo pessimismo que dominou o evento no ano passado, o encontro de 2010 em Davos (Suíça) foi marcado pela apatia e pela percepção de que as soluções não estão prontas nem claras.

A escalada do desemprego, a recuperação frágil, os rombos nas contas públicas, os desequilíbrios cambiais, a reforma do sistema financeiro, o cerco aos bancos e o desafio de desmontar os estímulos emergenciais formam uma combinação explosiva e nada fácil de equacionar. Esses temas, que prevaleceram nos debates entre os principais nomes da economia mundial em Davos, apontam que o caminho para uma rota de crescimento mundial sustentável ainda está distante.

O risco soberano se impõe como um dos maiores entraves para a recuperação global, em razão dos déficits elevados nos países desenvolvidos, como resultado do combate à crise. O ex-ministro do Japão e atual diretor do Instituto de Pesquisas em Segurança Global, Heizo Takenaka, acredita que o aumento da dívida pública levará a um novo mergulho econômico, na forma de "W". "Nunca vimos uma expansão fiscal nesta escala na história", afirmou durante o evento. Para o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, a sustentabilidade fiscal será o grande problema dos próximos anos.

A equação fica complicada porque a recuperação ainda é frágil, já que a demanda patina e o desemprego aumenta nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, retirar os estímulos rapidamente poderia melhorar a situação fiscal dos países, mas traria o risco de nova recessão. Escolher o momento e a velocidade certos para reverter as medidas é o grande desafio dos governos, mas não existem respostas prontas para essa questão. O FMI e a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, por exemplo, acreditam que é cedo demais para desmontar o esquema emergencial.


"Os EUA estão em recuperação estatística e recessão humana", definiu o principal conselheiro econômico da Casa Branca, Lawrence Summers, em uma das frases mais comentadas no evento. Ele ressaltou que um entre cinco homens com idade entre 25 e 54 anos estão sem emprego no país e que o crescimento seguirá modesto por vários trimestres.

"Mesmo com alguma recuperação ocorrendo na produção industrial, acho que a principal questão que os países enfrentam é o aumento do desemprego", afirmou hoje o presidente do grupo Wipro Limited e copresidente do Fórum neste ano, Azim Premji, no debate de encerramento do evento.

China
Também difícil é lidar com a relação desequilibrada entre os deficitários e gastadores Estados Unidos e a superavitária e poupadora China. A questão cambial e a necessidade de valorização do yuan são discussões que não saem de cena. O vice-presidente do Banco da China, Zhu Min, diz que o país está ciente de que o crescimento baseado somente nas exportações não é sustentável e busca estimular o consumo interno. No entanto, admite que essa é uma mudança estrutural, portanto leva tempo.

O ceticismo sobre a sustentabilidade da retomada nos países desenvolvidos entra em contraste com o otimismo sobre os emergentes. Essa recuperação assimétrica foi ilustrada com o acrônimo usado para definir o formato da recuperação mundial: "LUV", a forma simplificada de "love". L para a Europa, U para os Estados Unidos e V para os emergentes. Enquanto as nações mais ricas lidam com o desemprego crescente, a China, maior emergente do mundo, se preocupa com a alta da inflação, o perigo de bolhas e o excesso de capacidade de produção.


Brasil
A participação do Brasil no Fórum Econômico Mundial ficou apagada pela ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em razão de problema de saúde. Lula teve uma crise hipertensiva na véspera da viagem a Davos, na última quarta-feira, e foi aconselhado pelos médicos a descansar em casa. A percepção do Brasil no exterior segue favorável, embora os especialistas já comecem a debater o futuro econômico no País após a eleição presidencial. De Davos, o economista Nouriel Roubini fez um alerta sobre a necessidade de reformas estruturais, como a tributária e trabalhista, algo que ficará para o próximo governo.

Após o sumiço do ano passado, os principais executivos do setor bancário voltaram a circular no Fórum Econômico Mundial e buscaram criticar a reforma proposta pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Mas o forte embate com os governos acabou deixando os figurões de Wall Street e da City londrina na defensiva, em situação desconfortável.

O discurso do presidente da França, Nicolas Sarkozy, se transformou no momento mais quente do evento, já que o presidente Lula, cotado para ser a principal atração, teve de cancelar a ida ao Fórum. Sarkozy não poupou críticas aos bancos, apoiou o plano de Obama e defendeu uma economia baseada na produção, e não na especulação. "O papel dos bancos não é especular, é analisar os riscos e dar crédito", afirmou. "Se o capitalismo financeiro deu tão errado é porque os bancos não estavam fazendo o seu trabalho."

Do lado de fora, uma provocação mostrava o descontentamento popular com a turbulência financeira. A simulação de um túmulo, coberto de flores, trazia uma lápide com a seguinte inscrição: "Davos Man, 1971 - 2010", sugerindo a morte, aos 40 anos, do Fórum símbolo do capitalismo financeiro.

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