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Culinária chinesa resgata ensinamentos de Confúcio

Reverenciado por séculos, mas criticado nas últimas décadas, Confúcio está voltando à China, desta vez na culinária

Pratos inspirados em Confúcio: "Confucius cuisine" é uma tendência de alta gastronomia chinesa (Mark Ralston/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2013 às 11h31.

Qufu - Reverenciado por séculos, mas criticado nas últimas décadas, Confúcio está voltando à China , desta vez na culinária.

A "Confucius cuisine" é uma tendência de alta gastronomia que mostra como o Partido Comunista (no poder) - que costumava considerar o sábio como uma força reacionária - o resgata na campanha moderna que o presidente Xi Jinping denomina de "soft power cultural" da China.

Um dos poucos nomes da antiguidade chinesa com reconhecimento global, o filósofo realça vínculos com os chineses que vivem fora do país e outros países asiáticos e seu nome é usado em mais de 300 Institutos Confúcio, escolas de idiomas em 90 países.

As autoridades estão "voltando atrás e encontrando certos elementos que existiam antes do século XX", "explorando Confúcio como uma marca", explica Thomas Wilson, professor da Hamilton College de Nova York.

Entre os restaurantes de Qufu, na província leste de Shandong - onde o filósofo conhecido em chinês como Kong Zi viveu entre 551 e 479 a.C. - a culinária é uma versão comestível do resgate que se tenta fazer do escritor.

"Livro das Odes e Livro dos Rituais", uma sobremesa sutilmente doce, com nome inspirado em dois clássicos de Confúcio, é apresentada como um 'livro' feito com farinha de ervilha, recoberto com nozes e salpicado com mel.

Em outro prato, rabanetes esculpidos formam árvores que refletem a frase "a comida nunca pode ser refinada demais, nem o cozimento delicado demais".

Os ensinamentos do filósofo chinês sobre a hierarquia, a ordem e a deferência tiveram forte influência nas sociedades feudais da China e da região.

Dezenas de gerações de seus descendentes viveram no vasto complexo Residência de Confúcio em Qufu, desfrutando de laços estreitos com uma sucessão de imperadores, assim como de títulos hereditários e garantias territoriais ainda maiores.


Eles costumavam oferecer a todo tipo de dignatários banquetes elaborados e desenvolveram com um tempo uma culinária sofisticada, explicam os chefs que a promovem hoje.

Mas este mundo privilegiado desapareceu no século XX, quando o Japão invadiu o país e os comunistas venceram a Guerra Civil.

Muitos descendentes de Confúcio - então na 77ª geração - deixaram Qufu e voaram para Taiwan.

Após tomar o poder, os comunistas acabaram com o confucionismo e, durante a tumultuada Revolução Cultural de 1966-76, jovens da Guarda Vermelha incitados por Mao Tsé-tung destruíram templos confucionistas assim como outros símbolos do passado, perseguindo os chefs confucionistas.

Depois que estes chefs deixaram a China continental ou faleceram, foi difícil resgatar o legado da culinária de Confúcio.

"A Revolução Cultural acabou com quase quatro gerações", lamenta Wang Xinglan, encarregado pelo ministério do Comércio por redescobrir a culinária de Confúcio nos anos 1980 e agora presidente da Associação de Pesquisas Shandong Cuisine.

Os pratos de hoje supostamente são tirados daqueles desenvolvidos durante séculos na residência de Qufu, mas abre muito espaço para interpretação entre os donos de restaurante.

"Algumas pessoas querem usar o rótulo, mas simplesmente não entendem os pratos, a cultura, a história - então, não podem fazer a comida", diz Wang.


Um casal que administra um restaurante confucionista, um dos muitos em Qufu que anunciam servir pratos tradicionais autênticos, oferece Tofu da Residência de Confúcio por 30 iuanes (US$ 4,60) e sopa de ovos por 5 iuanes.

Sua versão do "Livro das Odes e Livros dos Rituais" consiste de uma pilha de nozes amarelas, rodeada de fatias de tomate.

Descendo a rua, o luxuoso hotel Shangri-Lá - onde os pratos podem chegar a 680 iuanes - ostenta um banquete artístico de Confúcio, uma releitura do "Livro das Odes e o Livro dos Ritos", que ali consiste de uma pera entalhada com a palavra "poesia".

A sobremesa é recoberta com um tâmara lentamente cozida, semente de lótus e noz de ginkgo, salpicada de caramelo e mel de osmanto.

O professor Wilson afirma que "a primeira motivação para reviver qualquer destas coisas é o dinheiro".

"A chamada culinária de Confúcio é parte da florescente indústria turística na China", afirma.

Uma moradora de Qufu de sobrenome Li, 45 anos, que passa pelo local, rejeita o que ela considera um manobra para atrair turistas com dinheiro.

"Eles pegam uma cenoura e esculpem algo legal nisso. Mas o gosto não é bom, só é bonito", afirma.

"É para gente com dinheiro", critica.

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Qufu - Reverenciado por séculos, mas criticado nas últimas décadas, Confúcio está voltando à China , desta vez na culinária.

A "Confucius cuisine" é uma tendência de alta gastronomia que mostra como o Partido Comunista (no poder) - que costumava considerar o sábio como uma força reacionária - o resgata na campanha moderna que o presidente Xi Jinping denomina de "soft power cultural" da China.

Um dos poucos nomes da antiguidade chinesa com reconhecimento global, o filósofo realça vínculos com os chineses que vivem fora do país e outros países asiáticos e seu nome é usado em mais de 300 Institutos Confúcio, escolas de idiomas em 90 países.

As autoridades estão "voltando atrás e encontrando certos elementos que existiam antes do século XX", "explorando Confúcio como uma marca", explica Thomas Wilson, professor da Hamilton College de Nova York.

Entre os restaurantes de Qufu, na província leste de Shandong - onde o filósofo conhecido em chinês como Kong Zi viveu entre 551 e 479 a.C. - a culinária é uma versão comestível do resgate que se tenta fazer do escritor.

"Livro das Odes e Livro dos Rituais", uma sobremesa sutilmente doce, com nome inspirado em dois clássicos de Confúcio, é apresentada como um 'livro' feito com farinha de ervilha, recoberto com nozes e salpicado com mel.

Em outro prato, rabanetes esculpidos formam árvores que refletem a frase "a comida nunca pode ser refinada demais, nem o cozimento delicado demais".

Os ensinamentos do filósofo chinês sobre a hierarquia, a ordem e a deferência tiveram forte influência nas sociedades feudais da China e da região.

Dezenas de gerações de seus descendentes viveram no vasto complexo Residência de Confúcio em Qufu, desfrutando de laços estreitos com uma sucessão de imperadores, assim como de títulos hereditários e garantias territoriais ainda maiores.


Eles costumavam oferecer a todo tipo de dignatários banquetes elaborados e desenvolveram com um tempo uma culinária sofisticada, explicam os chefs que a promovem hoje.

Mas este mundo privilegiado desapareceu no século XX, quando o Japão invadiu o país e os comunistas venceram a Guerra Civil.

Muitos descendentes de Confúcio - então na 77ª geração - deixaram Qufu e voaram para Taiwan.

Após tomar o poder, os comunistas acabaram com o confucionismo e, durante a tumultuada Revolução Cultural de 1966-76, jovens da Guarda Vermelha incitados por Mao Tsé-tung destruíram templos confucionistas assim como outros símbolos do passado, perseguindo os chefs confucionistas.

Depois que estes chefs deixaram a China continental ou faleceram, foi difícil resgatar o legado da culinária de Confúcio.

"A Revolução Cultural acabou com quase quatro gerações", lamenta Wang Xinglan, encarregado pelo ministério do Comércio por redescobrir a culinária de Confúcio nos anos 1980 e agora presidente da Associação de Pesquisas Shandong Cuisine.

Os pratos de hoje supostamente são tirados daqueles desenvolvidos durante séculos na residência de Qufu, mas abre muito espaço para interpretação entre os donos de restaurante.

"Algumas pessoas querem usar o rótulo, mas simplesmente não entendem os pratos, a cultura, a história - então, não podem fazer a comida", diz Wang.


Um casal que administra um restaurante confucionista, um dos muitos em Qufu que anunciam servir pratos tradicionais autênticos, oferece Tofu da Residência de Confúcio por 30 iuanes (US$ 4,60) e sopa de ovos por 5 iuanes.

Sua versão do "Livro das Odes e Livros dos Rituais" consiste de uma pilha de nozes amarelas, rodeada de fatias de tomate.

Descendo a rua, o luxuoso hotel Shangri-Lá - onde os pratos podem chegar a 680 iuanes - ostenta um banquete artístico de Confúcio, uma releitura do "Livro das Odes e o Livro dos Ritos", que ali consiste de uma pera entalhada com a palavra "poesia".

A sobremesa é recoberta com um tâmara lentamente cozida, semente de lótus e noz de ginkgo, salpicada de caramelo e mel de osmanto.

O professor Wilson afirma que "a primeira motivação para reviver qualquer destas coisas é o dinheiro".

"A chamada culinária de Confúcio é parte da florescente indústria turística na China", afirma.

Uma moradora de Qufu de sobrenome Li, 45 anos, que passa pelo local, rejeita o que ela considera um manobra para atrair turistas com dinheiro.

"Eles pegam uma cenoura e esculpem algo legal nisso. Mas o gosto não é bom, só é bonito", afirma.

"É para gente com dinheiro", critica.

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