Raúl Castro: como era esperado, não houve nenhuma alusão à morte do opositor cubano Oswaldo Payá, que morreu em um acidente de trânsito no último domingo (Adalberto Roque/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2012 às 17h14.
Havana - O presidente de Cuba, Raúl Castro, voltou a propor aos Estados Unidos nesta quinta-feira um diálogo sobre tudo, inclusive sobre direitos humanos, porém em igualdade de condições, durante um improvisado discurso que fechou os atos pelo "Dia da Rebeldia Nacional" na província leste de Guantánamo.
Vestido com seu uniforme verde-oliva, Castro comandou a comemoração e rompeu seu silêncio dos últimos dois anos no evento ao subir na tribuna para falar, entre brincadeiras, sobre assuntos da economia interna e da disputa política entre a ilha e os EUA.
"O dia que quiserem, a mesa está servida. Já disse pelos canais diplomáticos correntes. Se querem discutir, discutiremos", disse Raúl Castro em referência à sua disposição de conversar com Washington sobre todos os assuntos, inclusive a liberdade de imprensa e os direitos humanos.
Mas, como também fez em outras ocasiões, o líder cubano especificou que deve ser um diálogo em igualdade de condições porque a ilha não é nem colônia nem um país submisso.
Além disso, denunciou as "facções" que, amparadas por Washington, tentam criar em Cuba bases "para que um dia aqui aconteça o que aconteceu na Líbia ou o que pretendem fazer com a Síria", e acrescentou que se os EUA querem "confronto" com a ilha "que seja apenas com a bola (beisebol) ou em qualquer tipo de esporte".
As palavras de Raúl Castro vieram depois que o primeiro vice-presidente de Cuba, José Ramón Machado Ventura, pronunciou o discurso principal do ato, quando denunciou que os Estados Unidos violam o direito internacional por manter uma base em Guantánamo, no extremo leste da ilha.
Machado Ventura, a quem o general Castro delega os discursos pelo "Dia da Rebeldia Nacional" desde 2010, ressaltou que Cuba não desistirá de recuperar o território onde se encontra a base americana em Guantánamo, ocupado em virtude de um acordo que ambos países assinaram em 1903 depois que a ilha se tornou independente da Espanha.
Além do tema bilateral com Washington, Raúl Castro aproveitou o grande ato para assegurar aos cubanos que seu governo está ciente dos problemas e das "muitas dificuldades" que enfrentam, e também falou sobre polêmico assunto dos salários.
Afirmou que enquanto a produtividade não aumentar não haverá aumentos salariais em Cuba, onde a renda média mensal é de cerca de 450 pesos cubanos (aproximadamente US$ 18), embora o governo justifique esse valor com o argumento de que serviços básicos como a saúde e a educação são gratuitos e vários outros têm preços subsidiados.
"É preciso seguir adiante, no ritmo que nós, cubanos, decidimos, sem pressa mas sem descanso, pouco a pouco", declarou o presidente cubano, que já insistiu esta semana na Assembleia Nacional que as transformações econômicas impulsionadas por seu governo acontecerão sem acelerações.
Além do general Castro, altos funcionários do governo e do Partido Comunista de Cuba (governante e único), participaram ato de Guantánamo, que foi transmitido ao vivo pela televisão cubana.
Como era esperado, não houve nenhuma alusão à morte do opositor cubano Oswaldo Payá, que morreu em um acidente de trânsito no último domingo.
O "Dia da Rebeldia Nacional" é celebrado em 26 de julho e lembra o fracassado ataque aos quartéis de Moncada e Carlos Manuel de Gramados, liderado por Fidel Castro em 1953, sua primeira ação armada contra o ditador Fulgencio Batista.
Tal ação, da qual também participou Raúl Castro, é uma das datas-chave do calendário cubano porque marcou o início da revolução que no final triunfaria em janeiro de 1959.
Pouco dado a intervenções públicas e a longos discursos, Raúl Castro anunciou nesta quinta-feira entre brincadeiras que no próximo ano deixará Machado Ventura falar no Parlamento e ele mesmo vai assumir o discurso que marcará o 60º aniversário da invasão ao quartel de Moncada, que será realizado em Santiago de Cuba.