Mundo

Crise dos refugiados reabre polêmica sobre austeridade na UE

"É inconcebível que os países que se mostram mais humanos na crise dos refugiados sejam castigados por isso", declarou o ministro austríaco da Economia


	Refugiados: o ministro alemão da Economia Wolfgang Schäuble declarou que a acolhida aos refugiados é "prioridade absoluta" do governo de Angela Merkel
 (Attila Kisbenede/AFP)

Refugiados: o ministro alemão da Economia Wolfgang Schäuble declarou que a acolhida aos refugiados é "prioridade absoluta" do governo de Angela Merkel (Attila Kisbenede/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2015 às 17h31.

A Alemanha está pronta para receber um milhão dos refugiados que chegam à Europa, mas sem se afastar da ortodoxia financeira, apesar dos pedidos por maior flexibilidade de muitos dos seus sócios.

O ministro alemão da Economia Wolfgang Schäuble, encarnação da rígida austeridade durante a crise da dívida na zona do euro, declarou que a acolhida aos refugiados é "prioridade absoluta" do governo de Angela Merkel.

Schäuble deixou claro, no entanto, que essa operação, que poderá custar 10 bilhões de euros, será feita com a economia de todos os ministérios, e de nenhuma maneira por meio do endividamento e do déficit orçamentário.

"Podemos superar esse desafio, nosso país tem força para isso, nossa situação econômica é boa", declarou o ministro na semana passada ao Bundestag.

O que vale para a Alemanha deveria valer também para a Europa, e Schäuble pediu no sábado passado a seus sócios para "não usar [a crise dos imigrantes] como instrumento" para infringir as normas fiscais. "Há quem pense em se afastar dos critérios de estabilidade, mas para isso não é preciso a crise dos refugiados", ironizou.

As vozes favoráveis a uma certa flexibilidade foram ouvidas mais uma vez, vindas com mais força da Áustria - um aliado tradicional da Alemanha no receituário de ajuste - do que da França e da Itália, geralmente mais críticos com os estritos critérios defendidos por Berlim.

"É inconcebível que os países que se mostram mais humanos na crise dos refugiados sejam castigados por isso", declarou o ministro austríaco da Economia, Hans-Jörg Schelling.

Cebellina solicitou à Comissão Europeia a ativação de uma cláusula do Pacto de Estabilidade que permite, em caso de "acontecimentos excepcionais", superar o limite autorizado de 3% de déficit público.

O déficit da Áustria deve ser neste ano de 2%, segundo as previsões da última primavera boreal. Desde então, dezenas de milhares de imigrantes, da Síria e de outros países em guerra, atravessaram o território austríaco em direção à Alemanha.

Um velho debate

Schelling voltou a varrer para debaixo do tapete o velho debate, ao pedir que "os custos excepcionais sejam retirados do cálculo do déficit estrutural" do país.

A Itália defende há anos que seja excluída desse cálculo uma série de tópicos, como o de investimentos. A crise dos imigrantes lhe permitiu ressuscitar a discussão.

"A Itália é um dos países que mais gasta para enfrentar essa tragédia humanitária", lembrou o ministro da Economia Pier Carlo Padoan, que acha que separar esses gastos do resto da contabilidade se transformou "em uma urgência realmente europeia".

A discussão também provocou polêmicas na Bélgica e na Irlanda. Luxemburgo, que exerce a presidência semestral da UE, pediu à Comissão de Bruxelas que "analise" o assunto.

Bruxelas, até agora, se abstém de tomar partido. A Comissão "aplicará as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (...) considerando o conjunto dos fatores", declarou o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici.

"Capacidade de ação"

A Alemanha quer um acordo político para que todos os países aceitem cotas de refugiados, antes de falar em dinheiro.

Schäuble, convencido de que a união monetária depende da disciplina fiscal, teme que qualquer gesto de desprendimento tenha um efeito dominó na zona do euro.

Também há uma preocupação de que o desvio da ortodoxia dê argumentos aos Estados regionais (Länder) alemães, enquanto a Baviera pede a flexibilização da sagrada regra orçamentária, que impõe o equilíbrio.

Merkel concorda com seu ministro. "O caminho que tomamos já mostrou sua eficácia e graças às economias feitas até agora a Alemanha hoje tem capacidade de ação para enfrentar a crise dos refugiados", declarou a chanceler.

Acompanhe tudo sobre:EuropaRefugiadosUnião Europeia

Mais de Mundo

Legisladores democratas aumentam pressão para que Biden desista da reeleição

Entenda como seria o processo para substituir Joe Biden como candidato democrata

Chefe de campanha admite que Biden perdeu apoio, mas que continuará na disputa eleitoral

Biden anuncia que retomará seus eventos de campanha na próxima semana

Mais na Exame