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Crise dos óvnis indica novo patamar da guerra fria entre China e EUA

Analistas e autoridades temem que o episódio leve cada vez mais desconfiança em um relacionamento já tenso

Bandeira dos Estados Unidos na China: temor é de que relação entre potências fique mais estremecida após episódio (Thomas Peter-Pool/Getty Images)

Bandeira dos Estados Unidos na China: temor é de que relação entre potências fique mais estremecida após episódio (Thomas Peter-Pool/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 19 de fevereiro de 2023 às 17h42.

O balão chinês que sobrevoou o território americano por três dias antes de ser abatido no dia 4 deste mês - e os outros dispositivos derrubados nos dias seguintes - são prova da crescente indisposição diplomática entre os Estados Unidos e a China. A desconfiança que sempre permeou as relações entre os países está se transformando em uma disputa entre dois poderes com cada um certo de que o outro está empenhado em frustrar as ambições e interesses do rival.

O Departamento de Defesa dos EUA confirmou na semana passada que o balão espião chinês que foi derrubado na costa da Carolina do Sul no início de fevereiro deveria originalmente conduzir vigilância sobre as bases militares dos EUA em Guam e no Havaí, mas os ventos o desviaram do curso para o Alasca, Canadá e finalmente para os Estados Unidos.

Os ataques verbais que vieram depois incomodaram Pequim. Na segunda feira, o Ministro das Relações Exteriores da China alegou que os EUA teriam enviado pelo menos 10 balões não autorizados que invadiram o espaço aéreo chinês desde o ano passado. "Os EUA deveriam primeiro pensar nas próprias ações e mudar de comportamento em vez de difamar, desacreditar ou incitar confrontos", disse Wang Wenbin, porta-voz do ministério.

Analistas e autoridades americanas temem que o episódio leve cada vez mais desconfiança em um relacionamento já tenso - ou até mesmo a um conflito armado. "Quando a opinião pública de que o outro país é um inimigo se solidifica", diz Yuen Yuen Ang, estudiosa da China na Universidade Johns Hopkins, "se torna cada vez mais difícil para os líderes suavizarem suas posições e estabilizar as relações".

Novo programa

Pequim pode estar desenvolvendo o programa para complementar sua coleta de inteligência por satélites, dizem autoridades americanas. "Eles têm 260 satélites de inteligência em órbita", disse John Culver, ex-analista de inteligência dos EUA na China. "(O novo programa) pode aumentar essa capacidade."

Analistas alertam para o fato de as atuais linhas de comunicação entre militares americanos e seus colegas chineses serem pouco confiáveis. Chamadas de alto escalão em momentos de tensão ficaram sem resposta no passado recente. Além da desconfiança privada, ambos os países são sensíveis à opinião pública, e o governo Joe Biden em particular é perseguido por uma ala aguerrida da direita americana sempre disposta a apontar para as supostas concessões dele a Pequim.

Tudo isso forma um quadro pouco promissor para uma trégua. "Nesse contexto, é difícil ver como em uma potencial crise envolvendo Taiwan os dois lados poderiam encontrar espaço para um recuo", escreveu David Sacks, do Council on Foreign Relations. Para Lyle Morris, pesquisador sênior do Asia Society Policy Institute, o ambiente é de "hostilidade e desconfiança". "As coisas podem começar a piorar rapidamente."

Seja qual for a profundidade das tensões políticas, os números da economia apontam para uma realidade diferente. O comércio bilateral alcançou um recorde de US$ 690 bilhões em 2022, refletindo o forte elo econômico entre as potências. "É clara a necessidade de ambas as potências colaborarem. Mas o estado das relações é tão desanimador que o verdadeiro teste para ambas lideranças será evitar uma catástrofe", escreveu Jude Blanchette especialista em China do Center for Strategic and International Studies, em Washington. (Com agências internacionais).

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