Crise da dívida na Venezuela pode impulsionar poder de Maduro
Isso porque o presidente anunciou na última sexta-feira (3) planos de convocar credores para negociar uma reestruturação da dívida externa do país
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de novembro de 2017 às 06h39.
Caracas - Um iminente default de dívida da Venezuela , visto há muito tempo como catastrófico para a economia local, pode dar um impulso político vital para o presidente Nicolás Maduro e ajudá-lo a consolidar o poder no curto prazo, antes de duas eleições cruciais, disseram investidores e economistas.
Maduro anunciou na última sexta-feira (3) planos de convocar credores em Caracas no dia 13 de novembro para negociar uma reestruturação da dívida externa do país, estimada entre US$ 100 bilhões e US$ 150 bilhões.
No entanto, os investidores indicaram que as sanções dos EUA que restringem as instituições financeiras de investir em novos instrumentos de dívida emitidos pelo governo venezuelano tornam improvável um acordo, o que deve provocar um default incomum e prolongado.
Ao interromper os pagamentos de dívida, Maduro poderia dobrar os fundos que destina para as importações no próximo ano, segurando cerca de US$ 1,7 bilhão em pagamentos de juros de títulos devidos no restante de 2017 e outros de US$ 9 bilhões em 2018, de acordo com o Eurasia Group.
Essa interrupção ofereceria um alívio, ainda que breve, para uma economia dependente de petróleo e que está em queda acelerada, atormentada pela inflação galopante e com crônica falta de alimentos.
"Maduro está somando números para as eleições presidenciais no próximo ano e está tentando ver como aumentar as importações", disse Alejandro Grisanti, economista da consultoria Ecoanalítica, com sede em Caracas.
Um default daria ao líder esquerdista uma janela de seis a nove meses para tentar aliviar a escassez que empurrou a Venezuela ao limite de um desastre humanitário, de acordo com Grisanti.
Ao mesmo tempo, as sanções dos EUA que proíbem os detentores de títulos de renegociar a dívida com o governo venezuelano permitirão a Maduro reunir seus partidários do Partido Socialista e desviar a culpa pelos problemas do país, colocando-a em seus rivais ideológicos de Washington, disseram os analistas da consultoria Teneo Intelligence.
"Politicamente, o momento não é uma coincidência", disse John Polga, professor de estudos da América Latina na US Naval Academy, em Maryland. "Se eles podem usar algum dinheiro extra e uma retórica nacionalista para aumentar a aprovação para 30%-35%, de repente, ele poderia ganhar as eleições presidenciais", disse.
Isso pode ser apenas uma pausa temporária antes de os investidores começarem a atacar as remessas de petróleo da Venezuela e os recursos externos buscando compensação. Mas Maduro tem poucas outras opções enquanto tenta manter vivo o movimento revolucionário que herdou de seu mentor e antecessor, o falecido Hugo Chávez.
O Fundo Monetário Internacional espera que a economia diminua 12% e 6% em 2017 e 2018, respectivamente, enquanto a inflação supera 1.000%.
As sanções dos EUA, a corrupção desenfreada na Venezuela, a escalada da dívida e os diferentes tipos de credores devem contribuir para uma reestruturação caótica ou a inadimplência.
"Este será o default mais corrupto, caótico e desordenado na história dos defaults", disse Moisés Naím, um membro da Carnegie Endowment for International Peace em Washington. Ele disse que a Venezuela não será salva pelos aliados chineses ou russos. Em vez disso, estes devem contribuir para complicar as negociações. "Eles serão outro fator no caos, tentarão se colocar na linha de frente para cobrar suas dívidas", disse.
Durante anos, o governo venezuelano disse que continuaria pagando dívidas, mesmo depois que o país reduziu drasticamente as importações e a falta de recursos generalizou a desnutrição. Na sexta-feira, no entanto, Maduro mudou o tom, sugerindo que se arrependeu de ter enviado dinheiro para pagar Wall Street quando este poderia ter sido usado em casa.
Fonte: Dow Jones Newswires