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Crianças-soldado, realidade no conflito oculto da Tailândia

Crianças que limpam armas e combatem ao lado de insurgentes muçulmanos são uma realidade em um conflito interno no sul da Tailândia


	Soldados na Tailândia: na última década, mais de 6 mil pessoas morreram no conflito
 (Erik De Castro/Reuters)

Soldados na Tailândia: na última década, mais de 6 mil pessoas morreram no conflito (Erik De Castro/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2014 às 10h15.

Bangcoc - Crianças que limpam armas e cobrem o turno da noite em postos de segurança no sul da Tailândia e menores que combatem ao lado de insurgentes muçulmanos são uma realidade em um conflito interno no sul do país que já custou mais de 6.000 vidas na última década.

Desde 2004, quando aumentou a violência nas três províncias mais ao sul da Tailândia (Pattani, Yala e Narathiwat), os sucessivos governos tentam tratar o problema como um assunto de segurança interna e afastá-lo dos meios de comunicação.

"A Tailândia sequer classifica como conflito, mas afirma ser um distúrbio (...) Se aceitasse a realidade, as ONGs poderiam oferecer maior proteção aos civis e às pessoas inocentes", afirmou à Agência Efe Angkhana Neelapaijit, fundadora da organização Fundação Justiça pela Paz (JPF, na sigla em inglês).

Cerca de dez grupos separatistas dessas províncias denunciam a discriminação que a região sofre por parte do governo central e exigem a união das três - cuja maioria da população é muçulmana em um país predominantemente budista - para criar um Estado islâmico independente.

Para combater os insurgentes, o exército estabeleceu em 1985 as Milícias de Defesa Local, conhecidas como "Chor Ror Bor", às quais fornece armas e promove treinamentos que raramente passam de uma semana.

"Armas são dadas aos aldeões para que se protejam, sem pensar nos resultados. Eles sabem como utilizar uma pistola ou uma espingarda, mas suas atitudes não costumam ser corretas", ressaltou Angkhana.

A maior parte dos voluntários que recebe por volta de 20.000 bahts ao mês (R$ 1,5 mil) é idosa e delega a seus filhos ou netos, em muitos casos menores de idade, o turno noturno.

"As crianças ficam orgulhosas ao poder usar as armas para proteger suas famílias ou ajudar, muitas vezes limpando as armas, os grupos de Defesa Civil (...) em determinada ocasião encontramos um menino de 8 anos capaz de manejar pistolas automáticas e rifles M-16 e AK 47", declarou ativista.

Em 2010, a JPF realizou estudo em 19 aldeias do sul do país afetadas pelo conflito e descobriu que em 13 delas crianças entre 9 e 17 anos eram utilizadas em tarefas militares, treinadas com armas e incluídas nas patrulhas feitas pelas milícias locais.

"Apesar de as autoridades terem tomado conhecimento sobre o relatório e implantado uma nova regulação, ainda encontramos casos de menores fazendo vigília no turno da noite ou acompanhando o Chor Ror Bor em suas missões", denunciou a fundadora da organização pró-direitos humanos.

Para as Nações Unidas, as crianças associadas a um grupo armado não só fazem parte direta dos combates, como são definidas como crianças-soldado, menores de 18 anos que realizam funções de apoio, como mensageiros.

O departamento de Comunicação do Ministério da Defesa tailandês alegou que o exército nunca utilizou menores.

"A Tailândia nunca teve crianças-soldado. Para ser recruta é necessário ter pelo menos 21 anos, como estabelecido pela Constituição", disse à Efe o porta-voz do departamento de Operações Internas, Thandej Norashing.

Além da utilização de menores pelas milícias de autodefesa apoiadas pelo governo, os insurgentes também "frequentemente" usam crianças-soldado para sua causa, segundo o porta-voz.

"Muitos menores entram no movimento ao terminar os estudos islâmicos", declarou o ativista, para quem as autoridades encobrem a morte de menores durante os combates contra tropas do governo.

Os ataques com armas leves, assassinatos e atentados com explosivos se repetem quase diariamente nesta região de maioria muçulmana e etnia malaia, apesar do atuação de cerca de 40.000 soldados das forças de segurança e a vigência do estado de exceção.

Todas as abordagens para selar um cessar-fogo entre o exército e os rebeldes foram em vão.

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